Pelo segundo ano consecutivo, um filme de Carlos Calika chega aos finalistas do Motelx para o prémio de melhor curta de terror portuguesa. Depois de Monstros em 2023, no próximo dia 14 de Setembro, na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, em Lisboa, e naquele que é um dos festivais mais mediáticos a nível nacional, acontece a estreia mundial de Putto, em que o realizador de Pombal dirige o actor inglês Leigh Gill, conhecido por encarnar a personagem Gary nos dois Joker de Todd Phillips e pela participação em alguns episódios da série Guerra dos Tronos.
Também Carolina Aguiar, de Leiria, compete na selecção oficial da categoria de melhor curta de terror portuguesa, com Parem de Olhar Para Mim.
Leigh Gill “apaixonou-se” pelo guião e “não cobrou absolutamente nada”, acabando por entrar na ficha técnica, além disso, como produtor. Putto conta a história de um criminoso a soldo, conhecido por ser implacável, que salva uma rapariga das garras de um psicopata. Provavelmente, “um dos mais pequenos filmes de acção de sempre [15 minutos] com o mais pequeno bad ass de sempre”, acrescenta Carlos Calika. “É um filme particular porque o actor principal é anão” e “um assassino profissional, coisa que nunca vi feita”, aponta. O anti-herói, a destruir estereótipos perpetuados ao longo de décadas pela indústria de Hollywood. “Tento sempre incluir pessoas em papéis que normalmente não lhes são dados” para “mostrar que têm lugar” em patamares “não secundários”, mas “de relevância”, explica o autor, que começou a escrever o projecto em 2018 quando vivia em Londres, onde, já em 2020, decorreram as gravações. Só este ano a curta com orçamento de 2.500 euros ficou concluída, após “vários problemas” na fase de pós-produção, entre os quais a “morte” de um disco carregado de imagens.
Homenagem aos anos 70
Com cenas explícitas de violência, Putto (a palavra italiana para querubim) é, segundo Carlos Calika, “uma homenagem ao cinema grindhouse e exploitation dos anos 70 e 80”, em que a equipa se divertiu “imenso”. Completam o elenco os actores Stephen Sitkowski, Rez Kabir, Anselme Lenga, Rute Santos (de Pombal) e o campeão português de wrestling Mauro Chaves, que acumula as funções de actor e de coordenador de lutas.
Na edição anterior do Motelx, Carlos Calika concorreu com Monstros, curta entretanto já seleccionada para dez festivais em Portugal e no estrangeiro e com duas menções honrosas fora de fronteiras. “Cresci na época dourada dos clubes de vídeo e geralmente as capas das cassetes que nos saltavam mais à vista eram de filmes de terror. Pesadelo Em Elm Street, Sexta-Feira 13, Halloween, Churky. E acabei por me apaixonar pelo género”, explica. É possível transmitir “mais do que [o sangue e o choque] que está no ecrã”? Sim. Monstros, por exemplo, permite descobrir uma mensagem “anti-guerra”, realça. “Mas o mais curioso, é que os piores filmes que se podem ver são aqueles que não nos mostram as coisas, em que a violência ocorre fora do ecrã e só ouvimos o som. Porque a nossa imaginação é sempre pior do que tudo aquilo que nos possam mostrar”.
Girl power
Outro regresso ao Motelx é o de Carolina Aguiar. Depois de Uma Piscina em 2022, este ano Parem de Olhar Para Mim alcança a nomeação para melhor curta portuguesa de terror. As duas obras completam-se: “É a mesma história de pontos de vista diferentes. Uma Piscina é uma das irmãs e Parem de Olhar Para Mim é outra”. Na sinopse do trabalho mais recente, pode ler-se: “Duas irmãs tropeçam numa viagem intensa entre a realidade, os sonhos e a fantasia. Uma exploração profunda do género feminino nos filmes de terror, que mergulha na questão da ansiedade e na constante sensação de que estamos a ser observados”.
A realizadora de Leiria quis “confrontar” o estereótipo que a sétima arte frequentemente usa para representar a mulher como frágil ou insegura. Influenciada por David Lynch e Michael Haneke, acredita que o terror é um universo que confere bastante liberdade aos autores e em que “com pouco orçamento se consegue fazer mais”.
Licenciada em Economia pelo ISEG, Carolina Aguiar colabora em modo remoto no departamento de vendas de uma startup suíça de tecnologias de informação e fundou em Leiria a produtora Paris Latino com Miguel Nunes. Anteriormente, realizou a curta Só Nós Dois.