Depois de, em Fevereiro, terem tocado ao vivo na Acrenarmo durante a primeira edição do Cagalhão Preto, com os European Breakfast Funeral, os colectivos Eden’s Apple e Falsus Deum voltam a partilhar o mesmo cartaz, desta vez no evento Metal Box, que acontece já neste 7 de Junho, na Black Box, em Leiria, onde também vão actuar os Hate Disposal, actualmente a caminho do vigésimo aniversário.
Noite de muito peso, com os Eden’s Apple, formados em 2024 em Leiria, a apresentarem o primeiro disco, Primordial Roots, em que uma voz feminina lidera sonoridades “com influências de metal sinfónico, trash e elementos progressivos e mitológicos”.
“O nosso álbum de estreia é sobre reencontrar aquilo que nos molda”, explica a vocalista, Marina Silva, de 34 anos. “Os temas abordam as guerras que travamos por dentro, de mitos que ainda vivem em nós, e da necessidade de renascer. Acreditamos que, para seguir em frente, é preciso entender de onde viemos – é um mergulho fundo no solo ancestral, onde estão enterradas as verdades que nos assustam e nos libertam”.
“Concertos autênticos”
A partir das 21:30 horas do próximo sábado, na Black Box, cruzam-se várias gerações – os músicos têm entre 17 e 37 anos – e o encontro celebração, segundo Marina Silva, prova que, em Leiria, “o metal nunca morreu, só estava a maturar”. Nesta fase, “parece” até “que está a ressurgir com mais identidade, mais criatividade e mais vontade de se unir”, porque “há bandas novas, projectos a ganhar força e um público com sede de concertos autênticos”.
Apesar da diferença de idades, opinião idêntica manifesta Martim Pereira, de 17 anos, nome de “guerra” Kavadas, que além dos Falsus Deum, também constituídos em Leiria no ano passado, e que se dizem inspirados “no espírito mais profano e violento do underground extremo”, integra os Kabracadavra. “A cena do metal em Leiria está a ressurgir, sem dúvida. Tem havido bastantes gigs em vários spots da cidade”, comenta. “Ao todo devem ter aparecido por volta de umas seis ou sete bandas novas em Leiria e arredores”.
“Forma de resistir”
Com as plataformas mais mediáticas largamente dominadas por géneros como o pop e o hip hop, Marina Silva acredita que “num mundo onde muita coisa é superficial ou descartável, o metal continua a ser intenso, emocional e honesto”. “É um escape, mas também uma afirmação”, realça. “Tocar e ouvir metal é uma forma de resistir e de existir com autenticidade”.
Décadas após o reinado de grupos como Dramafall, Malevolence ou Spiteful em Leiria, não faltam novos porta-estandartes na cidade para manter vivas as fileiras. “Acho que o pessoal da minha geração se interessa por metal porque é um género que transmite emoções intensas e reais e em que grande parte das vezes acaba por ter uma performance muito bem executada”, diz Martim Pereira. “O metal não tenta ser “perfeito” nem comercial, é directo e cru”.