A complicação tem só um propósito e um caminho – desemaranhar as probabilidades e afunilar em acontecimentos. Controlar ou fingir que se controla é a mesma coisa, apesar do nível de frustração consequente acabar por ser mais controlado para quem finge que controla. Quem finge tem margens, quem controla fica maluco.
Suponho que a aceitação terá um papel muito importante nesta empreitada, admitir a impermanência e vivê-la numa timeline exercida por conta própria, seja ela temporal ou ideológica.
Observar a pressão e admirá-la na sua excelência, com grades de ferro fundido a água benta e decorada com hóstias de todos os sabores. Parece bem não parece?
Não exactamente à margem da sociedade, porque as pessoas são fascinantes, mas de vez em quando meter um ácido social, saltar para ver melhor a educação emparedada de redondo e arrastar a solidão de ser antigo.
Perspectivas. Hão-de ser perspectivas. E também deve ser para assistir de cima a roda de samsara e as suas dentadas com dentes sempre podres e sempre inteiros. Se ouvida com atenção, faz barulhos de falta de óleo e sempre me fez lembrar olharapos ou máquinas futuristas dos anos 50.
[LER_MAIS] Poetizei de mais. Foi sem querer. Quando isso acontece, e para voltar ao mundo, canto uma ou duas faixas do Música no Coração e imagino-me Maria saída fresquinha do convento à procura de amor.
O mundo real, se existe, é produzido pelo Robert Wise, quando não, também realizado. Realizado, tornado real. Chamam-me maluco muito menos vezes do que antes, não sei interpretar esse facto, mas imagino que pode ter que ver com duas coisas, somente duas: ou estou mais perto ou estou demasiado longe.
Não foi há muito tempo que decidi enveredar por conta própria, fizeram-me católico, mandei quase tudo às urtigas, menos o que não consegui desinstalar e fui andando nesta vereda tropical com algumas pedras no bolso, muita sorte, pouca educação formal e providencialmente indiciado para ser mais ou menos isto.
*Músico