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Médico de família: oferta de couves e galinhas para ‘pagar’ disponibilidade infinita

Elisabete Cruz por Elisabete Cruz
Maio 19, 2022
em Abertura
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Médico de família: oferta de couves e galinhas para ‘pagar’ disponibilidade infinita
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Dedicação, disponibilidade, empatia e afecto caracterizam na generalidade um médico de família, que ri e chora com os seus doentes. Se a relação entre médico e utente mantém uma proximidade, quase familiar, o respeito dos doentes para com o ‘senhor doutor’ tem-se vindo a perder.

Antigamente, o médico era encarado quase como um ser superior e os utentes seguiam à risca a sua prescrição, sendo habitual a oferta de produtos da sua horta para ‘compensar’ a dedicação e a disponibilidade do doutor.

Hoje, há doentes que chegam ao consultório com um pré-diagnóstico feito através do ‘dr. Google’, exigem exames complementares e geram-se tensões quando o médico não considera o diagnóstico apresentado pelo paciente. Os conflitos adensam-se com a recusa em passar declarações ou baixas médicas, com os tempos de espera ou na procura de uma consulta urgente na ausência de médico de família.

O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) alertou para a possibilidade de a curto prazo existirem cerca de 400 mil utentes sem médico de família na região. “Na semana passada expressámos a nossa preocupação por existirem 160 mil utentes na região Centro sem médico de família, mas o alerta é de que, a muito breve prazo, serão muito mais do que isso, porque existem neste momento 200 mil utentes seguidos por médicos de família com mais de 65 anos”, disse Carlos Cortes.[LER_MAIS]

“Ser médico de família, nos dias de hoje, é uma dor de cabeça. Eu ainda trabalho à antiga e ponho as mãos nos doentes, mas já é mais raro por causa da informatização. O toque e o olhar o doente são fundamentais para um médico de família, que tem como trabalho principal transmitir confiança”, salienta Alberto, médico de família há cerca de 40 anos.

Especialista em Medicina Geral e Familiar há cerca de 20 anos, Margarida Sá destaca a relação familiar que existe entre o clínico geral e os utentes e concorda que ser médico de família nos dias de hoje se tornou mais difícil. “Alguns doentes já chegam com o diagnóstico feito. Fazem do médico a sua secretária. Dizem que já têm os exames marcados e vão à consulta pedir a credencial”, conta, salientando que não deixa de passar um exame se considerar que é necessário, mas constata que o utente surge como se soubesse mais do que o médico, porque antes já andou a pesquisar na internet.

O acompanhamento de toda a família, desde o desenvolvimento no útero até à morte, é “fantástico” para a médica da Unidade de Saúde Familiar Santiago, em Leiria, que olha para os seus utentes como “família”, por isso, não é fácil revelar ao doente um mau diagnóstico. “Tenho utentes que conheci com cinco anos e hoje já acompanho os seus filhos. Existe uma relação de afecto e nem sempre é fácil separar as águas. Tive uma doente com um cancro da mama, que foi muito difícil para mim. Além da proximidade, tinha a minha idade e põe-nos sempre a pensar”, afirma a médica.

José Carlos Ramos, médico aposentado de Porto de Mós, concorda que o sofrimento do utente não é indiferente ao médico. “Cria-se uma empatia e amizade e sofre-se mais do que o doente, porque, por vezes, ele nem tem percepção da gravidade”, afirma, ao considerar que o mais importante para si é ouvir “obrigado”.

Quando o centro de saúde tinha urgência, este médico atendeu de tudo e chegou a fazer um parto. “Antigamente não tínhamos administrativa e era o médico que também cobrava as taxas moderadoras”, recorda, ao defender que os cuidados de saúde primários deveriam estar dotados de meios complementares de diagnóstico e de resposta de psicólogo e assistente social.

