Em Abril de 1902, Joaquim Neto e os seus trabalhadores encontravam o mosaico de Apolo, em Póvoa de Coz, quando plantavam uma vinha. A obra de arte romana foi levada para Lisboa, a fim de ser restaurada, e lá acabaria por ficar, integrada na colecção do Museu Nacional de Arqueologia.
Agora, 120 anos depois de ter sido descoberta, a peça prepara-se para regressar a esta localidade de Alcobaça, onde está a ser construído um espaço museológico, e onde o mosaico e outro espólio originário da Póvoa poderão ser admirados [LER_MAIS]pelo público.
De acordo com as pesquisas deixadas pela historiadora, arqueóloga e museóloga Irisalva Moita, em causa está um mosaico, possivelmente pertencente a uma habitação romana do século I ou II, com temas marítimos, como ondas, búzios e golfinhos, com uma figura masculina central, onde alguns investigadores acreditam ver Apolo e outros defendem vislumbrar uma qualquer divindade dos mares.
Na última Assembleia Municipal de Alcobaça, Hermínio Rodrigues, presidente da autarquia, informou que se tinha reunido com o director-geral da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), tendo manifestado o seu interesse “na colaboração estreita entre o município e a DGPC com vista à transferência do mosaico romano da Póvoa de Coz e a sua futura musealização, associada à valorização de todo o conjunto edificado do Mosteiro de Coz”.
Mas, contactado pelo JORNAL DE LEIRIA, Álvaro Santo, presidente da União de Freguesias de Coz, Alpedriz e Montes, explica que o regresso do mosaico à sua origem é bem mais do que uma intenção, havendo já um local preparado para acolher esta obra de arte. O mosaico deverá ser instalado num edifício construído de raiz, para esse efeito, localizado em frente à Capela de Nossa Senhora da Graça, na Póvoa de Coz, informa Álvaro Santo, recordando que a obra, um investimento suportado pela autarquia, já arrancou durante o mandato de Paulo Inácio.
“A pandemia e alguns desacertos de agenda” ainda não permitiram a representantes do Museu Nacional de Arqueologia visitar o futuro espaço museológico. Mas essa visita será indispensável para apurar que detalhes faltam ajustar à construção, para que o mosaico seja instalado e visitado nas melhores condições, expõe o presidente da união de freguesias.
Além desta peça, foram levados da Póvoa de Coz, da mesma casa senhorial, 144 caixotes, aponta Álvaro Santo.
O objectivo é avaliar o que pode regressar à localidade para também poder ser visitado no futuro museu, salienta o autarca, que ainda não sabe como será feita a gestão desse espaço, mas acredita que pode passar pela câmara, em articulação com a união de freguesias.
Quanto a uma reprodução do mosaico, realizada quando Gonçalves Sapinho presidia a Câmara de Alcobaça, por sugestão do historiador Rui Rasquilho, essa também deverá ser aproveitada e servir de atractivo noutro ponto da freguesia, instalada junto ao Mosteiro de Coz, equaciona Álvaro Santo.
Além de ter o “segundo monumento mais visitado do concelho” – o Mosteiro de Coz – este território tem ainda inúmeras capelas, salienta Álvaro Santo, que gostaria de integrar todos esses pontos de interesse num roteiro turístico, que incluísse também o futuro museu do mosaico romano.
Além de Coz, também Alpedriz e Montes têm espaços que podem ser aproveitados para fruição do público. É o caso do parque fluvial das Loureiras (Alpedriz), que está inserido numa propriedade privada, mas onde a união de freguesias está a trabalhar para, sob regime de arrendamento, poder dotar o espaço de melhores condições, aproveitando a nascente e o curso de rio que por ali passa.
O parque já é utilizado há cerca de dez anos e a ideia é melhorá-lo e torná-lo especialmente aprazível para as crianças, realça Álvaro Santo.
Já nos Montes, tradicionalmente ligados à produção de vinho, está a ser preparado um museu de utensílios agrícolas, adianta o presidente. “É importante trazer mais turistas, mais visitas organizadas, e que as pessoas tenham outros pontos de interesse além do Mosteiro de Alcobaça”, defende o autarca.