Menos de 15 quilómetros separam a MasterCD da Grama Pressing. A primeira fabrica CDs, a segunda (de que o JORNAL DE LEIRIA falou há duas semanas) produz discos de vinil. Ambas se apresentam como as únicas empresas do país no respectivo ofício, o que faz de Leiria um concelho sem concorrência, em Portugal, na indústria de suportes para música.
Desde 2010, a MasterCD contribuiu para quase 9.000 edições e reedições de álbuns distribuídos por editoras como a Vidisco, a Espacial, a Rastilho ou a Omnichord (as duas últimas têm sede em Leiria) e artistas em que se incluem Mão Morta, Moonspell, a leiriense Surma, João Pedro Pais, Tony Carreira e Nininho Vaz Maia.
Apesar da revolução globalizada através de telemóveis e serviços de streaming, do Spotify ao Apple Music, continua a existir mercado para os compact discs (CDs) – no entanto, não nas quantidades de antigamente.
“Um artista médio português conseguia vender 5.000 CDs, actualmente, vende 1.000, a correr bem”, diz Telmo Covelo, um dos sócios da MasterCD. “Temos estado a produzir 30 a 40 mil [unidades] mensalmente. Se calhar, antes da Covid, chegávamos a 50 ou 60 mil. Tem havido um declínio e temos de ser o mais racionais possível, temos de nos adaptar”.
Por exemplo, aceitando encomendas de séries mais pequenas. A tiragem média, hoje, fica entre 300 e 500 exemplares. “Tivemos de começar a aceitar para dar oportunidade aos artistas de terem um objecto físico. E para nós é negócio. Costumo dizer que produzo a partir de um”.
Com a edição e o consumo de música ancorados nas plataformas digitais, ao ponto de os fabricantes de automóveis deixarem de disponibilizar leitor de CDs, a competição com países de Leste causou mossa no resto da Europa. Na Moita, Marinha Grande, a Sonovis fechou portas em 2010 – e no mesmo ano apareceu a MasterCD com equipamentos adquiridos em leilão durante o processo de insolvência, por iniciativa de Telmo Covelo e Célia Rodrigues (antigos trabalhadores da Sonovis) que constituíram sociedade com Manuela Crespo (o marido também foi funcionário da Sonovis). Além deles, só empregam uma pessoa.
Na Carreira de Água, Barosa, a capacidade instalada permite fabricar 1.000 CDs (cópias) a cada 80 minutos, através de um processo de injecção que utiliza policarbonato com elevado grau de pureza (matéria-prima importada do estrangeiro) e um glass master ou estampador obtido fora de Portugal a partir dos ficheiros de áudio enviados pela MasterCD, que, por outro lado, assegura internamente serviços de impressão e personalização, design gráfico, embalamento e plastificação final.
Quase sempre o destino é Portugal, uma parte segue para Espanha. A personalização de CDRs destinados ao sector da saúde é outra faceta da actividade e até tem mais procura com origem no outro lado da fronteira.
Nos últimos anos, depois da pandemia de Covid-19 provocada pelo coronavírus Sars-Cov-2, os custos de produção de CDs aumentaram. E novas regras da União Europeia que abrangem produtos químicos obrigaram igualmente a MasterCD a adaptar-se, com respeito pelas boas práticas ambientais. “Sentimo-nos satisfeitos por atingir esses patamares”, realça Telmo Covelo, para quem o compact disc está para dar e durar. “Vai sempre existir”.