As chuvas fortes que inundaram a zona baixa de Lisboa trouxeram à luz do dia, uma vez mais, o problema das construções em leito de cheia e a necessidade de preparar as cidades actuais para fenómenos extremos, que apesar de não serem novos, prevêem-se que sejam mais sistemáticos.
Ainda estão na memória de muitos, as intempéries de 2013 e de 2014 em Leiria e Pombal, quando os rios transbordaram, alagando campos agrícolas e inundando casas e empresas. A última grande cheia, ocorrida a 12 de Fevereiro de 2014, atingiu também o complexo termal de Monte Real, em Leiria, que ainda não voltou a abrir.
Os estragos provocados pelas chuvas dos últimos dias foram pontuais na região, mas o Município de Leiria não baixou a guarda e manteve a monitorização constante das zonas baixas e em leito de cheia, um problema que o presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes, afirmou ser comum ao crescimento das cidades.
“Qualquer cidade tem zonas mais sensíveis do que outras. As zonas de infiltração são cada vez menores quer em número quer em área”, disse o autarca.
A pensar no futuro e com o objectivo de prevenir cenários idênticos ao que se passou nos últimos dias em Lisboa, o Município de Leiria tem já em curso um estudo com a finalidade de criar um plano de drenagem. “Sabemos quais os locais onde existe acumulação de água sempre que há forte precipitação, o que não conhecemos é o que está por detrás. Importa caracterizar o sistema de drenagem da cidade, que é muito antigo”, afirmou Ricardo Gomes.
O vereador das obras municipais da cidade revelou ainda que em “alguns casos nem é conhecido o cadastro dessa estrutura, e dada a complexidade de todo esse sistema de drenagem houve necessidade de consultar um gabinete de projectos especializado neste tipo de estudos”.
“Foi contratada a Hidra, no início de 2021, que também esteve envolvida no estudo do plano de drenagens de Lisboa e vai caracterizar a cidade de Leiria”, acrescentou.
Segundo Ricardo Gomes, a zona em estudo é “a mais problemática”, nomeadamente “a margem esquerda do rio Lis, que inclui o caneiro, uma infra-estrutura muito antiga, e que apresenta alguns sinais de envelhecimento”.
O estudo contempla seis fases. A quarta já foi entregue à autarquia. A próxima tem como objectivo “identificar as soluções de melhoria do sistema de drenagem por forma a poder lançar um concurso para o desenvolvimento de projectos que leve a reconfigurar todo o sistema de drenagem e reabilitar algumas dessas infra-estruturas” e “dotar a cidade de um plano estratégico que possa vigorar durante várias décadas”, explicou Ricardo Gomes.
A autarquia já tem vindo a intervir nos locais onde executa trabalhos em profundidade. Gonçalo Lopes referiu que essas obras já foram realizadas, por exemplo, na Av. Nossa Senhora de Fátima, Av. Marquês de Pombal e Av. General Humberto Delgado.
O próximo passo é actuar no caneiro que se encontra na Av. Heróis de Angola e Av. Mouzinho de Albuquerque, onde estão a decorrer obras. “Este é um caneiro principal, que atravessa toda a cidade e onde existem outros pequenos caneiros ligados a ele”, sustentou Ricardo Gomes. O presidente acrescentou, contudo, que apesar do sistema de drenagem estar concluído e que permite que as águas sejam encaminhadas de maneira correcta, existem “algumas áreas que obrigam a intervenções mais profundas e são necessários estudos para identificar qual a melhor estratégia de intervenção”.
Pombal prepara bacia de retenção
No concelho de Pombal, o município tem vindo a negociar com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), desde 2016, a criação de uma bacia de retenção e amortecimento de águas para prevenir cheias, que ficará na zona do Barco, em Caseirinhos, informou Pedro Pimpão ao JORNAL DE LEIRIA.
O presidente explicou que o projecto, que está a ser desenvolvido pela APA, “está em fase de revisão”. “Já tivemos duas reuniões este ano e com esta intempérie voltámos a pressionar”, acrescentou Pedro Pimpão, revelando que a obra terá um investimento de cerca de oito milhões de euros e será candidatada ao Portugal 2030.