Numa batalha renhida com a treinadora, tenta chegar mais perto e aposta no equilíbrio e na estratégia para vencer. Sentada numa cadeira de rodas, toda equipada de branco, com protecções e uma máscara que lhe cobre a cara, estica-se um pouco mais com a espada que tem uma mola na ponta e ri-se sempre que faz ponto na adversária.
“Tem um gostozinho especial fazer ponto à treinadora, mas também aos colegas com mais experiência”, confessa, “principalmente porque é a prova da evolução pessoal”. Com algumas limitações físicas, Sara Santos, de 21 anos, quebra barreiras ao cumprir o sonho de praticar esgrima e mostra que “tudo é possível”.
A treinar na sala de armas do estádio municipal de Leiria, no final de tarde de segunda-feira, a jovem leiriense conta orgulhosamente que estuda no Politécnico, adora o mundo da comunicação, quer ser actriz, sempre gostou de armas e é pioneira na modalidade olímpica adaptada na cidade do Lis.[LER_MAIS]
A aventura começou há cerca de meio ano, quando o clube Bairro dos Anjos lhe abriu as portas, e “a evolução é muito positiva”. “Consigo controlar muito melhor o meu braço com a espada, tenho mais equilíbrio e até já consigo marcar pontos e ganhar aos meus colegas”, explica de sorriso rasgado.
No palco desta batalha entram duas bases de fixação que foram emprestadas e duas cadeiras de rodas adaptadas, num investimento de alguns milhares de euros, que transformam a “luta de cavalheiros” acessível a todos. “A técnica muda pouco, só requer mais equilíbrio e passa a ser preciso resolver tudo com a espada porque deixa de ser possível fugir”, explica a treinadora e coordenadora da secção.
“A esgrima em cadeira de rodas já foi desenvolvida em Portugal mas neste momento está ‘morta’ e a Sara é a única atleta desta modalidade adaptada no País e é quem nos promove de uma forma mais activa porque gosta imenso e sente os benefícios”, detalha Carina Vicente, que amanhã celebra 32 anos e é uma das impulsionadoras da actividade que “quer ser acessível a todos” na região.
“Isto é a prova que não há limites e tudo se consegue”, atira Sara. Uma opinião confirmada pelo colega João Monteiro, de 16 anos, que deixou o pentatlo para se dedicar à esgrima porque “é algo que desafia, puxa pela cabeça, requer raciocínio e obriga a dar mais”.
É, como traduz a treinadora, “uma espécie de xadrez rápido onde o adversário coloca problemas para resolver rapidamente reagindo ou incentivando a uma determinada situação no jogo”.
Uma modalidade “muito física, com desafio, que mostra o respeito pelo próximo e onde há sempre algo a melhorar” que está a conquistar atletas.
O Bairro dos Anjos apostou nesta secção há quatro anos “para dar resposta à procura” e mesmo depois de um longo período marcado pela pandemia conta com cerca de 70 atletas, 25 exclusivos de esgrima e os restantes do pentatlo.
“Apesar disso ainda surgem bastantes pessoas que não sabem que há esgrima em Leiria”, lamenta a coordenadora do clube que no último mês promoveu o primeiro torneio da modalidade na cidade e uma competição internacional de pentatlo.
“Queremos acreditar que estes eventos impulsionam a esgrima e mostram que estamos cá e estamos a fazer coisas para a cidade”, conclui Carina, certa de que “são iniciativas assim que fazem crescer e dinamizar o desporto”.