“Agora dou mais valor aos estudantes que têm de saber isto tudo.” As palavras de Mariana Stoca evidenciam o conhecimento com que um grupo de idosos do projecto Academia dos Sonhos do Centro Social e Paroquial dos Pousos, saíram de uma aula laboratorial de identificação de rochas e minerais na Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico de Leiria.
Com idades entre os 80 e os 93 anos ficaram surpreendidos por a pedra pomes, usada como esfoliante, ser vulcânica ou por as pedras da calçada poderem ser de calcário ou granito, dependendo da zona do País.
Caloiros da licenciatura em Engenharia Civil deram, na segunda-feira, uma aula aos ‘mestres’ dos Pousos, com quem também aprenderam. Maria de Carmen confessa que foi uma experiência diferente. “Foi muito bom aprender com a professora e poder ensinar e aprender ainda mais com os nossos idosos. Foi uma aula mais familiar, como se estivéssemos com os nossos avós”, adianta.
A jovem do 1.º ano de Engenharia Civil confessa que se “aprende melhor quando se ensina os outros” e realça que a interacção intergeracional ensinou-a a ter “paciência, a falar com as outras pessoas com educação”.
Quartzo, calcário, pedra pomes ou granito foram alguns dos minerais e rochas analisados pelos jovens e os seus avós emprestados. No Laboratório de Geotecnia e Vias de Comunicação da ESTG, a docente Anabela Veiga ajudou a passar a informação para todos conhecerem as propriedades e utilizações dos minerais e rochas. Divididos depois em grupos, os alunos explicaram carinhosamente a cada um dos utentes as ‘pedras’ que tinham à sua frente.
Competências sociais
No final, os conhecimentos foram testados através de um quizz, onde ninguém queria perder. “Que nome vamos ter?” perguntava um dos alunos. Rapidamente um dos idosos respondeu: “Os Incríveis”. Não ficaram em primeiro, mas a alegria com que se interajudaram para chegar ao melhor resultado saltou à vista, com todos muito envolvidos na actividade.
“As rochas são algo do quotidiano que desvalorizamos, mas que podem despertar curiosidade. Em torno de uma aula de Geologia e de Engenharia, aproveitámos o treino da identificação para também comunicar. O objectivo principal é pôr os alunos em contacto com pessoas de idade diferente”, assume Anabela Veiga.
Constatando que as “gerações estão todas muito estratificadas”, a investigadora considera que este encontro permite ainda “estimular competências sociais de comunicação, de apoio e de acompanhamento”.
Alexandra Neves, responsável pela gestão da Academia dos Sonhos, projecto financiado pela Fundação La Caixa, explica que esta aula insere-se nos Sonhos de Mestre, uma actividade da academia onde o objectivo é “trabalhar o idadismo através de relações intergeracionais, com crianças, jovens ou jovens adultos”. “Outro dos objectivos é demonstrarmos que não há idade para ensinar nem para aprender. Trabalha-se algum preconceito”, acrescenta.
Sandra Pissarra sublinha que esta troca de experiências entre jovens e idosos é uma mais-valia para todos e funciona como se fossem avós e netos de sangue. “Acaba por haver uma empatia e uma relação muito amorosa entre eles”, reforça a coordenadora executiva da Academia dos Sonhos. Os idosos ficam muito nervosos, pois não querem fazer má figura.
Na sexta-feira já estavam ansiosos por não saber a matéria. Sandra tranquiliza-os ao perguntar o que sabem: “‘Sabemos da vida’. Então complementam-se. Não vão ser engenheiros, mas já foram engenheiros de outras coisas da vida”, afirma Sandra Pissarra.