Há 40 anos, os médicos de clínica geral, como eram apelidados, asseguravam também a saúde escolar. “Fui a muitas escolas e tratei de muitos piolhos. Antes de entrar no carro tinha de me despir. Fazia parte do ofício e fazíamos com gosto. Na altura, era-se médico por devoção, agora perdeu-se um pouco isso com as notas. A necessidade de ter notas elevadas afastou muita gente que tinha capacidade. Não é preciso ter 20 para ser bom médico. Mas também se perdeu o carisma, porque muita gente vai para médico porque tem boas notas e os pais influenciam. Uma vez lá percebem que não era aquilo que queriam”, lamenta Alberto.

Também Margarida Sá já levou o seu carro a domicílios e foi presenteada com um furo ou com uma operação stop policial. Ossos do ofício de que não se arrepende, porque a sua preocupação é o doente.

A relação de proximidade que existe entre os médicos de família e os utentes faz com que estes demonstrem o seu agradecimento como se de um familiar se tratasse. Oferta de couves, cebolas, patos, cabritos ou galinhas da sua horta são comuns. A recusa dos médicos é até tida como uma ofensa, porque “cada um dá o que pode” e sentem que, assim, estão a mostrar o seu agradecimento por tudo o que o clínico faz por eles, explica Alberto.

Este médico recorda a galinha viva que colocaram no carro de um colega, que foi confrontado com um cenário pouco simpático quando chegou, e o cabrito que um utente lhe deixou à sua porta. “Eu avisei-o que ia estar fora, mas ele ignorou e tive um cabrito pendurado na porta dois dias. Quando cheguei estava podre”, sublinha.

No sector privado, Alberto admite que fez muitas consultas gratuitas no seu consultório. “As pessoas não tinham dinheiro para pagar e eu não me importava. A mim o dinheiro não me fazia falta. Muitas vezes, a forma de pagar era com a galinha, com meia dúzia de cebolas ou batatas.”

No entanto, Alberto chegou a encontrar quem ficasse ofendido pela oferta da consulta. “Um doente insistiu que me queria dar, nem que fossem cinco euros. Eu sabia que lhe faziam falta e recusei. Disseram-me depois que o senhor saiu a chorar e a dizer que era pobre, mas tinha cinco euros para pagar a consulta”, revela. O contrário também lhe sucedeu. Comprou o antibiótico para uma criança, porque a mãe disse que não podia comprar naquele momento. Quando Alberto passou no café, a mulher estava a comer dois gelados e “nem um bocadinho deu ao filho”.

O médico recorda ainda uma consulta num centro de saúde da região com uma senhora idosa. A filha explicou que a mãe tinha um problema na mama, que a custo mostrou. “Tinha a mama casca de laranja, o mamilo para dentro. Perguntei: o mamilo sempre foi assim? Ela já danada por mostrar a mama, tapou-a e disse: marmilo, marmilo, o raio do homem é doido. Foi embora porta fora.”

Noutra situação, uma utente queixou-se de dores na cova do ladrão. “Eu não sabia onde era. Pedi para apontar o dedo no local exacto em que lhe doía. Lá apontou para trás do pescoço e fiquei a saber”, acrescenta.

Galinhas depenadas e o interesse para a ciência

Alberto conta ainda a história de um senhor que pediu ao seu médico que o ajudasse num encontro com uma jovem. “O meu colega passou-lhe um medicamento e avisou-o que só podia ser um comprimido e de vez em quando. Ele tomou logo três, mas quando chegou à noite, aquilo não deu nada. Na segunda-feira, foi ao centro de saúde para falar com o meu colega, porque tinha algo com interesse para a ciência. Como o meu colega não estava, eu atendi-o. Disse-me que, chateado, mandou os comprimidos para o pátio e no dia seguinte as galinhas estavam todas depenadas. Tem interesse ou não para a ciência?”, questionou-me.

