Uma publicação feita numa página privada do Facebook fez soar os alarmes. Havia uma empresa que “queria abrir um buraco com 76 hectares” na zona da Barosa, em Leiria, no âmbito de um pedido para prospecção e exploração de inertes.
Após alguns telefonemas e pedidos de informação junto de entidades competentes, um grupo de “filhos da terra” ficou a saber que o processo estava em fase final de consulta pública e que a câmara e a união de freguesias já tinham dado parecer favorável condicionado.
Daí a juntar “meia dúzia” de pessoas e a colocar lonas e cartazes a contestar o pedido de prospecção “foi um ápice”. A população “acordou e juntou-se em massa” ao protesto. De tal forma, que o local da sessão de esclarecimentos promovida pela câmara teve de ser mudado porque o espaço inicial “era pequeno para tanta gente”, o abaixo- assinado lançado, entretanto, reuniu, em poucos dias, mais de 7.000 assinaturas e centenas de pessoas juntaram-se numa caminhada de protesto.
Na sequência da contestação, o município alterou o parecer para desfavorável e a empresa promotora do pedido de prospecção acabou por suspendê-lo e, mais tarde, por anunciar a desistência do mesmo. O objectivo inicial estava conseguido. A prospecção de inertes na Barosa, que afectava também parte da freguesia de Amor e que podia redundar na sua extracção, tinha sido travada.
Esta luta, encetada na Primavera de 2023, acabou por dar frutos e, em Junho desse ano, nascia o Movimento Cívico Barosa Viva (MCBV), com o objectivo de “defender os interesses da Barosa, da sua população e do meio ambiente” e de “apoiar acções de cariz social ou humanitário, contribuindo assim para a segurança, o bem-estar e a elevação do sentido de cidadania de todos”.
Remoção de lixo e limpeza de floresta, recolha e distribuição de citrinos, iniciativas de cariz solidário e a promoção anual da ‘Festa da Saúde’ são algumas das actividades desenvolvidas pelo movimento, que, recentemente, se mobilizou também em defesa da “melhor solução” de traçado da linha de alta velocidade, que terá uma estação na Barosa.
“Somos apenas um grupo de cidadãos que pugna pelo bem-comum”, afirma Óscar Rodrigues, que coordena as área do património e da comunicação do movimento, explicando que este surgiu da necessidade dedar continuidade à mobilização “espontânea” que se gerou, criando “algo mais definitivo e com uma estrutura mais elaborada”.
Constituído por sete elementos, o movimento actua na área da antiga freguesia da Barosa. “Não queremos ser meramente reactivos, mas procuramos ser activos, planeando eventos e actividades em prol dos interesses da população”, assinala Miguel Jesus, coordenador do MCBV, que dá como exemplo dessa atitude “pró-activa” a acção de limpeza que promoveram, em Novembro último, com a retirada de 20 toneladas de lixo dos pinhais da Barosa, acção que mobilizou a população e que teve o apoio da junta, da câmara, dos escoteiros e do movimento One Piece After Another.
Nova recolha em Junho
“Não nos limitámos a alertar para o problema. Quisemos fazer parte da solução”, reforça Miguel Jesus, adiantando que, no dia 7 Junho, será feita uma nova limpeza, integrada nas jornadas ambientais que o movimento vai organizar e que envolverá acções de sensibilização nas escolas.
Antes, a 11 de Maio, terá lugar mais uma caminhada solidária, com a recolha de bens para crianças de famílias carenciadas, em co- -organização com a Farmácia Nova. Esta parceria repete-se na Festa da Saúde, cuja terceira edição acontecerá em Setembro, com actividades relacionadas com a promoção do bem-estar e de modos de vida saudável.
Já este ano, decorreu mais uma campanha de recolha e distribuição de citrinos, com a entrega de 800 quilos de laranjas, tangerinas e limões, que “pretende também combater o desperdício”.
A par destas actividades, o movimento procura identificar situações que “estão menos bem”, comunicando- as à junta e pressionando para a sua resolução. “Não somos polícias da actividade da junta, mas, quando há necessidade de intervenções que já se arrastam no tempo, chamamos a atenção”, refere Óscar Rodrigues, frisando que também neste domínio não se limitam a apontar problemas, mas que, sempre que possível, propõem soluções.
A título de exemplo aponta a sugestão que fizeram à junta para a instalação de ossários no cemitério, que está a ficar lotado. “O que nos move é o bem-comum. Fazer com que população fique mais esclarecida, mais participativa, mais unida e mais capaz”, rematam Miguel Jesus e Óscar Rodrigues.