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Home Entrevista

Marisa Barroso: “Aprendemos sobre o risco movendo-nos”

Elisabete Cruz por Elisabete Cruz
Setembro 2, 2021
em Entrevista
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Marisa Barroso: “Aprendemos sobre o risco movendo-nos”
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O projecto Baile dos Pastorinhos nasceu em Leiria para preservar danças tradicionais e pretendeu envolver alunos e comunidades de cinco concelhos da região. Que impacto teve nas escolas?
Foi uma espécie de tsunami, porque viemos de um período de ausência de contacto e de actividades. Os factores surpresa e de inovação estavam lá. Foi como uma gota de água no deserto. Há vários impactos: o nosso, o das crianças, o dos agentes educativos envolvidos e até dos agentes políticos. Estamos a falar da cultura popular e de preconceitos e ideias pré-concebidas que existem na sociedade. Até as pessoas que estão envolvidas na cultura, por vezes, consideram que as danças tradicionais e populares não têm lugar nas novas gerações. Isso é mesmo um preconceito. As crianças tiveram uma receptividade enorme e muita curiosidade. Constatámos que não conhecem as danças portuguesas, mas conhecem danças latinas ou que vêm de França, como o ballet. É tudo muito novo, apesar de muito antigo, e isso é bonito de ver. Foi emocionante ver a forma como as crianças estão sensíveis. Estes preconceitos estão muito na cabeça dos mais crescidos, porque os jovens são muito receptivos e se for dança e música é algo que funciona, até as crianças mais cépticas.

Este é um projecto que alia o físico com a cultura. Duas coisas pouco destacadas na escola. Faltam mais projectos deste tipo para que os alunos possam dar maior relevância às artes?
É fundamental para uma sociedade desenvolvida. Há indicadores europeus e nós fechamos os olhos. Parece que a economia ou que outras coisas são mais importantes. Mas eu tenho um argumento: quando nascemos temos de lutar para chegar a um óvulo. Começamos com uma corrida. Isso dever-nos-ia dizer alguma coisa. Mas não. A importância da actividade física aliada à cultura fica um bocadinho para secundário. Temos de rever muita coisa. A arte e a actividade física fazem muito sentido na educação e estes projectos educativos deveriam ser muito mais eminentes e mais apoiados. A sociedade até gosta, mas depois as estruturas não estão feitas para valorizar esses trabalhos. Veja-se que este projecto tem de ser com base numa candidatura, não é algo que esteja enraizado e que tenha uma verba atribuída. Como não há sensibilidade suficiente na sociedade crescida, depois não chega às crianças. Por isso, estes projectos deveriam ser ainda mais impulsionados. Quando temos um projecto em que se acredita e que resulta, os outros agentes têm de criar condições: quer as estruturas de ensino quer os políticos e até a sociedade em geral. Estas danças tradicionais ensinam a cultura de uma forma vivida. É muito bonito ver o que ensinam as histórias de antigamente nos dias de hoje. É importante aliar a cultura à actividade física, e é extremamente necessário. As crianças estão muito carentes disso.

A educação física nas escolas é muito vocacionada para os desportos mais conhecidos. Está na altura de introduzir as diferentes danças?
A dança existe no currículo desde o pré-escolar até ao secundário. Qualquer professor pode ensinar numa vertente da expressão corporal, onde o tradicional também tem lugar. Estudos mais recentes mostram que os professores não têm formação base em dança e ao longo do seu percurso a oferta formativa é absolutamente reduzida. Também não há condições: faltam sistemas de som, salas e horários apropriados. Num estudo recente, com uma amostra bastante grande, 67% dizia que sentia falta de formação, e metade dos participantes sentia falta de motivação. Por isso, estamos noBaile dos Pastorinhoscom a associação de ranchos folclóricos. Esta união é extremamente importante. Os professores de Educação Física precisam de ajuda e o Baile dos Pastorinhos é uma tentativa de iniciar esses processos. Tivemos acções de [LER_MAIS]curta duração, de onde os professores saíram muito motivados, porque encontraram um núcleo de informação. Nós também ficámos muito felizes com a reacção deles. A dança é uma actividade física que eu chamaria subliminar. A pessoa dança e nem se dá conta de que está a fazer um exercício excelente.

