Atrás do balcão da sua loja de electrodomésticos, Reinaldo Vinagre, de 76 anos, analisa as últimas duas décadas da Moita. A 12 de Julho de 2001, a freguesia deixava de pertencer ao concelho de Alcobaça, para integrar o da Marinha Grande. E do ponto de vista deste morador, assim como o de todos aqueles que foram ouvidos pelo nosso jornal, embora a Moita continue a precisar de infra-estruturas, o balanço da transferência é positivo.
“Tínhamos de percorrer 50 quilómetros, 25 para cada lado, para tratar dos documentos em Alcobaça. Fosse a licença da bicicleta ou da casa. E o pior era quando, depois de lá chegar, percebíamos que nos tínhamos esquecido de alguma coisa”. Reinaldo não tem dúvidas de que poder tratar da burocracia na Marinha Grande, a apenas quatro quilómetros de distância da Moita, foi uma das grandes vantagens desta mudança.
O ensino foi outro ganho, defende o septuagenário, lembrando que muitas famílias da freguesia entregavam moradas falsas para que os filhos pudessem estudar perto, em estabelecimentos da Marinha Grande. Mais recentemente, os transportes urbanos da Marinha Grande, que passaram a abranger a Moita, vieram facilitar as deslocações de estudantes e de idosos.
No entanto, aponta Reinaldo, ainda falta investir em equipamentos de lazer, como uma[LER_MAIS] piscina. De passagem rápida pela pastelaria, Aldina Rodrigues, de 63 anos, também entende que fazia sentido integrar a freguesia na Marinha Grande, onde quase todos, como ela própria, têm os seus empregos. Mas tanto Aldina como a dona da pastelaria concordam que a Moita continua “parada”.
Também sugerem equipamentos de lazer, como a piscina, mas reivindicam principalmente uma farmácia e o atendimento médico constante na extensão do Centro de Saúde, equipamento que foi ganho depois da integração da freguesia na Marinha Grande.
“O saldo é francamente positivo”, considera Franklin Ventura, que foi um dos impulsionadores da agregação da Moita à Marinha Grande, nos anos 80, e que presidiu a Junta desta freguesia em 2001. Recorda os tempos remotos em que, devido à distância entre Moita e Alcobaça, “era praticamente o carteiro da população”, levando consigo documentos e correspondência sempre que ia à sede do concelho. Lembra que a construção da extensão do Centro de SaúDe e a beneficiação da EB1 da Moita garantiram “um saldo qualitativo” no seu primeiro mandato.
Mas lamenta que, “a partir de 2009, tenha começado a decair o interesse” dos autarcas, que “adormeceram” em relação à freguesia. Refere que um terço do saneamento básico ainda está por concluir e que o Plano Director Municipal da Marinha Grande urge em ser revisto para incluir a Moita. A presença irregular de médico nesta extensão de saúde são outro contratempo.
“O saneamento básico não chega à freguesia toda e é uma preocupação que levamos à Câmara da Marinha Grande”, reconhece António André, actual presidente da Junta da Moita, frisando, contudo, que nos últimos 20 anos a população ganhou grande qualidade de vida. “Estamos a negociar com a Câmara, para termos um pavilhão gimnodesportivo, aproveitando a zona onde temos um campo de futebol. E adquirimos um terreno, onde pode ser construido um anfiteatro e um museu”, revela António André.
Moita vai ganhar zona industrial
“A avaliação que fazemos da integração da Moita no concelho da Marinha Grande é claramente positiva”, salienta Cidália Ferreira. “Ao longo deste mandato concretizámos a passagem de propriedade de património público na Moita que ainda era do Município de Alcobaça, como por exemplo as casas de habitação social e a escola da Moita. Requalificaram-se estradas com as infra-estruturas necessárias e investimos cerca de meio milhão de euros na requalificação da escola da Moita”, recorda a presidente de Câmara da Marinha Grande, que adianta projectos para o futuro.
“Estamos a preparar uma nova centralidade que deriva da aquisição de uma propriedade para a mudança de instalações da Junta e criação de um jardim. É nossa intenção criar as condições necessárias para uma futura instalação de um pavilhão desportivo”, expõe. “Tudo temos feito para manter o atendimento médico existente e estamos a trabalhar em articulação com o ACES Pinhal Litoral para que neste local possa todos os dias haver alguém que apoie os utentes em questões relacionadas com receitas médicas e exames”, prossegue.
“No trabalho que estamos a desenvolver para a revisão do Plano Director Municipal, em concreto na localidade da Moita, ele cumprirá todas as disposições legais previstas para a classificação e qualificação dos solos e, naturalmente, terá em conta o perímetro urbano das edificações. Nesta revisão do PDM é clara a nossa intenção de consolidar uma Zona Industrial formal na Moita (algo que não existe até agora), que compreenderá o local onde se encontra o principal aglomerado industrial. Estima-se que esta ZI possa configurar a possibilidade de crescimento três vezes maior do que a mancha territorial hoje ocupada por empresas na Moita”, sublinha a presidente.