Marco Polo descreve uma ponte, pedra sobre pedra – Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? Pergunta Kublai Khan- A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra, responde Marco, mas pela linha do arco, que todas as pedras formam. Kublai Khan fica silencioso, ele pensa. Depois ele acrescenta: – porque me falas tu das pedras? É somente o arco que me interessa. Polo responde: sem pedras não há arco.
Italo Calvino- cidades Invisíveis
Pensar urbano é pensar humano. O uso e o dimensionamento de todas as coisas no espaço urbano tem como base a escala humana, no sentido lato e restrito. São quatro as funções mínimas urbanas – habitar, trabalhar, recriar e circular. Para que o metabolismo urbano seja sustentável estas funções têm que estar juntas.
A par desta polifuncionalidade é desejável uma equidade urbana, isto é, que o espaço urbano seja dotado de igual oferta de serviços e equipamentos. Será fácil entender que as escolas, os centros de saúde, os jardins se devem localizar próximo das habitações, o que implica que o raio de acção destes serviços responda às capacidades de quem usa.
Se uma criança habitar a 20 quilómetros da escola para onde vai, em particular no respeitante ao ensino básico, esta distância implicará desde logo um transporte mais nos acessos. Assisto quotidianamente a múltiplas viagens de famílias que, localizando-se ao lado de uma escola, são obrigadas a utilizar em particular o carro para se deslocarem para a escola onde foram colocados os seus filhos.
Viver urbano significa desde logo viver com os outros e entender como estas relações acontecem. Quando escolho um lugar para habitar estou, consciente ou não, a escolher a escola, o centro de saúde, onde trabalho… [LER_MAIS] A polinfuncionalidade promove a segurança urbana.
Se o espaço urbano é resultante de zonas monofuncionais- só habitação, só comércio, só indústria… significa que, à sua vez, as zonas estão desertas por longos hiatos de tempo. A sustentabilidade do espaço urbano depende ainda de um metabolismo circular que minimiza novos consumos e maximiza a reciclagem, assenta na eficiente utilização de recursos, na equidade da distribuição de riqueza e na qualidade do ambiente.
É necessário que sejamos capazes de anular este metabolismo linear em que vivemos, de entrada constante de alimentos, energia e mercadorias, e saída dos resíduos resultantes.
O metabolismo urbano tem que ser circular. Dentro do espaço urbano os resíduos humanos devem produzir localmente energia e fertilizantes e a água filtrada e reusada para irrigação da paisagem urbana. Nos jardins devem-se localizar os jardins de infância, as escolas, e todos os edifícios de uso comunitário, próximos das habitações.
Dia 22 de Setembro de 2018 foi o Dia Europeu sem carros. Este dia surgiu como imperiosa necessidade de sensibilizar cidadãos e políticos para as questões da mobilidade e qualidade da vida urbana.
Em Leiria foi dia de Leiria Sobre Rodas 2018, com direito a desfile de carros e passeio de motas antigos, assim como test drives de veículos novos.
*Arquitecta