De certo modo, o solar do visconde, na Barreira, no concelho de Leiria, é também protagonista da nova produção da companhia Manipulartes, com o título Gentes. Naquele edifício – construído, provavelmente, no século XVIII – e área envolvente, tem decorrido a residência artística financiada através do programa municipal Pro Leiria que, para as primeiras apresentações, já na próxima semana, mobiliza cinco actores: Diogo Leitão, Dora Conde, Luís Freire, Mónica Brandão e Tânia Chavinha. O apoio técnico de áudio e vídeo é de Francisco Frazão.
O projecto está a decorrer desde Fevereiro e o texto e encenação resultam de criação colectiva. “Com base em entrevistas que fizemos ao senhor Borges da Cunha, que escreve livros sobre a Barreira e sobre as gentes da Barreira”, explica Tânia Chavinha. “E também fomos à Adesba [associação de desenvolvimento e bem estar social] e gravámos a voz de vários utentes a relatar o que era para eles a Barreira, que significado tinha para eles”.
Gentes, segundo Tânia Chavinha, “é um espectáculo de teatro imersivo e de teatro físico”, inteiramente em voz off, que aproveita “as histórias” transmitidas ao grupo pela “comunidade local”.
Propriedade, inicialmente, de António Carlos da Costa Guerra, o primeiro visconde da Barreira, o solar oferece um fio condutor para o espectáculo da Manipulartes, que se desenvolve em várias salas, a partir da entrada. “Para permitir às pessoas conhecerem a casa”, realça Tânia Chavinha. O público é convidado a participar e desafiado a interagir com o elenco.
Trata-se, por outro lado, de levar o teatro para “um espaço não convencional”, comenta a actriz. “O palco são as divisões” do imóvel “e o jardim”.
A pesquisa patrocinada pela Manipulartes nos últimos meses contribuiu para trazer à superfície algumas memórias dos últimos cem anos relacionadas com a Barreira que habitualmente já “não se contam”, a maioria delas, “porque ficaram esquecidas”. Reflectem uma vivência de décadas em meio rural, às portas de Leiria.
As apresentações estão agendadas para 14 e 15 de Maio, com início às 21:30 horas.
A companhia de Leiria espera, depois, dar continuidade ao projecto, noutras freguesias do concelho, adianta Tânia Chavinha. “Com o mesmo conceito, mas com histórias diferentes”.