O projecto Manufatura foi apresentado nas instalações da Nerlei, com o apoio dos presidentes da associação empresarial, do Município de Leiria e do Politécnico de Leiria. No entanto, em vez de comércio ou indústria, trata de cultura e de colocar as empresas a financiar as artes.
Entre outras contrapartidas, há benefícios fiscais, com majoração até 40% do valor do donativo, decorrente das novas regras aplicadas ao mecenato cultural.
Com o objectivo de incentivar a produção das artes, ampliar o acesso à cultura e transformar a comunidade, a Nerlei e o Leirena Teatro propõem que cada empresa aderente ao programa se torne mecenas de uma nova criação e que as instalações de trabalho sejam um lugar de pesquisa em residência artística e de apresentação do espectáculo performativo.
Algo que, à semelhança dos moldes, dos plásticos ou da cerâmica, também “pode ser exportado”, com Leiria “a levar estas experiências a outros pontos do País ou da Europa”, considera o presidente do município, Gonçalo Lopes. “É um projecto de dimensão europeia, com grande visão”, capaz de proporcionar “melhor qualidade de vida”, através de um sector, a cultura, que “tem vocação para mudar a sociedade”.
António Poças, presidente da Nerlei, lembra que a associação “tem feito um esforço de trabalhar noutras vertentes, que não só a vida económica”, abordagem em que se enquadra o projecto Manufatura, que, na opinião de Rui Pedrosa, presidente do Politécnico de Leiria, “aparece no tempo certo” e apela à “responsabilidade sócio-cultural das empresas”.
Em 2022, o Leirena e a Nerlei querem envolver cinco mecenas e materializar cinco novos produtos artísticos originais, em diferentes concelhos, cada um deles financiado no montante de 6 mil euros.
Prevê–se um mês de criação multidisciplinar, a que podem concorrer artistas externos ao Leirena. Os espectáculos deverão cruzar o teatro com outras artes e serão construídos e apresentados nas empresas, com transmissão da estreia em directo nas redes sociais. Podem, depois, ser replicados noutras salas.
O espaço Serra, que funciona em instalações do grupo Movicortes, na Reixida, arredores de Leiria, com músicos e artistas de várias áreas, é um exemplo apontado por Frédéric da Cruz Pires, director do Leirena. “É um pequeno oásis que está ali e o que nós queremos é que as outras fábricas sejam também pequenos oásis”, afirma, convicto que o modelo proporciona condições para fixar mais profissionais da cultura na região.
Os artistas seleccionados para as residências artísticas Manufatura terão direito a bolsa de criação, estadia gratuita, subsídios de alimentação e de transporte, apoio técnico, acompanhamento na produção e serviços de fotografia, vídeo e design gráfico.
Espera-se que os espectáculos explorem a relação com a comunidade e com os mecenas e respectivos colaboradores, por exemplo, aproveitando a história da empresa ou as características das matérias-primas e dos produtos que coloca no mercado.
Para as empresas, além dos benefícios fiscais, são apontados, entre outros, ganhos de reputação e comunicação, marketing e mesmo motivação dos trabalhadores.
“É um investimento que vale a pena”, acredita Henrique Carvalho, secretário-geral da Nerlei. “Achamos que o desenvolvimento das empresas, e o desenvolvimento económico e a própria produtividade, devem ser acompanhados por desenvolvimento social e cultural”. E as empresas podem ser “mais fortes e produtivas” se elas próprias forem “agentes de mudança na comunidade”.