Carta branca para criar é o que qualquer profissional das áreas da criação quer. Significa muitas vezes não ter constrangimentos nem grilhões que condicionem o desenvolvimento de propostas.
Este é um ideal de liberdade criativa que muitos colegas ambicionam, mas que muitas vezes não provoca sequer os melhores resultados. Somos também o contexto, e precisamos desse envolvente para podermos criar da melhor forma.
Isto é, aquilo que povoa o nosso ambiente faz tanto parte do que fazemos como aquilo que almejamos, pelo que a liberdade incondicional não existe. Há uns anos, numa entrevista de emprego, perguntaram-me como é que definiria a criatividade, no geral.
Era uma espécie de um teste, onde a minha ingenuidade de recém licenciado veio ao de cima. Dei como exemplo uma metáfora que já tinha pensado antes, envolvendo a prisão e o deserto.
Na prisão tentamos criativamente arranjar soluções para sair dali e fugir aos constrangimentos existentes, para retornar à liberdade.
Enganar os guardas, serrar as grades ou escavar um túnel são tudo estratégias empregues para ludibriar o contexto onde se está inserido. [LER_MAIS] Neste caso, no fundo, procura-se uma alternativa ao contexto que se tem. Já no deserto temos de saber para onde vamos.
Ou seja, se fôssemos deixados no meio do deserto seríamos obrigados a escolher uma direcção para alcançarmos um sítio em que nos sentíssemos seguros.
Com base na nossa experiência anterior e conhecimentos sobre o contexto, íamos tentar tomar a melhor decisão para percorrermos esse caminho. Resumindo, procura-se criar uma realidade a partir de um aparente vazio.
Estes casos extrapolados são meramente metáforas, ou seja, não iremos encontrar estas situações extremo no dia-a-dia, já que normalmente tanto os pedidos como os projectos propostos nascem de uma realidade existente que tem características misturadas.
E a prisão está quase sempre no meio de um deserto.
*Creative Director
paulo.sellmayer@vicara.pt