Um homem de 60 anos morreu, na semana passada, vítima do despiste do tractor que conduzia numa zona de pinhal de Casal da Rola, no concelho de Pombal. Segundo o Jornal de Notícias, o homem perdeu o controlo do veículo agrícola, que capotou várias vezes antes de se imobilizar no fundo de um barranco.
Quando os bombeiros chegaram à vítima, esta estava por baixo do veículo e já não apresentava sinais vitais. Esta foi uma das últimas vítimas de acidentes com este tipo de veículo agrícola no distrito de Leiria. No mesmo dia, em Abrantes, outro homem tinha morrido pela mesma causa.
Segundo dados do Comando Territorial da GNR de Leiria, em 2017, verificaram-se 14 acidentes com tractores, dos quais resultaram sete mortos, quatro feridos graves e três feridos ligeiros.
No ano anterior, a GNR tinha registado 21 acidentes envolvendo tractores agrícolas, dos quais resultaram um morto, seis feridos graves e 21 feridos leves. Mas os números serão superiores, já que a GNR não intervém em todas as ocorrências.
Na estatística da sinistralidade com estes veículos na União Europeia, Portugal ocupa o terceiro lugar dos países com mais vítimas em acidentes com tractores agrícolas, a seguir à Grécia e à Polónia, contabilizando 123 mortos entre 2015 e 2016.
E esta é a principal causa de morte no trabalho agrícola a nível nacional, registando-se, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, citados pela Lusa, 68 vítimas mortais em 2016 e 55 em 2015.
[LER_MAIS] A maior parte destes casos ocorre com viaturas sem o “arco de SantoAntónio”, uma estrutura de metal que é colocada a ladear o habitáculo do condutor e que impede, em caso de reviramento, que a viatura caia sobre a vítima.
Os dados conhecidos permitem perceber que estes acidentesocorrem sobretudo no Centro e Norte,em viaturas já antigas e com condutorescom mais de 65 anos.
Segundo a ANSR, o capotamento é a causa de morte de dois em cada três acidentes com tractores agrícolas.
“As consequências dos acidentes com tractores agrícolas geralmente são muito graves, e as principais vítimas são os próprios condutores. O risco de morte dos condutores de tractores agrícolas é oito vezes superior ao dos que conduzem automóveis ligeiros ou pesados”, salienta a GNR.
Jorge Amaro, responsável pelo serviço pós-venda do Departamento Agrícola da Moviter, que comercializa estes veículos, explica que a “maioria dos acidentes se deve a falha humana”.
“Nos últimos anos, os tractores têm vindo a ser dotados de dispositivos de segurança, mas os acidentes mortais continuam a aumentar”,constata.
Segundo explica, os acidentes ocorrem por “falta de cuidado” e por uma “má abordagem ao terreno”.
Jorge Amaro confirma que a estrutura de segurança é muitas vezes retirada ou rebaixada, o cinto de segurança nem sempre é usado e há um “excesso de confiança”.
“Há um sensor no banco que desliga o tractor assim que a pessoa se levanta e há quem o desligue”, exemplifica o responsável, ao lamentar que a maioria das pessoas que utiliza os tractores esteja pouco receptiva a formação e aos alertas de segurança.
“Percebemos que, muitas vezes, estamos a falar para o boneco.”
Jorge Amaro aponta a falta de manutenção, o cansaço e o excesso de álcool como algumas das causas mais comuns dos acidentes. Dados que são confirmados pela informação da ANSR.
Rui Vieira, administrador com responsabilidades na área dos equipamentos agrícolas da Moviter, acrescenta que a idade dos veículos e dos condutores também contribuem para as mortes.
“Muitos acidentes ocorrem com tractores muito antigos, que não têm as condições de segurança que são exigidas hoje em dia. Por outro lado, algumas das vítimas são pessoas que já deveriam estar reformadas, já não tendo a agilidade necessária, mas que continuam a trabalhar por quererem os seus terrenos amanhados. E muitas vezes o tractor é o seu único meio de transporte.
7
mortos foi o resultado de 14 acidentes com tractores agrícolas ocorridos na região de Leiria, segundo dados da GNR
123
mortos entre 2015 e 2016 ocorreram em Portugal, colocando-o em terceiro lugar dos países da União Europeia com mais vítimas em acidentes com tractores agrícolas, a seguir à Grécia e à Polónia