Creio, ainda que me digam que não, que valerá a pena sublinhar algumas coisas, todas elas já ditas e repetidas, mas esquecidas ou ignoradas. Leiria Medieval é uma “recriação histórica”, isto é, um evento de entretenimento destinado ao grande público, como há por todo o lado em número incontável. Todos parecidos, mas nem todos iguais.
Em 2015, o Vereador da Cultura de Leiria decidiu iniciar um caminho alternativo nas linhas conceptuais e nos procedimentos de construção necessários para este evento. Esta tentativa muito séria de “ir construindo” um objecto novo a partir do velho conta comigo, tanto quanto posso, desde essa data.
O futuro, como se sabe, ainda está para vir. As grandes linhas orientadoras foram definidas então com toda a clareza: Aprimorar as características de um evento direccionado a um grande público cada vez mais alargado, um grande espectáculo de entretenimento – um objectivo comum a todos os promotores deste tipo de eventos; valorizar os grupos de criadores da região, permitindo simultaneamente que se mostrem, aprendam, falhem e façam melhor, que criem autonomamente dentro de um quadro comum e que fique portanto uma parte, crescente, do orçamento no território – um objectivo raro que requer grande abertura e confiança assim como uma projecção pouco comum no futuro; [LER_MAIS] revisitar alguns episódios e personagens históricas ligados a Leiria e ao seu território e que influíram marcantemente a sua construção – um objectivo muito raro e que se constitui assim como traço de identidade própria.
Leiria Medieval é hoje um enorme sucesso de público que reúne cada vez mais indivíduos e grupos culturais do território – de Ourém à Marinha Grande e Pombal, de Leiria à Batalha e a Porto de Mós – e continua a oferecer à curiosidade a “recriação”, e nunca a “reconstituição”, de um conjunto de factos históricos relevantes na formação de uma narrativa baseada numa identidade cultural e territorial só nossa. Nada mais, nada menos. E não é pouco.
*Dramaturgo