A simplicidade das pessoas, sobretudo nos meios rurais, marcaram muitas consultas. Margarida Sá também recorda o tempo em Carvide, onde contactou com uma “população fantástica”, que denotava um grande respeito pelo médico, embora verificasse “falta de literacia em saúde”. “Iam ao médico por situações que podiam resolver em casa.”

Os ‘miminhos’ são comuns. Ovos, grelos, borregos, frangos, laranjas, um pouco de cada coisa Margarida Sá já levou para casa. “Até já recebi uns sapatos de Marrocos”, conta, ao lembrar que ainda há pessoas que tomam o seu banho e se aperaltam para ir ao médico. “Agora na Covid, uma senhora fez uma máscara a condizer com a roupa e ficou muito triste quando entrou e lhe pediram para trocar por uma cirúrgica.”

O médico é também visto como um amigo e há muitas confidências que são feitas. A solidão leva muitos, sobretudo idosos, às consultas apenas para desabafar. “Têm necessidade de um olhar e de uma palavra de afecto. Muitos vão só para perguntarmos como é que vai e depois falam da agricultura, explicam-nos como plantar os tomates e ficam contentes porque ensinaram algo ao médico”, relata Alberto.

Aprender árabe

A preocupação com os doentes é tanta que os médicos de família tentam estar o mais próximo possível. Com um ficheiro, do qual fazem parte cidadãos marroquinos, Margarida Sá debateu-se com a barreira da língua. “Fui aprender árabe para conseguir falar com eles. Durante três meses andei no Speak. Depois veio a pandemia e acabei por desistir”, revela, ao garantir que o respeito dos árabes pelos médicos é grande. “Fazem tudo o que mandarmos. As mulheres só não permitem ser vistas por homens.”

Os principais problemas que enfrentou foram quase sempre relacionados com os pedidos de baixa ou de declarações. “Os médicos de família servem para tudo. A declaração para a carta de condução, para justificar a falta ao trabalho, a ausência num julgamento, as baixas… Quando recusamos, surgem os conflitos e já cheguei a encaminhar doentes para outros médicos, porque não há relação que resista”, relata.

Margarida Sá defende que não deveria ser obrigatório o doente ter de recorrer ao médico para lhe passar uma declaração para justificar a falta ao trabalho porque estava com diarreia, exemplifica, recordando que os primeiros três dias de baixa nem são pagos. Já teve utentes que aparecem três dias depois de faltarem ao trabalho a pedir uma justificação por doença. “Imagine-se que aquela pessoa cometeu um crime e eu estou a dizer que estava doente? Há pessoas claramente que pedem baixa para não trabalhar. Se uma pessoa tem uma avaria no carro a caminho de um julgamento, por que é que não pode justificar isso? Por que tem de entregar uma declaração médica? Há muita burocracia que congestiona o Serviço Nacional de Saúde. Há pedidos bizarros, como uma declaração do médico a dizer que tem de ter uma garrafa de água na secretária enquanto está a trabalhar”.

Alberto também confessa que se o médico recusa os pedidos do utente é, por vezes, “agredido verbalmente, insultado, vexado e acusado de tudo e mais alguma coisa”, o que os obriga a “passar o doente para outro médico, porque já não há capacidade para aguentar”.

Os médicos defendem, acima de tudo, a sinceridade. “Se uma pessoa me diz que precisa de três dias de férias para tratar de algo inadiável ou porque está mesmo muito cansada e o patrão não dá, por que não ajudar? O cidadão não é só biopsicossocial”, confessa.

Também José Carlos Ramos concorda que se houver honestidade, o médico até pode colaborar em situações pontuais e questiona: “como é que eu consigo avaliar o grau de uma dor de cabeça, se a pessoa diz que lhe dói muito?” Claro que o conhecimento de cada doente ajuda a perceber se é ‘fita’ ou doença. “Às vezes, dizia às enfermeiras: ‘vão ver que quando sair já vai bem’.”

Etiquetas: aberturadia mundial do médico de famíliafamíliaLeiriamedicinamédico de famíliasaúde
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