Nos primeiros 19 dias de 2021, registaram-se 563 óbitos (Covid e não Covid) no distrito de Leiria, mais 193 do que a média no mesmo período dos cinco anos anteriores – o equivalente a um aumento de 52% – e mais 216 face a 2020, segundo o Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO) gerido pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).
Nestes 19 dias de 2021, a Protecção Civil de Leiria reportou 125 óbitos por Covid-19, ou seja, a mortalidade Covid- 19 não explica, por completo, os 193 óbitos em excesso face à média dos cinco anos anteriores.
As primeiras semanas de Janeiro vêm agudizar a evolução negativa da mortalidade. Em 2020, primeiro ano da pandemia, registaram-se 5.561 óbitos no distrito de Leiria, mais 280 do que em 2019 e mais 286 do que a média dos cinco anos anteriores, ou seja, 2015 a 2019, um aumento de 5,4%. Mais uma vez, a Covid-19 – que fez 222 mortos no distrito de Leiria em 2020 – não chega para justificar todos os óbitos em excesso.
Além do novo coronavírus, os especialistas apontam como causas da mortalidade em excesso, em Portugal, os atrasos nos diagnósticos ou tratamentos de saúde como efeito colateral da pandemia, e, mais recentemente, a vaga de frio.

Os dados do SICO disponíveis online têm início em 2014. E, desde 2014, é 2020 o ano com mais mortes no distrito de Leiria. Entretanto, no dia 7 de Janeiro de 2021, morreram 41 pessoas. Mais, só em 18 de Junho de 2017, no contexto do incêndio de Pedrógão Grande (46).
No concelho de Leiria, em 2020, registaram-se 1.228 óbitos, mais 6 do que em 2019 e mais 69 do que a média dos cinco anos anteriores, um acréscimo de 5,9%. Também noutros três concelhos do agrupamento de centros de saúde do Pinhal Litoral, a mortalidade em 2020 é superior à média dos cinco anos anteriores, com subidas de 17% na Batalha, 12% na Marinha Grande e 11% em Porto de Mós.

Segundo Paulo Moniz Carreira, director- geral de negócios da Servilusa, a empresa “ajustou os horários dos crematórios”, que operam agora entre as 8 e as 24 horas, diariamente, “para dar melhor resposta a este aumento de mortalidade”.
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A cremação é recomendada pela DGS para as vítimas mortais de Covid-19.
Paulo Moniz Carreira adianta que “a taxa de penetração da cremação em Leiria subiu para os 17,4% do total de funerais realizados em 2020”. No último trimestre de 2020, “registou-se um incremento de cremações na ordem dos 62% face a igual período do ano anterior”, e, em Janeiro, até ao último domingo, “uma procura superior a 93%”, em termos homólogos.
“Este facto deve-se não só ao aumento da mortalidade, mas, também, a um aumento da procura pela opção de funeral com cremação”, afirma.
Quando há confirmação de Covid- 19, o corpo é colocado na urna no interior do hospital e a urna não volta a ser aberta, explica Marisa Seco, da Funerária Seco. “O mais complicado para as pessoas”, explica, é, nestes casos, a não realização de velório.
Para todos os funerais, Covid e não Covid, as agências, acrescenta Marisa Seco, precisaram de “adaptar o trabalho a uma nova realidade”, que implica, por exemplo, preparar uma capela ao ar livre ou investir em máscaras, luvas e produtos desinfectantes.
No entanto, mantêm a capacidade de resposta e sem alterar preços.
Segundo Jaime Alexandre, da Funerária Jaime, desde Março de 2020 “grande parte dos hospitais alteraram os procedimentos no levantamento e tratamento de cadáveres”.
Por outro lado, deixaram de realizar- se serviços que antes eram “prática habitual, como velórios, levar os corpos a locais de culto e preparação de corpos”. As medidas, refere Jaime Alexandre, não apresentam “um padrão”, uma vez que “dependem das paróquias e dos regulamentos de cada cemitério ou hospital”.
Entre 2 de Março, data em que foram diagnosticados os primeiros casos de Covid-19 em Portugal, e 27 de Dezembro, registaram-se 99.356 óbitos em território nacional, mais 12.852 óbitos (13%) do que a média no período homólogo de 2015-2019, refere o Instituto Nacional de Estatística. Destes, 6.677 são óbitos por Covid-19.