O Estranho Mundo de Jack inspira o espectáculo com texto de Luís Portugal que a Sociedade Filarmónica Ouriense estreia este fim-de-semana, em dose dupla.
A adaptação do argumento de Tim Burton leva a palco a história da colectividade e começa na noite de Halloween, quando o quarto conde de Ourém regressa do túmulo “à procura de um amor que nunca teve”, explica o vocalista de Jafumega.
Durante uma aventura “rocambolesca” e “com algum humor”, Afonso de Bragança percorre um território que já mal reconhece, onde surgem várias personagens, entre elas, a princesa Oureana.
“O Tim Burton é uma referência dentro do cinema de animação, e não só, de que gosto muito, e é um desafio enorme porque é um universo complexo musicalmente falando”, comenta Luís Portugal, que no musical co-produzido pelo Teatro Municipal de Ourém, em que participam 80 pessoas e quatro estruturas de criação sediadas em Ourém e Alvaiázere, trabalhou com Luís Mestre (textos) e Paulo Serafim (encenação).
O Estranho Mundo da Rua de São João é apresentado sexta-feira, e depois também no sábado, ou seja, 9 e 10 de Dezembro, com início às 21:30 horas.
Pela primeira vez, 45 instrumentistas da Sociedade Filarmónica Ouriense vão interpretar obras de Danny Elfman (da banda sonora original de O Estranho Mundo de Jack) com arranjos do maestro João Paulo Fernandes.
No espectáculo, participam também o agrupamento de cordas Ouriensemble, o Coral Alva Canto e o Grupo de Teatro Apollo.
“De forma cómica”, o enredo “conta um bocadinho das peripécias” da Filarmónica Ouriense, que tem sede, precisamente, na Rua de São João. Há minis (ou “mines”, como se lê na sinopse) e momentos que evocam músicos com “formas de estar” e “alcunhas curiosas”, adianta João Paulo Fernandes.
“Ao fim e ao cabo, é uma sátira”, que permite “brincar com situações” vividas “em Ourém” e reflecte o “espírito de brincadeira” e “de entreajuda” que caracteriza a instituição fundada em 1855, que é hoje “uma família”.
Três actores do Grupo de Teatro Apollo colaboram no projecto. Luís Costa é D. Afonso, enquanto José Ezequiel Quartau e Dora Conde encarnam uma dupla de terceira idade que, à moda dos Marretas, observa, comenta e interage com o que se passa no palco, a partir de um camarote.
O musical resgata o “universo de fantasia” de Tim Burton e o efeito é um ambiente “muito diferente”, que ajuda a fixar a memória colectiva, assinala Dora Conde, além de proporcionar o reencontro entre o Teatro Apollo e a Sociedade Filarmónica Ouriense. “É bom estabelecer com pares a nossa rede. A nossa política é sempre participar”.
Após se apresentar recentemente com o colectivo Pistacatro (da Galiza) em Orquestra de Malabares, o espectáculo O Estranho Mundo da Rua de São João é mais um em que os músicos dirigidos por João Paulo Fernandes arriscam “fora da zona de conforto”, elogia o director do Teatro Municipal de Ourém. “Acredito em termos artísticos no resultado final, mas já ganhámos o processo”.
A produção, com “uma dimensão muito grande”, oferece “outros referenciais”, “de qualidade”, num contexto profissional, lembra João Aidos, que tem procurado estimular objectivos “fora da caixa” junto dos criadores e artistas do concelho. “É interessante quando inquietamos as pessoas e depois elas nos devolvem a inquietação”.