Na hora da saída, o esboço de um balanço. “Em 12 anos acolhemos e organizámos dezenas de congressos internacionais, encontros científicos, colóquios e cursos livres, que trouxeram e têm trazido os mais reputados investigadores nacionais e estrangeiros”, sublinha Joaquim Ruivo. “Acolhemos centenas de espectáculos e dezenas de exposições”.
O director do Mosteiro da Batalha está a caminho da aposentação, mas deixa o lugar com sentimento de dever cumprido. “Julgo que uma mudança evidente foi o relacionamento que se criou com a região, muito por via de uma programação cultural que pretendemos sempre de alto nível e, igualmente, pela dinâmica de relacionamento intenso com as forças vivas, as escolas e várias instituições”, comenta. “Em parte, pela forma como assumi, desde sempre, as competências em mim delegadas, até ao limite, dentro da estrita legalidade, em benefício de um monumento vivo, aberto às parcerias com a comunidade e às parcerias artísticas e académicas”.
Exemplos, o festival Artes à Vila (em co-organização) e a Universidade Nova, o Centro de Formação de Professores e o Cepae – Centro do Património da Estremadura. “Tem sido prioridade a formação de professores. Assim como fomos de certo modo pioneiros na formação específica para guias-intérpretes”.
Ligação com universidades
Ao longo de mais de uma década, mudou, também, o encontro com as novas gerações, acredita Joaquim Ruivo. “Que sempre considerei prioritário. O serviço educativo tem tido uma dinâmica muito importante. Começámos com as visitas encenadas com o grupo O Nariz, mas os nossos técnicos têm dinamizado projetos muito consistentes, nomeadamente, no âmbito da inclusão, de que é exemplo o trabalho com a Casa do Mimo”.
Por outro lado, segundo Joaquim Ruivo, que destaca o foco na edição de estudos e a ligação com institutos e universidades, “neste momento o Mosteiro da Batalha é o mais bem estudado sob o ponto de vista das geociências” – e, com a Universidade de Aveiro, duas doutorandas estão a monitorizar e a avaliar a saúde estrutural do monumento.
E o futuro? “Um grande potencial será criar mais sólidas e consistentes parcerias internacionais, sobretudo no âmbito da investigação da arte e arquitectura góticas. Mas também parcerias culturais no contexto da Rede Unesco. A criação de um conselho de curadores parece-me muito pertinente. E, porque não, apoiar-se a constituição de uma Liga dos Amigos do Mosteiro?”, sugere o director, que, em vésperas de passar a pasta, deixa alguns alertas. “Fica por resolver a eliminação das portagens na A19 e a limitação de tráfego no IC2 em frente ao Mosteiro. É sempre promessa de quem está na oposição e sempre assunto adiado por quem governa”.
Mas não só. Apesar dos investimentos em preservação e requalificação, e de outros já lançados, que abrangem as Capelas Imperfeitas, “é necessário garantir” a requalificação de toda a ala norte do Claustro Afonso V, do auditório e dos vitrais, que carecem de fundos para estudo e conservação. “E, num projecto mais global”, impõe-se “a limpeza e tratamento de todas as fachadas exteriores”.
Novas tecnologias
O centro de interpretação continua desactivado, no entanto, “está em andamento a empreitada de instalação de wi-fi em todo o monumento”, que permitirá o uso de tecnologias (código QR, georreferenciação, realidade aumentada, entre outras) para revolucionar a experiência dos visitantes. E são muitos: quase 367 mil no ano de 2023, de acordo com os dados mais recentes.
“Obra-prima do gótico, estaleiro do Manuelino”, património da humanidade classificado pela Unesco desde 1983, o Mosteiro da Batalha é um “monumento que se identifica com a independência de uma pátria, que é a nossa” e, ao mesmo tempo, “monumento de todo o mundo, pelo seu valor universal e excepcional”, diz Joaquim Ruivo. O (ainda) director deverá terminar o mandato até ao final deste mês de Março.