“Soube a reencontro de família”, diz David Bonneville, sobre a décima edição do Leiria Film Fest, que terminou na segunda-feira, 15 de Maio, com a visualização dos filmes vencedores. O realizador de O Último Banho (três Prémios Sophia, os Óscares portugueses, em 2022) destaca o ambiente “íntimo” e “caloroso” que se viveu no Teatro Miguel Franco e na zona lounge instalada no Mercado de Sant´’Ana. E, enquanto membro do júri, elogia o “nível alto” da competição, com curtas “de muita qualidade”.
Em 2023, o programa do Leiria Film Fest incluiu uma retrospectiva da obra de David Bonneville, a maior alguma vez promovida numa única sessão, pretexto para o contacto com a plateia. “Há perguntas, há comentários, é sempre um momento de reflexão”. O convívio transforma o festival de cinema numa festa que transvaza do ecrã para as conversas entre realizadores, actores, produtores e o público.
“Esta informalidade e descontracção aproxima as pessoas”, acredita Bruno Carnide, director do Leiria Film Fest, que fundou com Cátia Biscaia. Ao longo de seis dias, em sessões para escolas, sessões competitivas e sessões especiais, todas gratuitas, o total é superior a 2.900 espectadores, um recorde. O anterior máximo era de 1.100.
Na maior edição de sempre, com mais filmes, mais sessões e mais dias de programação, o crescimento dos apoios do Município e da equipa envolvida na organização encontrou correspondência e atraiu, pela primeira vez, representantes do ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual. “A aposta já ia neste caminho, os numeros só comprovam que realmente teve sucesso”. As sessões para escolas representam 1.300 espectadores.
Repetente no Leiria Film Fest, onde desta vez mostrou dois filmes, Palma e O Casaco Rosa, a realizadora Mónica Santos sinaliza o olhar que continua intacto ao fim de 10 edições, “misto de artístico com comercial”, explica. “Vejo coisas que não vejo noutros festivais, o que é bom”.
Entre os convidados, alguns vieram do estrangeiro. O realizador islandês Ívar Erik Yeoman, aluno de doutoramento em Lisboa, que concorreu com a curta de ficção Days Without, considera “precioso poder partilhar um filme com uma audiência” e “perceber como é recebido” por observadores “de diferentes países e culturas”, enquanto, por outro lado, se tem a oportunidade de “conhecer pessoas e fazer contactos”.
As actividades no museu m|i|mo esgotaram e o Leiria Film Fest contagiou também a discoteca Stereogun, durante duas noites.
“Começa a ser dificíl surpreender”, considera Bruno Carnide, que admite “repetir a fórmula” de 2023 nos próximos anos, em que “o principal objectivo será manter a coerência”.
Vencedor do Paquistão
Nas palavras do júri, “um filme incómodo, que nos corta a respiração, nos conduz pelo inferno e termina de forma desconcertante”. Oriundo do Paquistão, Murder Tongue, de Ali Sohail Jaura, é a melhor curta-metragem da décima edição do Leiria Film Fest, em que venceu, ainda, a categoria de ficção internacional.
Ice Merchants, filme de João Gonzalez nomeado aos Óscares, também arrecadou dois prémios: melhor animação nacional e prémio do público.
Os restantes premiados do Leiria Film Fest em 2023 são Ten With a Flag (de Vasco Alexandre, melhor ficção nacional), Foam Horse (de Juanjo Rueda, melhor documentário internacional), Nada Para Ver Aqui (de Nicolas Bouchez, melhor documentário nacional), Slow Light (de Katarkyna Kijek e Przemyslaw Adamski, melhor animação internacional) e Foxtale (de Alexandra Allen, Portugal, melhor curta para crianças, votada por crianças).
Os jurados (Gonçalo Almeida, David Bonneville, Álvaro Romão, Ana Vilaça, Miguel Rico, Paulo Peralta e Rita Capucho) decidiram atribuir menções honrosas a The Record (de Jonathan Laskar) e A Day, That Year (de Stanley Xu).