Mais de 1300 presépios, oriundos de 81 países e dos cinco continentes, podem agora ser vistos em Fátima. Inaugurada no último sábado, a colecção é pertença da Província Portuguesa dos Frades Menores Capuchinhos e está visitável no complexo da congregação, localizado na Avenida Beato.
Frei Lopes Morgado, curador do projecto, conta que a história desta colecção começou em 1993, com a oferta de dois presépios da autoria do mestre José Franco, artista de Mafra já falecido que trabalhava em barro. “Costumo dizer que a colecção veio ter connosco. As pessoas iam trazendo presépios e, entretanto, os artesãos também começaram a oferecer. Até que percebemos que a colecção era valiosa de mais para ficar fechada numa sala e que merecia ser valorizada”, explica o religioso, enquanto nos guia pela exposição.
A visita foi, entretanto, interrompida com a entrega do último presépio a chegar à colecção. Trata-se, revela frei Lopes Morgado, de um exemplar da autoria de Maria Amélia Carvalheira, escultora que se dedicou à arte sacra, “oferecido por uma família”. Esta peça juntou-se ao núcleo central da exposição, montado debaixo de uma estrutura em madeira que simula uma gruta e onde se encontram patentes muitas dezenas de presépios portugueses, representativos de todas as regiões do País.
A montagem desta zona da exposição foi, reconhece frei Lopes Morgado, um dos grandes desafios do projecto. Idealizada pelo arquitecto Delfim Dias, que também é espeleologista, a criação da gruta envolveu “cinco dias de trabalho de carpintaria, com uma equipa constituída por quatro a cinco elementos em permanência[LER_MAIS]”.
“Foi preciso montar peça por peça e todas elas diferentes”, frisa o religioso. É em torno da gruta que se desenvolve toda a exposição, que abre com uma citação da encíclica publicada por João Paulo II, em 1995, intitulada Evangelium Vitae (Evangelho da Vida) e que dá título à colecção, seguida de um painel com imagens que retratam “a grandeza e o valor da vida”.
Os presépios estão distribuídos em função dos continentes de origem – da Oceânia há apenas um -, numa grande diversidade de representações. Há por exemplo presépios dentro das tradicionais matrioskas russas, um da Venezuela no qual o menino Jesus aparece embrulhado na bandeira do país, um brasileiro cujas imagens têm chapéus com fruta semelhantes aos de Carmen Miranda ou um de São Salvador onde a figura de São José aparece com um penteado punk.
“Um mesmo tema apresentado de formas tão díspares, em função da cultura de cada povo”, nota frei Lopes Morgado, explicando que a exposição pretende “transmitir a mensagem do nascimento de Jesus relevada na Bíblia e a interculturalidade de expressões concretizadas no presépio”.
O curador da colecção destaca ainda a enorme variedade de materiais dos presépios, que vai desde o mármore, marfim, madeira (jacarandá, oliveira da Palestina ou pau preto, entre outras), cortiça, filigrana, ouro, prata ou renda de bilros, até folha e barba de milho, folha de palmeira, areia do deserto, bordado de Bruges ou cristal.
Mas não se pense que a colecção está fechada. A intenção da congregação é continuar a valorizar este espólio, com a recolha, conservação e mostra de mais presépios, fazendo do núcleo expositivo, “um espaço de cultura e de evangelização”, integrado no chamado Centro Bíblico dos Capuchinhos, em Fátima. Este centro inclui a sede da editora Difusora Bíblica, da revista Bíblica e do Movimento Nacional Dinamização Bíblico, uma livraria e uma casa de acolhimento.