A Colecção Educativa do Plano de Educação Popular, que foi oferecida ao Museu Escolar de Marrazes pela Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) do Centro, vai agora ser digitalizada por bolseiros da licenciatura de Educação Básica da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) de Leiria, no âmbito do projecto Memória Educativa Virtual: Digitalização e preservação do acervo do Museu Escolar de Marrazes, para ficar disponível online a todos os que a queiram consultar.
São cerca de 130 livros da Campanha Nacional de Educação de Adultos, que foram lançados na década de 50, no Estado Novo, contendo informação sobre os mais variados temas. Dividida por séries, as duas primeiras falavam sobre a doutrina e informação e propaganda.
O conteúdo dos livros seguintes debruçava-se sobre História da Pátria, Geografia, Agricultura, Educação Sanitária, Música, Educação Familiar, Poesia, Arte Popular e Etnografia, Educação Moral e Cívica, Desporto, Química, Electricidade, Imprensa, entre muitos outros.
Todos os livros iniciavam-se com uma página contendo um parágrafo com o “pensamento de Salazar”, que depois do 25 de Abril se mandou rasgar e destruir. Estes livros faziam parte das bibliotecas populares durante o Estado Novo para difundir a leitura. Destinavam-se aos alunos da instrução primária, mas também à educação supletiva de adultos.
No entanto, Graça Sampaio, directora do Museu Escolar de Marrazes, recorda que o acesso não era assim tão fácil, porque as obras estavam “fechadas em vitrines”. Por outro lado, grande parte da população nem sabia ler.
“Essa colecção foi estudada pela professora Ana Maria Machado, da Faculdade de Letras de Coimbra, que, quando soube que os livros vinham para o museu, sugeriu que fossem digitalizados, para que todos os investigadores pudessem usufruir deles”, revela Rita Brites, directora técnica do museu.
O protocolo com a ESECS surge por intermédio de Virgínia d’Avila, professora da Universidade de Pernambuco e uma apaixonada pela história da educação, que veio a Portugal realizar um pós-doutoramento sob a orientação de Pedro Morouço, director da escola.
Milhares de peças de acervo
“Este projecto é um balão de oxigénio para o museu, porque nos dá grande visibilidade, além de nos apoiar”, salienta Graça Sampaio, ao explicar que o acervo do museu contempla milhares de peças “riquíssimas e importantíssimas para a história da educação, não só do Estado Novo, mas desde sempre”.
Sem recursos para fazer o inventário e a digitalização dos milhares de documentos, este é um primeiro passo que poderá impulsionar o Museu Escolar de Marrazes, o único museu da rede nacional que é gerido por uma junta de freguesia.
Constatando que as verbas de uma junta não são idênticas às de uma autarquia, Graça Sampaio critica que a Câmara de Leiria não esteja sensibilizada para este acervo.
“Este museu precisava de espaço. Não há um museu nacional em Portugal dedicado à educação. Este é único e o nosso acervo é muito amplo”, destaca. Rita Brites reforça que grande parte do acervo está espalhado pelo edifício que acolhe o museu, empilhado ou encaixotado, por falta de espaço.
A directora técnica confidencia que, pelo menos, este estreitamento com o Politécnico de Leiria poderá contribuir para arrancar com outros projectos que envolvam os estudantes, como a criação de visitas em 3D ou até a construção de um novo site, já que o actual está obsoleto.
Depois da digitalização da Colecção Educativa, Rita Brites gostaria que fosse possível manter o projecto e passar ao scanner de outros milhares de documentos. A directora técnica conta que aproveitou a pandemia para catalogar cerca de 6.700 documentos, mas há muitos outros milhares, que incluem regulamentos e correspondências das escolas ou suportes legislativos ao longo das décadas.
Para Pedro Morouço, enquanto instituição de ensino superior, faz todo o sentido a ESECS estar “em rede com parceiros da comunidade, sendo que a história da educação e o acervo do museu é importante”.
“O museu é uma instituição que precisa do nosso apoio e cá estamos para este projecto e para outros que possam surgir através desta parceria. E já há algumas ideias”, acrescenta o director da ESECS, ao admitir que é também uma forma dos futuros professores ficarem a conhecer um pouco da história da educação, já que nenhum plano de estudos em Portugal contempla uma cadeira específica sobre esta temática.