Nos 25 anos do Museu do Vidro, o investigador Jorge Custódio reacende o debate sobre o espaço onde se destaca uma rara garrafa de seis vinhos – concebida para o rei D. Carlos I, a original, em 1892 – e o lustre de cristais lapidados de que a Casa Branca (nos Estados Unidos) encomendou uma réplica duas vezes maior.
Único orador na conferência agendada para 13 de Dezembro, na Marinha Grande, iniciativa do município para assinalar a data, Jorge Custódio defende a “remodelação” do Museu do Vidro, em que vê potencial “para ser um museu do vidro de Portugal” e “conquistar a liderança”, se “mudar de paradigma”, porque actualmente, considera o historiador, “não é verdadeiramente um museu no sentido moderno da palavra”.
“Nasceu relativamente manco, e continua manco, continua a ser um museu que não tem as condições que preencham a lei quadro dos museus”, argumenta.
Em resposta ao JORNAL DE LEIRIA, o executivo na Câmara da Marinha Grande anuncia para 2024 “uma renovação profunda da exposição de longa duração”, que, segundo o presidente do município, Aurélio Ferreira, se encontra “estagnada desde o momento da inauguração”, ou seja, há 25 anos.
Outra novidade, a candidatura, também no próximo ano, a credenciação pela Rede Portuguesa de Museus – o Museu do Vidro abrange 300 anos de história com início no século XVIII e soma mais de 460 mil visitantes desde a abertura em 1998.
Milhares de obras
Face a uma colecção de 7 mil peças, falta pessoal e estratégia orientada para a investigação, a inventariação e a conservação, ligada às universidades, explica Jorge Custódio, que enumera, além da perspectiva artística e decorativa, a componente tecnológica, utilitária e industrial – no acervo existem, por exemplo, duas locomotivas do comboio da mata – capaz de reflectir os artigos de embalagem, científicos e para construção, a manufactura, a mecanização e a automotização, a cristalaria e a garrafaria. E, ainda, o valor social, com trabalho ao vivo, como já acontece. “A comunidade pode e deve participar, com espírito de contributo”, reforça. A chegada de John Beare (em 1747) continua na memória da cidade que agora é capital do vidro, sobretudo, graças aos investimentos multinacionais dos grupos Vidrala, BA Glass e Anders Invest.
Ou seja, o Museu do Vidro, maior do que é hoje, “tem de ter pelo menos quatro núcleos”, sugere o professor e fundador da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial. O palácio como no tempo dos Stephens, o Museu propriamente dito, a Olaria dos Potes e os serviços técnicos, além do Núcleo de Arte Contemporânea (NAC), que funciona no Edifício da Resinagem.
Grande exposição em 2024
“Tendo em conta o público, consideramos que o Museu do Vidro tem influência nacional. Trata-se do único museu em Portugal vocacionado para o estudo e preservação da história da indústria do vidro, bem como para a divulgação da produção vidreira e do vidro artístico nacional”, aponta Aurélio Ferreira. “De salientar a visibilidade que o Museu do Vidro começa a ter a nível internacional, muito devido às exposições temporárias de vidro artístico de grandes artistas internacionais que se têm realizado no NAC”.
Em 2024, a Câmara pretende disponibilizar – no primeiro semestre – uma nova exposição temporária, Memória e identidade da fábrica dos Stephens: história, valorização e Museu do Vidro (1747-1998), com duração de um ano, a partir do Programa de Valorização do Património Municipal da Fábrica de Vidros da Marinha Grande encomendado pelo município a Jorge Custódio e apresentado publicamente em Março.
A conferência de 13 de Dezembro é a primeira de um ciclo a realizar até Maio, com periodicidade mensal. Estão ainda previstos workshops, tertúlias e performances artísticas.
Instalado na antiga residência dos Stephens, construída no século XVIII, o Museu do Vidro – que reabriu em 2013, com novo núcleo, o NAC, após dois anos encerrado ao público – recebeu 464.285 visitantes entre Dezembro de 1998 e Novembro de 2023, com 24 mil visitantes por ano, em média, nos últimos dez anos.
As peças mais antigas datam do século XVIII e incluem as galhetas unidas da Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande e o copo pintado com a inscrição “Vivat Ionnes V” da Real Fábrica de Vidros da Coina.
Até 4 de Fevereiro, está patente no Museu do Vidro a exposição Deixa que te conte… contos, histórias e lendas em vidro soprado, enquanto no NAC, até 30 de Dezembro, permanece a exposição Postais coloniais, De La Torre Brothers.
Austrália, Estados Unidos, Japão, Finlândia e Espanha, além de Portugal, são alguns dos países de origem dos artistas representados nas 46 exposições temporárias realizadas até hoje, desde 1998, no Museu do Vidro, incluindo grandes mestres de Itália e da Marinha Grande.
No Núcleo de Arte Contemporânea (NAC), decorreram 22 exposições temporárias, com a Câmara da Marinha Grande a lembrar artistas nacionais como Teresa Almeida e Manuela Castro Martins, e internacionais, como Javier Gomez e Pedro Garcia, Klaus Hilsbecher, Einar e Jamex de La Torre.
De entre as exposições no NAC, sobressaem O lado feminino do vidro (2013), European glass context (2014- -2015) e Postais coloniais, De La Torre Brothers (2022-2023).