Galão, pastel de nata, tigelada, pão de Deus ou de Mafra, bolo de arroz, garoto e, claro, a bica, são as iguarias-estrela da Bekarei, que já foi considerada a melhor padaria de Berlim e que emprega hoje cerca de 50 pessoas. À frente do negócio está uma leiriense, Paula Gouveia, que abriu o espaço em 2006, juntamente com o marido, o grego George Andreadis.
Natural de Caranguejeira, Paula Gouveia chegou à Alemanha há 30 anos. Acabada de se formar em Línguas e Literatura Moderna – Inglês/ Alemão, partiu com o objectivo de “aperfeiçoar” o conhecimento da língua alemã. A ideia inicial era ficar apenas um ano, mas foi adiando o regresso a Portugal.
“Ia dizendo ‘só mais um Verão, só mais um Inverno, mais meio ano’, e fui ficando. Estou cá meia vida”, conta, entre risos, confessando que Berlim a conquistou desde o primeiro momento.
“Apaixonou-me a liberdade de estar e de podermos ser quem somos”, confessa Paula Gouveia, que ainda como estudante de Erasmus trabalhou no apoio ao secretariado da Universidade de Potsdam. Já em Berlim, deu aulas de português em escolas privadas e trabalhou em bares e cafés.
Antes de abrirem a Bekarei, Paula e o marido aventuraram-se com um bar que existia junto à casa onde moravam e que tinha aberto falência. “Nessa altura, há mais 20 anos, era relativamente fácil abrir um negócio mesmo com pouco dinheiro. Hoje, é muito mais complicado”, assume a empresária, que se meteu no negócio da padaria “um pouco por acaso”.
A ideia surgiu enquanto passeava o filho no carrinho de bebé pelo bairro. “Vimos esta padaria, que existia há mais de 40 anos. Na porta tinha um papel a informar que ia fechar, porque os donos iam passar à reforma. Pensámos ‘é agora ou nunca’ e avançámos, com uma certa ingenuidade, pensando que ter uma pastelaria era igual a um bar”.
O espaço abriu em 2006. Começou por vender produtos de outra padaria, mas “não funcionou”. Sentindo “a vida a andar para trás”, o casal viu-se entre duas decisões: ou fechar ou mudar. Optaram pela segunda.
George pôs o seu espírito autodidacta à prova e, através de vídeos, foi tentar aprender a fazer alguns dos doces portugueses que tanto apreciava, como as tigeladas e os caracóis. “Aos poucos, fomos substituindo os produtos que vendíamos da outra padaria”, recorda Paula Gouveia.
O grande impulso aconteceu em 2014, com o convite para participar num programa televisivo do canal ZDF para competir pelo título de “melhor padaria alemã”. Venceram a etapa de Berlim, com a Bekarei a ser considerada o melhor espaço do género da cidade, e, a nível nacional, ficaram em sexto lugar.
“Catapultou-nos para outra dimensão. Tínhamos bons produtos, mas esse título deu-nos reconhecimento. E, claro, trouxe muito mais gente.” Com mais funcionários e padeiros — muitos dos quais portugueses — a Bekarei expandiu o seu negócio ao fabrico de pão para hambúrguer. Hoje, a empresa tem mais de 200 clientes nesta área na zona de Berlim e vende também online para a Áustria e para a Suíça e até para alguns festivais portugueses.
Sobre o futuro, Paula Gouveia vê-se a envelhecer num sítio com “mais sol e mar”, mas reconhece que será difícil escolher entre Portugal e a Grécia. “A Alemanha estagnou e tenho saudades do meu país e da língua. Gostava de voltar, mas não sei para onde”, assume a empresária, que vai mantendo a ligação à Língua Portuguesa através do filho, de 18 anos, com quem, fala português no dia-a-dia, e de encontros regulares com amigas portuguesas a viver em Berlim, o ‘grupo das bacalhoeiras’, em homenagem ao fiel amigo que nunca falta à mesa.