Se, há uns anos, tirar um curso superior não estava nos planos de todos os alunos que concluíam o 12.º ano, sobretudo porque não o encaravam como uma mais-valia, hoje é uma meta para quem ambiciona ter mais conhecimento, um emprego melhor, ser mais bem remunerado, progredir na carreira ou obter reconhecimento. As vantagens no plano profissional e ao nível da qualidade de vida são inquestionáveis.
Publicado no final de 2017, o livro Benefícios do ensino superior revela que o nível de empregabilidade dos diplomados do ensino superior é maior e que ganham mais 50% do que quem tem apenas o 12.º ano. Coordenado pela Universidade do Minho e financiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, o estudo refere ainda como vantagem a melhoria da qualidade de vida.
No ano passado, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) também destacou o desempenho de Portugal por ser o Estado com melhores resultados na produção de licenciados, porque ganham mais e proporcionam uma grande receita ao Estado, através do pagamento de impostos. “O retorno encontra-se situado em 2,72 vezes superior ao que é investido nestes jovens do ensino superior”, lê-se no site juponline.
O Jornal de Leiria conta-lhe a história de seis pessoas que confirmam as vantagens de prosseguir estudos a nível superior. Paula Almeida, 51 anos, terminou o ensino secundário e começou logo a trabalhar na indústria de moldes, na Marinha Grande. Primeiro, como desenhadora e, depois, como projectista de moldes, profissão que conciliou durante seis anos com a de formadora do ensino profissional, até ter optado por se dedicar apenas à formação.
“Como estava na área do ensino, senti necessidade de aumentar os conhecimentos e candidatei-me ao M23”, conta Paula Almeida, e ingressou em Engenharia de Produção Industrial, no Isdom – Instituto Superior D. Dinis, na Marinha Grande. Aos 42 anos, a vida de Paula Almeida sofreu uma mudança radical.
Com três filhos, trabalhava e dava formação durante o dia e tinha aulas à noite. As “excelentes notas” deram-lhe ânimo para seguir em frente, apesar do sacrifício pessoal. “Foram três anos em que não vivi. A minha filha ainda se lembra de eu estar a cozinhar com papéis na mão.”
Reviravolta na vida
Ter uma licenciatura foi um passo determinante para Paula Almeida reingressar na indústria de moldes, aos 45 anos, mas como quadro superior e com um ordenado mais elevado. “Um curso pode ser uma reviravolta na vida de uma pessoa.”
Foi o que sucedeu a Miguel Fernandes, 53 anos. “Frustrado” com a profissão de bancário, aos 48 anos, candidatou-se a Gestão de Empresas, no ISLA de Leiria, através do programa M23. De início, teve de conciliar o trabalho com o curso, em regime pós-laboral. Mais tarde, saiu da banca e dedicou-se apenas aos estudos. “Fiz o curso no tempo oficial, tirando um deslize, o que me deu um certo gozo.”
Terminada a licenciatura, Miguel Fernandes diz que “a procura activa de emprego foi extremamente frustrante”, pelo que criou o próprio emprego. Abriu o bar Ponto M e, cerca de um ano depois, a DS Seguros. “O curso deu-me autoconfiança e excelentes conhecimentos. Consigo analisar as coisas com outro olhar, apesar de os 24 anos de banca também terem ajudado bastante.”
O empresário destaca ainda o facto de sempre ter sentido muito apoio da parte dos professores do ISLA. “Como as turmas eram pequenas, estabelecia-se uma relação muito próxima com os docentes, que tinham mais tempo disponível para tirar dúvidas e para falarem connosco. Numa grande universidade, é tudo muito impessoal.”
Aumento salarial
A opinião de Maria Saudade Silva, 56 anos, sobre o ISLA, coincide com a de Miguel Fernandes. “Tinha um corpo docente de excelência, com elevada experiência académica e profissional, sempre disponível para acompanhar os alunos nas suas dificuldades”, confirma. “A panóplia de cadeiras fornecia aos alunos um potencial de conhecimento muito além do que se podia imaginar.”
