Aprender a gerir correctamente o orçamento é como aprender a comer bem. “Tal como um nutricionista fala na importância de anotar tudo aquilo que se ingere, também neste caso é preciso anotar todos os gastos diários”, explica Tânia Santos ao nosso jornal.
A professora da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, do Instituto Politécnico de Leiria, foi uma das oradoras da sessão de formação, que decorreu sábado no Seminário de Leiria, promovida pelo Departamento da Pastoral Social da Diocese de Leiria-Fátima, em conjunto com aquela escola, e cujo mote era Ajudar as Pessoas a saírem da situação de pobreza – Dicas para uma boa gestão do orçamento familiar.
O objectivo da iniciativa foi capacitar agentes sociais para o acompanhamento de pessoas em situações mais vulneráveis, de pobreza, conta a professora ao JL. As situações podem decorrer de contextos mais ou menos transitórios- como o desemprego, a morte de um dos cônjuges – ou de um contínuo mau comportamento em relação ao dinheiro, que por vezes até pode estar relacionado com outros comportamentos em sociedade, como as adições ao jogo ou outras, exemplifica a docente.
Atenção às campanhas de marketing
O primeiro princípio para uma boa gestão financeira é anotar todas as despesas diárias, até para melhor distinguir os gastos essenciais dos gastos supérfluos, refere Tânia Santos. Há ainda que perceber o real impacto das taxas Euribor no crédito à habitação; precaver contra as campanhas agressivas de marketing, cartões de desconto e de fidelização[LER_MAIS] – que levam ao endividamento sem que muitos indivíduos se apercebam; deixar os takeaway e apostar nas refeições preparadas em casa; analisar tarifas de gás e de electricidade e, sempre que possível, renegociar; dar prioridade aos transportes públicos ou boleias partilhadas (em longas distâncias), andar a pé ou de bicicleta (em trajectos mais curtos); praticar exercício ao ar livre ao invés do ginásio; e preferir cultura gratuita aos eventos pagos.
Ao público presente nesta sessão de formação, composto por vários agentes da área social, muitos deles elementos de Conferências Vicentinas, também os professores Cristóvão Margarido e Rui Santos falaram da importância de capacitar estas populações vulneráveis, para que saibam fazer as melhores escolhas, com auto-determinação. Afinal, quem está bem informado corre menos ricos, consideraram.
Saber como ajudar sem julgar
Mas contribuir para a literacia financeira não é julgar, não é olhar o outro de acordo com a nossa representação. É dar-lhe a oportunidade de estar informado e de ser capaz de decidir o que é melhor para si, sublinharam. Para ajudar quem precisa, é necessário despertar reflexões. E os oradores desta formação apresentaram várias perguntas que, de forma muito prática, podem conduzir à introspecção. “Com que frequência compra algo novo? Só quando precisa? Quando tem dinheiro suficiente? Todas as semanas? Se ganhar 400 euros num aniversário o que lhes faz? E se o seu amigo comprar um telemóvel topo de gama e o seu ainda funcionar?”
Em jeito de balanço da sessão, Jorge Guarda, director do Departamento Diocesano de Pastoral Social de Leiria-Fátima, enaltece a grande interacção com o público, que trouxe a discussão vários casos práticos. A iniciativa “deixou claro que as pessoas pobres não têm somente carência de bens. Têm outras fragilidades, em vários domínios, que é preciso conhecer e tratar”, sendo útil “dar continuidade a esta formação, trabalhando situações concretas e buscando soluções para as mesmas. Como diz o ditado: não basta dar o peixe, é preciso ensinar a pescar e proporcionar as ferramentas adequadas para o fazer”, sublinhou.
A 3 de Maio, a Diocese de Leiria- Fátima promove nova acção de formação, em Fátima.