Em Portugal, durante o ano passado, a percentagem de empresas que cumpriram os prazos de pagamento acordados foi de 19,5%, “muito aquém” da média europeia, que é de 39,1%. Os dados relativos a Junho deste ano revelam que caiu para 17,7% a percentagem de empresas que pagaram dentro dos prazos estabelecidos, ou seja, menos de um quinto das empresas.
Os dados constam do estudo Como pagam as empresas, da Informa D&B, que analisou a evolução dos comportamentos de pagamento do tecido empresarial entre 2007 e 2016, e segundo o qual se “verifica que a percentagem de empresas cumpridoras sofreu uma evolução desfavorável neste período em Portugal, enquanto a maioria dos países estudados melhorou a sua prestação”.
A título de exemplo, refira-se que em 2015 a percentagem das que cumpriam os prazos era de 20,1%, uma subida de 2,7 pontos percentuais face ao ano anterior. No período analisado, a percentagem mais alta foi registada em 2009: 25,3% das empresas cumpriram os prazos acordados.
“O cumprimento dos prazos de pagamento é uma fonte de crescimento económico, ao contribuir para melhorar a liquidez das empresas, ajudando-as a respeitar os seus compromissos financeiros e a criar confiança entre os agentes económicos”, aponta o estudo. “Pelo contrário, o seu incumprimento provoca entropia nas relações comerciais, pondo em causa a rentabilidade e sobrevivência das empresas, criando assim entraves ao saudável desenvolvimento económico”.
“Sendo certo que estas percentagens são a nível nacional, e partindo do princípio que o distrito de Leiria segue esta tendência, estes valores deixam-nos obviamente preocupados enquanto associação que representa o tecido empresarial de Leiria”, afirma Jorge Santos. O presidente da Nerlei acrescenta que a este fenómeno não será estranha a fraca capitalização e a estrutura financeira debilitada de algumas empresas.
“Penso que é mais uma evidência da necessidade de o governo verter no OE de 2018 todas as medidas do programa Capitalizar e que o Estado e as empresas públicas paguem nos prazos acordados. A boa noticia é que dados recentes do Banco de Portugal dizem que a autonomia financeira das empresas portuguesas aumentou no ano passado”.
Referindo que haverá “certamente casos de melhoria e outros de atraso”, e mostrando-se convicto que “todas as empresas se esforçam, ao máximo, por cumprir os prazos”, Jorge Santos frisa que os atrasos “desregulam a relação empresarial e aumentam a incerteza nas empresas, gerando aumento das necessidades de fundo de maneio e obrigando a alocação de recursos humanos para a área das cobranças, desviando esses recursos daquilo que é o foco da empresa: produzir, vender e ou prestar serviços”.
“Os atrasos nos pagamentos são sem dúvida uma triste e persistente realidade, sobretudo por parte do Estado, que faz com que o que só excepcionalmente se aceitaria passe a ser um hábito e prejudique a economia real, que para funcionar em pleno precisa de poder confiar”, aponta por sua vez Ana Maria Pacheco.
[LER_MAIS] A presidente da Airo, associação empresarial da região Oeste, acrescenta que o problema “é recorrente e há muito que as empresas se defendem inflacionando os preços”. Além disto, “o aumento de encargos por eventuais necessidades de recurso a financiamento bancário,ou seja, um travão no crescimento e na maior criação de valor que cria desenvolvimento”, são outras das consequências resultantes da situação, segundo esta dirigente e empresária.
“Os atrasos dos pagamentos entre as empresas geram um ciclo vicioso que afecta o equilíbrio financeiro dos credores e que atinge a confiança de gestores e empresários no momento em que têm de tomar decisões de crédito comercial”, aponta a Informa D&B. Segundo o estudo, no ano passado 61,4% das empresas nacionais pagaram com atrasos até 30 dias em relação aos prazos acordados (tinham sido 58,6% em 2015).
Leiria acima da média nacional
A Informa D&B produz também o Barómetro de Pagamentos, que monitoriza mensalmente a evolução dos comportamentos do tecido empresarial português nesta matéria, segundo o qual em Outubro deste ano foram, a nível nacional, 15,9% as empresas que cumpriram os prazos de pagamento. Leiria teve um desempenho ligeiramente acima, com 16,2%. Já no que toca a atrasos até 30 dias, o distrito portou-se menos bem: 69,7% de empresas a falhar, contra 67,5% a nível nacional. Leiria volta a apresentar melhores resultados quando analisados os atrasos entre 30 e 90 dias (8,3% de empresas contra 9,2% a nível nacional) e os atrasos superiores a 90 dias (5,7% contra 7,4%).