Que importância é que as solicitações culturais e físicas podem ter na questão académica dos estudantes?
A dança envolve várias competências. Há a noção do próprio corpo no espaço e no tempo, e depois a acção física e motora coordenativa. Tudo isto são competências que estão associadas a várias disciplinas. Por exemplo, o Português está associado às letras das danças. O Baile dos Pastorinhos tem também uma função de dar condições para um trabalho multidisciplinar. Quando nascemos, aprendemos sobre o risco movendo-nos. Há estudos que indicam que as crianças que começam a gatinhar mais cedo, quando começam a andar, têm mais noção do risco de queda, de precipícios e de zonas com água. Para a nossa sobrevivência, a actividade física é fundamental quer na questão de risco quer depois nas acções do dia-a-dia. Falta mesmo a Portugal um desenvolvimento muito grande de noção do impacto que tem nas nossas vidas. Pensa-se que por termos um currículo muito extenso teremos crianças muito inteligentes e que vão ser muito melhores no futuro. Mas, em países como Finlândia ou Dinamarca às três da tarde já todos saíram da escola e antes tiveram oficinas de carpintaria, de cozinha ou de música já fora do programa curricular. A seguir vão fazer actividade física para os clubes. Isso gera profissões associadas ao desporto. Não é como em Portugal, que um treinador tem que trabalhar o dia todo [noutra profissão] e vai treinar depois. Nesses países, a actividade física está enraizada na cultura e tem um grande espaço. A percentagem de actividade física em Portugal é muito baixa e é uma coisa cultural. Achamos muito mais divertido socializar de outra forma. Podemos fazer três jantaradas com os amigos ao longo da semana e gastar cinco horas, mas depois se for para fazer exercício já não. Cansa muito e não há tempo. Os professores até podem ter sensibilidade para mudar isso, mas até que ponto é que o conseguem se a sociedade no geral está assim.

“Quando nascemos temos de lutar para chegar a um óvulo. Começamos com uma corrida. Isso dever-nos-ia dizer alguma coisa. Mas não. A importância da actividade física aliada à cultura fica um bocadinho para secundário” 

Nascer perto da serra puxou os seus instintos para o contacto com a natureza e a prática do exercício físico?
Sem dúvida nenhuma. A minha mãe era muito liberal e deixava-nos perfeitamente à vontade na vizinhança. Subíamos – eu e as minhas irmãs – às árvores, escalávamos casas, invadíamos casas velhas, não havia árvores de frutos que não soubéssemos quando é que estavam maduras. Havia muita tendência para explorar. Ainda hoje continuo a explorar o resto da serra, porque é um gozo enorme. Vivemos mesmo juntinho à serra e íamos a pé para a escola e fazíamos os próprios lanches. Não era propriamente a melhor aluna, tinha dislexia, pelo que a escola até era um tormento e sempre me refugiei no desporto. Ganhava as corridas, participava em tudo o que o Município de Porto de Mós organizava. Viver perto da serra influenciou- -me, assim como a educação da minha mãe que também teve a possibilidade de explorar as suas próprias capacidades ao máximo de forma livre. Brincávamos na rua até ficar de noite e ela chamar-nos.

Os miúdos de Porto de Mós aproveitam hoje o contacto com a natureza como antes?
Claro que não. Basta ver a situação daquela criança [Noah] que desapareceu e que as pessoas condenam [os pais]. As pessoas não acham que uma criança está em risco por estar três ou quatro horas num tablet, mas dizem que está em risco por andar a correr por um terreno sinuoso. Eu compreendo que existe aqui o risco de a criança poder desaparecer, mas muitas das vezes não há risco nenhum. As crianças estão muito condicionadas à sensibilidade de risco dos próprios pais. Não lhes damos tempo para resolverem os problemas sozinhas. Na dança falamos muito sobre padrões rítmicos, que é o ritmo a que cada um faz as coisas. Não aprendemos todos ao mesmo tempo nem da mesma maneira. Perdemos esta noção de dar espaço ao outro. Mesmo os professores quando estão a ensinar há tendência para fazer pela própria criança ou não deixar que ela tenha experiência para saber o que é bom e é mau. As crianças estão muito condicionadas àquilo que são os conhecimentos dos próprios pais e ao espaço onde convivem. Partimos do pressuposto que eles conhecem muito menos em termos da parte física. Fomos feitos para nos movermos. Inércia leva a mais inércia. Se tivermos mais actividade leva-nos a mais actividade.

