O Centro de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica do Distrito de Leiria registou 95 casos novos no primeiro semestre de 2019.
Segundo dados da Associação Mulher Século XXI, 92% eram mulheres (87) e 8% homens (8). A maioria dos maus-tratos foram infligidos pela pessoa com quem tinham uma relação de intimidade: companheiros ou ex-namorados.
Susana Ramos Pereira, coordenadora da Mulher Século XXI, revela que “não se pode dizer que os casos aumentaram, mas a procura é que foi maior e os casos que chegam têm maior gravidade”.
A responsável considera que as vítimas “perderam a vergonha – mas não o medo”, fruto da divulgação das políticas de protecção e da mediatização de casos de homicídio conjugal. “Revêem-se nessas situações.”
“No nosso acolhimento de emergência, 29 mulheres estavam acompanhadas de 22 crianças. Temos de olhar para os filhos como vítimas secundárias, que são muito afectados com a violência doméstica e que também necessitam de apoio”, alerta Susana Ramos Pereira.
A coordenadora salienta que só se fala das vítimas que sofrem os maus-tratos, mas “não se podem esquecer as crianças, que muitas vezes defendem a mãe e acabam elas também por sofrer agressões”, mesmo que apenas verbais.
“Assistem a toda a violência e são também vítimas, pelo que têm de ser tratadas como tal. É necessário dar-lhes ferramentas e trabalhar desde muito cedo” para evitar que a violência se propague mais tarde.
Susana Ramos Pereira reforça que há “muita violência no namoro e os jovens nem se apercebem”.
Em acções de sensibilização que são realizadas, quando são dados exemplos de maus-tratos, “há sempre alguém que diz que já levou dois [LER_MAIS] pares de estalos ou o namorado lhe chamou nomes”.
Os dados da associação indicam ainda que 37% sofreram violência física, 45% violência psicológica, 9% violência sexual e 4% admitiram ser vítimas de stalking (assédio persistente).
“As agressões são cada vez mais graves. Há vítimas que afirmam que não sofreram anteriormente maus-tratos, mas as agressões daquela vez foram muito graves. Chegam muito maltratadas e necessitam, por vezes, de apoio hospitalar.
125
Das 95 pessoas atendidas, descendem 125 crianças e jovens que assistiram, viram ou ouviram a violência entre os pais e mães e que poderão reproduzi-la na sua vida adulta