Foi há precisamente duas décadas que o futebol da União de Leiria ficou marcado pela revolução trazida por José Mourinho.
A época 2001/02 trouxe um manancial de novidades, com métodos diferentes e o célebre treino integrado à cabeça, bem como formas disruptivas de encarar atletas, adversários e comunicação social, utilizando os célebres mind games que imortalizou, depois, ao serviço do Chelsea.
No grupo de trabalho, pleno de craques como Derlei, Maciel, Tiago, Silas, Bilro, Nuno Valente e Costinha, também estavam jovens lobos formados no clube e à procura de afirmação, como Laranjeiro, Regueira, João Paulo ou Micas.
Vitórias atrás de vitórias e o quarto lugar à 19.ª jornada acabaram por reduzir a meia temporada a permanência do treinador, seduzido pelo FC Porto, mas o legado na cidade permanece, até hoje, passados 20 anos.
No balneário da equipa júnior da União de Leiria, Micas – agora Micael Pedrosa – transmite muito do que foi ouvindo ao longo da carreira de futebolista profissional, sobretudo naquele meio ano com José Mourinho que o marcou de forma primordial.
“Aprendi muita coisa com ele. Desde a metodologia, à forma de estar, à mentalidade forte e à vontade de ganhar, não ter medo de ninguém e enfrentar toda a gente olhos nos olhos”, explica o treinador da equipa sub-19.
“A metodologia, a forma como geria o balneário e conseguia impor as suas palavras no grupo de forma fácil foi o que mais me marcou”, sublinha o antigo lateral-esquerdo, que não teve muitas oportunidades com Mourinho – alinhou em duas ocasiões nessa temporada – mas não esquece o dia em que o agora líder da Roma o lançou na 1.ª Liga, frente ao Belenenses.
“Depois de acabar o jogo fui um dos selecionados para ir ao controlo anti-doping e levaram-me para uma salinha onde ninguém podia entrar. De repente, alguém bate à porta: era Mourinho. O médico avisou-o de que não podia entrar e ele respondia que só queria dar os parabéns ao seu jogador. Lá conseguiu dar-me um abraço, mas de uma forma tão eufórica que parecia que ele é que se tinha estreado na 1.ª Liga. Foi um gesto que me marcou e mostra a importância que ele dá aos seus jogadores.”
[LER_MAIS]Com uma relação deste timbre, o jogador absorvia toda a informação que o técnico passava. “Era um miúdo 20 anos e viver aquele meio ano com ele, estando na posição em que estávamos e com uma alegria enorme no balneário foi uma experiência que me fez crescer e ajudou muito a querer ser treinador.”
Além de Mourinho, a “grande referência”, Micas teve a oportunidade de trabalhar com outros treinadores de nomeada, como Vítor Pereira, José Morais e Manuel José. De todos retirou “um bocadinho” para a definição do que é hoje enquanto treinador e a forma como vê o treino e a gestão de grupo.
“Gosto que a minha equipa tenha alma, prazer a jogar e muita vontade, como se fosse o último jogo.” Adepto da “variação táctica” e da “capacidade de jogar em vários sistemas”, opta por um futebol “bastante vertical” que tenta “fazer mal ao adversário”.
É assim que os juniores da União de Leiria jogam e apesar das saídas, da falta de espaço para treinar que impede um trabalho mais detalhado e das duas derrotas com que começaram a temporada, o técnico acredita na manutenção no escalão principal.
“A época passada foi atípica por causa da pandemia e houve algumas desistências. Perdemos uma série de jogadores que tinham muita qualidade e tivemos de ir buscar alguns fora. Vai ser uma tarefa dura, mas vamos conseguir.”