O Juncal Jazz, que acontecerá nos dias 3, 10 e 17 de Março, na vila do Juncal, Porto de Mós, é o mais recente festival de música da região. E tudo começou por causa de um sonho, há muito adiado, de Paulo Sousa.
Empresário e apreciador de jazz, tinha uma ideia que não lhe saía da cabeça. Queria criar um festival, que evocasse a alma dos inícios desse estilo musical nos Estados Unidos da América. A ideia andou às voltas na sua cabeça durante anos, umas vezes adormecia, outras, fazia-se anunciar como uma banda de dixie, acompanhada por toda a parafernália de metais de uma Big Band.
A ideia incendiava-lhe a mente, mas a oportunidade para organizar o festival era mais fugidia do que um gambuzino. Até que, em conversa com Pedro Santos, o banjo e voz da banda Desbundixie, natural da freguesia vizinha de Calvaria de Cima este lhe garantiu que o apoiaria e ajudaria a compor uma programação.
A possibilidade de ter um evento com música, para verdadeiros apreciadores, numa vila, que não é a maior do concelho, começava a ganhar forma e força. "Nos negócios e na guerra, é preciso ter-se e ir atrás da iniciativa, onde quer que ela esteja", diz Paulo Sousa.
Sentido-se mais confiante por ter o apoio de um músico do jazz, abordou e confessou o seu sonho a João Ferreira que além de presidente da Junta de Freguesia do Juncal, é também o presidente da União Recreativa e Desportiva Juncalense (URDJ).
Este também ficou entusiasmado com a perspectiva de ouvir saxofones, clarinetes e até banjos, na sede da associação. Estava ali o pendor marcadamente cultural que faltava à URDJ e, por isso, deu-lhe carta branca para organizar o I Juncal Jazz.
"Estamos muito vocacionados para a parte desportiva, mas quando o Paulo chegou com esta ideia e após ponderarmos algumas situações, resolveu-se avançar. Fomos pioneiros. A ideia surgiu nesta vila e não quisemos perder a oportunidade", refere o autarca que, desde que o trabalho começou, tornou-se num fã de jazz.
Desde há séculos que o Juncal conta com uma presença cultural na vida do concelho. Aliás, aquela foi a vila que deu a Portugal a célebre Faiança do Juncal, muito apreciada em casas nobres, além de, há muito, ser lar de grupos de teatro.
"Aqui havia, regularmente, artes de palco, aos fins-de-semana, quando nem sequer na sede do distrito havia", recorda Paulo Sousa, afirmando que gostava que o jazz, no futuro, passasse a ser mais uma referência e imagem de marca da terra.
Como os apoios nunca são de mais, o mentor da ideia foi "bater à porta" do presidente da Câmara, Jorge Vala, para saber se poderia ter, pelo menos, o apoio institucional daquela autarquia. A resposta também foi positiva.
Com um orçamento curto de três mil euros e mesmo com auxílio da autarquia, a equipa da organização tem avançado com dinheiro do próprio bolso para fazer frente a algumas despesas. "Gostaríamos que, no final, sobrassem 100 euros, dos bilhetes, para o clube. Seria o nosso contributo para a URDJ", diz com um sorriso, o empresário.
[LER_MAIS] O passo seguinte foi o recrutamento de uma equipa de jovens apreciadores de música, dispostos a colaborar, com o seu trabalho, tempo e suor na organização do evento. "Somos uma dezena de pessoas, com idades entre os 20 e os 40 anos… e metemos o acelerador a fundo."
O Juncal Jazz foi pensado para agradar a dois tipos de público: aos curiosos que nunca tiveram contacto com o estilo e aos apreciadores que sentem falta de um evento musical nos primeiros meses do ano. "Havia um buraco na agenda do jazz na região e nós quisemos aproveitá-lo e dar oportunidade a essas pessoas de começarem a ir ao Juncal. A organização foi feita um pouco a correr, mas era essencial aproveitar o 'buraco'", sublinha João Ferreira.
À primeira vista a sala da URDJ não parece a melhor salado planeta para um evento de jazz, contudo, para os organizadores, o que "lhe falta para ser perfeito" é o seu “maior traço de personalidade”.
"O jazz é para ser ouvido num sítio boémio… onde se jogue cartas, se for preciso! No advento do estilo, os afro-americanos, que o criaram,nem sequer podiam entrar com a sua música nas boas salas de espectáculos", lembra Paulo Sousa. O I Juncal Jazz tem o apoio do JORNAL DE LEIRIA.
Desbundixie, Cláudia Franco e Diogo Duque
Do programa constam nomes como a banda dixie, talvez o mais conhecido de estilo jazz, Desbundixie, que irá abrir o evento já no sábado, dia 3, isto porque esta primeira edição pretende apresentar um alinhamento onde o passado, o presente e o futuro se congregam. No primeiro concerto, serão, por isso, abordados os primórdios do jazz até à Nova Orleães do início do século XX.
No dia 10, Cláudia Franco, natural de Porto de Mós e antiga aluno do Instituto Educativo do Juncal, levará à vila a sua inspiração na dança e nas vozes do jazz com o projecto Prismas. "Já temos bastantes reservas para essa noite", assegura o mentor do festival.
O encerramento, no dia 17, dará um salto ao futuro do Jazz com um combo de alunos do curso de instrumentista de jazz da OFA de Montemor-o-Novo, e com Diogo Duque, um dos trompetistas mais versáteis da sua geração. Durante os concertos, Nuno Viegas, artista plástico conhecido por Dom Nuno Viegas, ilustrará ao vivo, com recurso a multimédia, os artistas e os espectáculos.