Design não é adjectivo, é acção. "Não há nada com design, o design é um processo em si", argumenta Gonçalo Silva. Em bom português, é "arte aplicada", ou seja, "objectos com bom senso, utilitários e funcionais", resume o designer de Alcobaça para quem o pensamento criativo existe aliado com a funcionalidade e a optimização da produção. "A minha intervenção é sempre no sentido de desenvolver um produto muito útil, mas bem pensado, com uma simplicidade aparente".
Antigo jogador de hóquei, navegador do skate e trapezista dos patins em linha, talvez o elemento central no trabalho de Gonçalo Silva seja outro: o diálogo com o consumidor. De que é exemplo o banco de balanço 360º, em colaboração com a empresa Ferreiras e Marcelino, de Leiria. "Um produto aparentemente simples, mas com alguma complexidade de execução. E a minha imagem é essa”. Construído em madeira e cortiça, é composto por cinco peças que se arrumam no formato concha, quando separadas. A montagem é intuitiva. Pesa apenas 3,8 quilos e transporta-se facilmente com recurso a uma alça em pele. "Há aqui alguma interacção e eu gosto que os produtos tenham essa interacção com as pessoas". Outro banco, outra história: o Gepeto, analogia surgida num momento de leitura com a filha, Carminho. "O Pinóquio foi feito num acto de amor e sendo pai às vezes acabam os filhotes por nos ensinar algumas coisas". O nome Gepeto "tem a ver com a construção", porque o modelo "parece uma marioneta", logo, "acaba por ter algo muito humano".
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Actualmente empenhado no desenvolvimento de ideias que envolvem madeira, cortiça, betão e plásticos, Gonçalo Silva manifesta, no entanto, uma afinidade especial com o trabalho em madeira. Que vem do avô, com quem aprendeu os primeiros truques. "Ele tinha um moinho e não sendo carpinteiro tinha de construir aqueles mecanismos todos. Construiu muita coisa em madeira e ensinou-me. Fazia os meus brinquedos, as minhas espadas, as minhas pistolas, os meus carrinhos". Ele próprio, em criança, construiu e vendeu carrinhos de rolamentos. E, mais tarde, durante a adolescência, rampas para skate, a génese da marca Suba Ramps, que fornece formatos kit.
No portefólio de Gonçalo Silva há soluções para a casa e para o ambiente urbano, e quase sempre o subtexto interpela o utilizador: do banco de balanço 360º ao Round Stand (base para telemóvel, tablet e portátil que se desmonta e monta como um puzzle), do cabide para casacos com nivelador às bases de escritório para guardar as chaves, a carteira e outros objectos que não dá mesmo jeito nenhum perder. Put It em versões verde, amarelo e rosa fluorescente, como os post-its onde escrevemos o que não podemos esquecer.
Gonçalo Silva (Alcobaça, 1978) é licenciado em Design Industrial pela Universidade Lusíada de Lisboa e actualmente trabalha como freelance. Mantém uma colaboração regular com a empresa Ferreiras e Marcelino, em Leiria, onde intervém em todas as fases do desenvolvimento do produto. No passado criou a marca Suba Ramps (rampas para skate em formato kit) e o projecto Perfect Wave (mobiliário para praias), entre outras soluções de mobiliário para a casa e para o ambiente urbano. Trabalhou em Lisboa e em Barcelona (no estúdio de Antoni Arola). No regresso, estudou desenho 3D, prototipagem rápida e ilustração na ESAD.CR, em Caldas da Rainha.