“O álbum, em si, é positivo, eu acho”, diz Bruno Monteiro. A resposta surge por causa do título, que também é o título de uma das canções: Já Ninguém Vai Mudar o Mundo. Sim, vem de um lugar de “pessimismo” e “indignação”, no entanto, aponta o músico de Alcobaça, “há sempre esperança”, mesmo quando à volta tudo parece indicar que já não se fabricam heróis como antigamente. “As árvores não deixam de crescer e o céu não deixa de ter nuvens e o Sol a aparecer”.
O disco sai esta sexta-feira, 25 de Julho, em vinil e formato digital com selo da Lovers & Lollypops, do Porto. E a energia de “Primavera” e “Fogo no cu”, singles lançados nos últimos meses, prova que Mr. Gallini (nome artístico de Bruno Monteiro) não vem para atirar a toalha ao chão.
“Não é um indivíduo que vai mudar o mundo, mas é todo um grupo ou comunidade ou conjunto de comunidades. Isso é que pode mudar alguma coisa, isso é que tem força, realmente”, assinala. “Começar do pouco a que temos acesso à nossa volta, da influência que vamos ter”. Ou seja, “empatia pelos outros, sejam seres humanos, sejam animais, sejam árvores”, resume. “Empatia leva à tolerância e a outras coisas que acho que são positivas. É isso que tento aplicar quando estou com a minha família, com os meus amigos, quando dou aulas, quando estou a ensaiar, quando estou a fazer as minhas músicas ou a fazer os meus vídeos”.
Uma banda
Seis anos após The Organist, completa-se a trilogia iniciada em 2018 com Lovely Demos. Do ambiente construído com instrumentos acústicos para a electrónica e agora para “malhas mais rasgadas” e “guitarra eléctrica”, num LP que tanto agarra o “rock mais punk” como “baladas tipo bossa nova”. Tem, por outro lado, mais músicos – incluindo, no trompete e na flauta transversal – e conta com o produtor Pedro Sousa Moreira, da Casa do Vento, com quem Bruno Monteiro já tinha colaborado a bordo dos Stone Dead.
“Geralmente, sempre fiz tudo e toquei tudo”, comenta o compositor, cantor e multi-instrumentista originário da aldeia de Pisões. “Acho que era meio neurótico, queria tudo no meu controlo e tudo a vir da minha cabeça. Lá está, percebi que sozinho não chego a lado nenhum”. E antecipa: “Vou continuar a tocar a solo quando fizer sentido, mas quero dar prioridade a estar em conjunto”. Sempre que possível, com Leonardo Batista (baixo), Alexandre Ramos (bateria), Daniel Silva (guitarra e sintetizadores) e Rodrigo Correia (percussões).
Cinco concertos
Pela primeira vez, canções escritas em português, “um desafio”, com letras “influenciadas” por aquilo que Mr. Gallini observa “no dia a dia”. Já apresentadas ao vivo em dois momentos e com dois formatos, quinteto e trio. No total, sete faixas. E mais três interlúdios, que resultam de uma espécie de coleccionismo de personagens e curiosidades. “Sempre gostei de andar com o telemóvel a gravar conversas”, explica ao JORNAL DE LEIRIA. “Dos vizinhos, dos avós, do café. Tenho centenas em casa”.
Há já cinco concertos em agenda, a partir de Outubro, no Porto e em Coimbra, Braga e Viseu. Com o lançamento de Já Ninguém Vai Mudar o Mundo, sai também uma caixa personalizada – design da autoria de Bruno Monteiro – para acomodar as três edições de Mr. Gallini’s Amazing Trilogy, em que “Primavera”, tema disponibilizado em Abril, é todo um novo começo: “Há tanto tempo que eu me sinto assim, sem saber de mim, sem saber de onde é que eu vim. Às tantas, vou ter de procurar”.