Em 1990, o sociólogo Anthony Giddens definiu a globalização como a “intensificação das relações sociais de escala mundial, relações que ligam localidades distantes de tal maneira que as ocorrências locais são moldadas por acontecimentos que se dão a muitos quilómetros de distância, e vice-versa.”
Curiosamente, o que está subjacente ao conceito de globalização de Giddens não é a proximidade unificadora como se o mundo fosse plano, mas sim a sua fragmentação. Sobretudo da actividade económica – consumidores, recursos, produção e cadeia de abastecimento.
A primeira fase de fragmentação mundial, segundo Richard Baldwin (2012), teve início no século XIX com a máquina a vapor (carvão) nos transportes marítimo e ferroviário.
A Revolução Industrial fez baixar o custo de produção, não só pela via da energia a vapor, mas também pela produção em larga escala. O fim do século XIX foi marcado pela explosão do comércio internacional, da migração do trabalho e da formação dos primeiros clusters industriais, sobretudo na Europa e nos EUA. A segunda fase de fragmentação produtiva à escala mundial deu-se a partir de meados dos anos 80 com as tecnologias de informação e comunicação (TIC).
As TIC permitiram que a complexa coordenação das actividades produtivas se tornasse possível à distância. Nesse sentido, a fragmentação internacional da produção permitiu às empresas serem lucrativas em regiões onde houvesse diferenças acentuadas na remuneração do trabalho.
A fragmentação económica do mundo tem atravessado três séculos e, neste exacto momento, a tendência dominante é tornar-se regionalmente especializada. [LER_MAIS] Em 1985, Michael Porter popularizou o conceito de cadeia de valor a partir de um princípio simples de Adam Smith (1776): uma empresa não deve fazer internamente o que pode ser feito ao mais baixo custo e eficiência noutro sítio.
Portanto, é nessa medida que a economia mundial hoje tem duas principais características que modelam a chamada Cadeia de Valor Global: i) a fragmentação da cadeia de valor em várias fases do processo produtivo; e ii) a dispersão geográfica da produção. Leiria, quer queiramos quer não, é um pequeno território que participa de forma cada mais activa na Cadeia de Valor Global.
Desde os tomates plantados nos campos do Lis e que terminarão em concentrado de tomate no Japão, passando pelos caulinos (areeiros) que integrarão a matéria argilosa na produção de cerâmica italiana, até ao cluster competitivo dos moldes orientado, em larga medida, para a produção automóvel.
Há uma nova geografia económica no mundo que o torna mais fragmentado, especializado e competitivo. E as regiões – e Leiria! – não podem desprezar esse paradigma vigente da internacionalização que é crucial para o desenvolvimento regional.
É nessa medida que vejo com agrado a Associação Ação Para a Internacionalização (AAPI) realizar a sua 3.ª edição do Leiria Centro Exportador, em Fevereiro de 2019, com o tema central da Cadeia de Valor Global.
*Docente do IPLeiria