O concelho de Leiria possui 3,5 médicos por mil habitantes, o pior rácio entre as 18 capitais de distrito, que está abaixo da média nacional (4,3). No pólo oposto, surge o município de Coimbra que, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre pessoal de saúde, tem nove vezes mais clínicos do que Leiria.
De acordo com os dados, Coimbra regista um rácio de 31,6 médicos por cada mil moradores – indicador que tem como referência o local de residência destes profissionais -, um valor que é quase sete vezes acima da média do País.
Rui Passadouro, presidente da Sub-Região de Leiria da Ordem dos Médicos, começa por frisar que, tal como nos restantes municípios, os dados de Leiria “referem-se a médicos residentes”, o que, nem sempre, corresponde ao número daqueles que efectivamente trabalham nas áreas onde moram.
Feita a ressalva, o dirigente reconhece que “a escassez de médicos na nossa sub-região ainda não está resolvida, quer a nível dos cuidados de saúde primários, quer a nível dos hospitais”. O representante da Ordem dos Médicos diz que, apesar da integração de novos médicos nos centros de saúde, ainda “há necessidade de recorrer a médicos aposentados, que muito têm ajudado a suprir a escassez em todas as unidades do Serviço Nacional de Saúde”.
Mesmo assim, realça, existem actualmente cerca de oito mil utentes sem médico de família só no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Pinhal Litoral, que abrange os concelhos de Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós.
[LER_MAIS] Para contrariar a dificuldade de Leiria fixar médicos ao nível dos cuidados primários, Rui Passadouro defende que é necessário apostar na criação, de forma “generalizada”, de Unidades de Saúde Familiar (USF), permitindo “uma organização da prestação de cuidados médicos em unidades modernas e com verdadeiras equipas de trabalho”.
Mas não é só ao nível dos centros de saúde que a discrepância na distribuição de médicos se faz sentir. Esta “é uma realidade” que o Centro Hospitalar de Leiria (CHL) “conhece há muito” e para a qual vem “permanentemente alertando, reivindicando da tutela os justos e adequados recursos humanos para responder às necessidades”, diz Licínio de Carvalho, administrador executivo da instituição.
O dirigente recorda que, desde 2011, o CHL alargou a sua área de influência, abrangendo actualmente uma população superior a 400 mi habitantes, em resultado da integração dos hospitais de Pombal, Alcobaça e, mais recentemente, do concelho de Ourem, que também passou a ter como unidade de referência o hospital de Leiria. Este alargamento, frisa o administrador, “trouxe maiores exigências”, mas nem sempre os recursos adequados.
Licínio de Carvalho nota que a “limitação” de recursos médicos “naturalmente que traz constrangimentos”, sendo que a “principal consequência” é a constituição de listas de espera, “o que significa restrições ao acesso aos serviços hospitalares e consequentes reclamações por atrasos e demora na resposta”.
Por isso, “o Conselho de Administração [do CHL] tem uma estratégica clara de reforço do número dos médicos e de profissionais em geral, tendo em vista melhorar o nível de serviço prestado aos cidadãos”, assegura o administrador.
O presidente da Sub-Região de Leiria da Ordem dos Médicos sublinha, no entanto, “dificuldade em recrutar médicos” para diversas especialidades, situação que, no seu entender, se deve também “ao modo como têm sido realizados os concursos de médicos a nível nacional, que tem penalizado a nossa região”.
Por outro lado, “a sobrecarga de trabalho, condicionada pela fraca capacidade de atrair médicos, penaliza ainda mais a escolha dos nossos hospitais para fazer deles um projecto de vida”, acrescenta Rui Passadouro, considerando que se trata de “um ciclo vicioso que é urgente reverter”.