é a diferença do nível salarial dos licenciados em relação a quem possui apenas o 12.º ano
Maria Saudade Silva decidiu voltar a estudar quase 20 anos depois de ter acabado o secundário, pois quis ser mãe primeiro. A sua opção também foi por Gestão de Empresas. As consequências da sua decisão, enquanto funcionária da Direcção Geral de Finanças, fizeram sentirse de imediato: progrediu na carreira e teve um “elevado” aumento salarial. “O conhecimento é uma ferramenta essencial para crescermos enquanto cidadãos e fundamental para um excelente desempenho profissional.”
Catarina Militão, 29 anos, também destaca os conhecimentos que adquiriu em Design Industrial na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) do Instituto Politécnico de Leiria, nas Caldas da Rainha, de onde é natural. “Foi bastante aliciante frequentar um dos melhores cursos do País.” Além disso, diz que o contacto com outros cursos da ESAD – Design Gráfico, Som e Imagem, e Fotografia – lhe permitiu desenvolver competências noutras áreas.
“A escola tem condições e oficinas espectaculares. Hoje, a joalharia contemporânea mistura materiais como a cerâmica, metais e madeira. A escola abre-nos a mente”, assegura Catarina Militão.
Após ter terminado a licenciatura, especializou-se em Joalharia, em Lisboa, e partiu para Londres, Inglaterra, onde fez dois estágios e criou uma empresa. Ao fim de seis anos, voltou para Portugal e vai abrir um estúdio na Nazaré. “A cadeira de Inovação e Empreendedorismo deu-me algumas ideias e algumas luzes do que o mercado mais necessitava e um [LER_MAIS] conhecimento geral ao nível do conhecimento e desenvolvimento dos objectos.”
Ser reconhecido
Como o curso de Assistente Comercial Bancário que Tiago Januário, 27 anos, tirou no IEFP terminou desfasado do período de exames de ingresso ao ensino superior, começou a trabalhar num supermercado antes e enquanto tirou a licenciatura em Contabilidade e Finanças na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do IPLeiria.
“Sempre tentei que as aulas e o trabalho fossem compatíveis e sempre houve abertura da entidade patronal para que assim fosse. Demorei cinco anos a fazer o curso”, explica Tiago Januário. No último, o supermercado abriu falência, o que o obrigou a procurar outro emprego. “Tive a sorte de entrar logo na sociedade de revisores de contas, que viu em mim uma fonte de conhecimento para a organização.”
O que é que mudou, desde então? “O reconhecimento, porque somos sempre mais valorizados. Também foi bastante compensatório financeiramente”, afirma Tiago Januário. “Uma licenciatura abre-nos mais portas no mercado. Dá-nos outra notoriedade.” Este ano, começou a tirar um mestrado em Controlo de Gestão, na ESTG, para poder concorrer à Ordem dos Revisores Oficiais de Contas. “Além de aprofundar os conhecimentos, a minha expectativa é progredir na carreira.”
A médio prazo, também está nos planos de Mário Freitas, 44 anos, continuar a estudar. “Quero diversificar conhecimentos, através de uma formação complementar à que tenho em Gestão de Recursos Humanos”, afirma o responsável por essa área no Grupo Iberomoldes, na Marinha Grande.
O ingresso no então bacharelato do Isdom deu-se logo após a conclusão do ensino secundário. Dez anos mais tarde, Mário Freitas voltou à instituição de ensino para acabar as 13 cadeiras que lhe faltavam para ser licenciado. “Senti necessidade de reconhecer as minhas competências e, havendo a oportunidade de aumentar de grau académico, não hesitei”, conta. “Foi um ano muito difícil, porque fiz nove das cadeiras no 1.º semestre.”
Ter tirado uma formação superior foi determinante para a vida profissional de Mário Freitas. “Dificilmente, teria tido a oportunidade se tivesse só o 12.º ano”, acredita. Em relação à licenciatura, diz que não lhe trouxe grandes alterações, em termos de impacto no dia-a-dia. “Valeu a pena, porque durante aquele ano fiz amizades para a vida. Foi muito enriquecedor.”
IPL
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Fonte: IPL, ISLA, ISDOM