Cada vez mais há uma procura por tornar livros e documentos acessíveis à distância de um clique. Os próprios serviços públicos, incluindo tribunais, têm apostado na digitalização. Acessibilidade e sustentabilidade são alguns dos propósitos.
Nas escolas, ainda não se assiste a uma desmaterialização efusiva dos manuais. Os alunos continuam a ir para as aulas com mochilas às costas, carregadas com os livros das diferentes disciplinas. O Governo já deu um passo no sentido de diminuir a pegada ecológica deixada pelos livros escolares todos os anos. A troca de manuais ajudou a economia de muitas famílias, que deixaram de ter um custo na aquisição dos livros, e ao mesmo tempo contribui para uma economia circular, com o reaproveitamento dos manuais de um ano para o outro.
Recentemente, uma escola da Marinha Grande viu-se envolvida em polémica por mandar mais de 700 manuais antigos para o lixo. Situação comum em muitos estabelecimentos de ensino, findo o prazo dos manuais, que deixam de ter qualquer uso.
Silvina Reis, docente de uma escola de Leiria, explica que a solução é mesmo “mandar para o lixo” os manuais ultrapassados. “Na minha escola, contactamos a Valorlis para vir recolher os livros e reciclar o papel”, revela, explicando a impossibilidade de enviar os manuais para [LER_MAIS]países mais necessitados.
“As pessoas falam sem saber. África não é o contentor do lixo dos outros. Temos um projecto com São Tomé e Príncipe para onde enviamos várias coisas, entre as quais livros de ficção. Mas, os programas de lá são totalmente diferentes, os manuais escolares não teriam qualquer utilidade”, revela.
Apologista dos manuais digitais, Silvina Reis alerta, contudo, para a necessidade de dotar primeiro as escolas de uma maior cobertura de internet. “Não podemos ter um livro digital e não conseguirmos abri-lo em sala de aula ou demorar demasiado tempo. Terá de ser de fácil utilização e todos os alunos terão de ter um computador disponível, o que não acontece”, salienta.
A professora assume que utiliza nas suas aulas os meios e materiais tecnológicos disponíveis e até considera que “seria bom para as costas dos alunos”, que carregam quilos nas mochilas. “Mas primeiro temos de garantir que todos têm computador e internet”, reforça, deixando no ar a dúvida quanto à sustentabilidade do digital.
“É verdade que se poupariam muitas árvores. Não tenho muito conhecimento sobre o assunto, mas já li alguns estudos que alertam para o dióxido de carbono que a utilização da internet produz”, acrescenta.
De facto, segundo um estudo do portal WebSiteToolTester citado pela EFE, plataformas de vídeo como YouTube ou Netflix, redes sociais como Twitter ou comércio electrónico como a Amazon estão entre os sites mais poluentes da internet, pois seu uso implica grandes emissões de CO2 para a atmosfera.
Também Mariana Gaspar defende a utilização de manuais digitais. “Esse é o futuro e julgo que se está a caminhar nesse sentido. Já se utiliza como recurso didáctico o telemóvel em sala de aula. Na minha escola, o acesso à internet tem uma password, que é disponibilizada diariamente aos alunos para ser usada na sala de aula. Essa password é depois alterada para que não seja usada indevidamente e sobrecarregar a rede”, explica.
A docente lembra ainda que o Ministério da Educação está a desenvolver o Programa de digitalização para as Escolas, no âmbito do Plano de Acção para a Transição Digital, que prevê uma forte aposta no desenvolvimento das competências digitais dos docentes e dotá-los das ferramentas necessárias.
“Foi feito o levantamento de quem necessitava de computador, disponibilizado mediante a assinatura de um contrato. Na minha escola, os professores só terão de o devolver se mudarem de agrupamento ou quando se reformarem”, conta.