Era uma questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde, tinha que acontecer. Bastava olhar para os países mais desenvolvidos por esse mundo fora para perceber que Portugal andou em contra-ciclo enquanto, teimosamente, virou costas aos seus centros históricos e outras zonas centrais das cidades, preferindo as periferias, fosse em bairros tipo dormitório fosse em urbanizações de grandes vivendas.
As consequências são de todos conhecidas, tendo muitas cidades, actualmente, o pior de dois mundos: centros históricos degradados e sem gente e periferias desordenadas urbanisticamente e sem vida própria. Felizmente, como escreveu Luís de Camões, ‘mudam-se os tempos, mudam-se as vontades’, tendo surgido uma nova geração com outra mentalidade e filosofia de vida, bem como muitos estrangeiros, a procurar os centros das cidades para viver.
Como é normal, as empresas de construção e os promotores imobiliários reagiram à nova tendência do mercado, tendo-se virado para zonas que durante muitos anos estiveram esquecidas, primeiro em Lisboa e no Porto, depois noutras cidades, com as gruas a competirem actualmente, lado a lado, com os monumentos mais procurados por um lugar nas fotografias.
É o que se passa em Leiria que, após um período em que as obras de recuperação de edificado no centro da cidade foram pontuais e de impacto relativamente reduzido, assiste agora a um boom que faz renascer a esperança quanto ao seu futuro.
[LER_MAIS] Entre as muitas intervenções que estão a decorrer ou que se iniciarão em breve, há edifícios emblemáticos e de grande dimensão, fazendo crer que em breve serão muitas mais as famílias a habitar o centro da cidade, mas também que outros projectos se poderão seguir à boleia do impacto das obras de maior relevância.
Com mais pessoas, haverá certamente mais comércio, mais e melhores cafés e restaurantes, e, principalmente, mais vida, podendo os leirienses ambicionar a médio prazo aquilo com que até há pouco tempo se deslumbravam nas suas viagens ao estrangeiro.
Não acontecerá, obviamente, de um dia para o outro, havendo ainda muito trabalho a fazer, quer por parte da iniciativa privada, quer por parte da autarquia, sendo fundamental tomar decisões com critério e sustentadas numa estratégia bem definida.
Será importante continuar a procurar investidores e manter os apoios fiscais nas zonas prioritárias, mas também estudar o papel que os equipamentos públicos deverão ter nesta equação e definir bem a programação de eventos no centro da cidade, para que não afugente os possíveis moradores.
As notícias de investimentos e requalificação são animadoras, mas será necessário ter a máxima atenção para não perder a oportunidade de polarizar essa onda positiva, não esquecendo também que uma cidade se faz da diversidade social e que não poderá renascer apenas com quem tem condições para dar centenas de milhares de euros por uma casa.