“As crianças estão muito condicionadas à sensibilidade de risco dos próprios pais. Não lhes damos tempo para resolverem os problemas sozinhas”

Tornamos-nos numa sociedade superprotectora?
Mas só em certos aspectos, porque não somos superprotectores nos açúcares ou nos telemóveis. Somos superprotectores naquilo que aparentemente faz uma ferida e deita sangue. Mas se for diabetes a longo prazo já não há problema. É uma coisa cultural e ainda não nos apercebemos de que é bom fazer exercício. É divertido e ainda tem o bónus de ser saudável. Temos de ser pessoas fortes para cuidar e brincar com os nossos filhos. A percepção que os pais têm sobre o risco dos filhos parte muito do seu próprio conhecimento. Vemos uma criança de bicicleta a tentar a sua maior velocidade e os pais estão logo a avisar que vai cair. Ao fim de 20 mil tentativas de uma actividade espectacular, ela cai de facto e é condenada por essa queda. Esta queda é que lhe dá robustez, coragem e motivação. Quando não conhecemos a actividade física e não estamos por dentro também não conseguimos conduzir as crianças para isso. Estamos a criar crianças com poucas competências.

A própria sociedade limita o movimento das crianças. Está-se sempre a dizer: está quieta, senta-te ali.
As crianças foram feitas para se mexer. A exploração do espaço dá-lhes condições para a aprendizagem quer em termos de orientação quer em termos de conhecimento do próprio corpo. Tirei o doutoramento em comportamento motor na área de orientação espacial, dos 3 aos 5 anos, com uso de mapas e as crianças que tinham por hábito fazer exploração do espaço têm melhores resultados na orientação num espaço desconhecido. Ou seja, quanto mais elas puderem explorar, menos se vão perder. Quanto mais quiserem conhecer, mais competências vão desenvolver. E estamos a falar de competências a todos os níveis, como cálculo, velocidade ou altimetria. Temos tendência a pôr as crianças de forma a que elas não pensem. ‘Passa por aqui e não por ali’. Se ela tem percepção que por ali passa, deixem-na passar e ter a própria experiência. Claro que o professor precisa de condições para trabalhar, mas 26 crianças sem actividade física, sem poder extravasar as suas energias, vão ficar inquietas. As crianças precisam de se mexer para se desenvolverem e para terem uma acção de vida segura. O equilíbrio, a força, a destreza,a velocidade tudo isto vem do movimento. Os pais querem os filhos quietos para não correrem riscos, mas na verdade é o contrário. Não precisamos de construir nada para que as crianças se possam desenvolver. Basta que as deixemos explorar os espaços e desenvolver brincadeiras. Muitas vezes o papel do professor é o de conduzir tudo, mas o professor tem de se tornar um mero mediador. Como diz o professor Carlos Neto, nós não ensinamos, criamos condições para a aprendizagem.

Perfil
Paixão pelas danças tradicionais
Natural de Porto de Mós, Marisa Barroso é investigadora e monitora de dança. Professora no Departamento de Motricidade Humana e Linguagens Artísticas da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, do Politécnico de Leiria, é ainda membro do Centro de Investigação em Qualidade de Vida. Doutorada em Ciências do Desporto, especialização em Orientação Espacial na área de Desenvolvimento Motor, Controlo Motor e Aprendizagem, é promotora e coordenadora do projecto ALL Dance, em Leiria. É promotora do projecto de Salvaguarda Activa da Dança Tradicional e Popular Portuguesa, onde é responsável técnica e científica do projecto Baile dos Pastorinhos e do projecto-piloto Danças de Porto de Mós. “Sempre estive ligada à dança. Quando vim para a ESECS, a professora Isabel Varregoso, que esteve mais de 30 anos a dar as danças tradicionais, ia reformar-se e queria que alguém desse continuidade ao seu trabalho. Como não conhecia nada, ela levou-me a um festival de danças e quando cheguei pensei: isto é a minha praia. A minha paixão sempre existiu, só ainda não tinha encontrado quais as danças com que mais me identificava”. É também praticante de orientação, vertente pedestre e BTT, corrida de trail e ciclismo.
Etiquetas: baile dos pastorinhosdanças tradicionaisentrevistaESECSfolcloremarisa barrosoregresso às aulassociedade
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