O primeiro ganhou fama com aquele estilo “eu sou do jazz, o Caetano Veloso é o maior, e vocês não percebem nada disto”, desprezando o evento que lhe deu fama e que o ajudou a ter público para ouvir aquelas xaropadas em plateias maiores – antes isso do que tocar piano em lobbies de hotel, imagino eu.
O outro ganhou fama com um estilo mais contemporâneo tipo “eu só vim aqui ver a bola, o people pode curtir bué ou achar que eu sou bué maluco. Cada um vê aquilo que quiser”.
Dois fenómenos recentes da música portuguesa a abanar com isto tudo, fazendo com que as pessoas discutam música sem saber puto do que estão para ali a dizer. Mas isto não é de agora, nós sempre tivemos esta tendência para o “achismo”, uma corrente muito em voga numa população, digamos, pouco informada.
O Sobral lá vai fazendo a sua carreira, o público ainda reclama quando não canta “aquela”, e já faz parte da elite da música popular portuguesa, ou seja, agora é um dos “mesmos de sempre”.
O Rui Veloso também anda a cantar “aquela” há 40 anos. C’est la vie, meu caro Sobral. Mas o presente é do Conan Osíris. Um presente com futuro? Não sabemos. Como diria qualquer autarca:” o futuro o dirá”.
A minha querida amiga Sara foi a primeira pessoa a lançar-me o desafio há cerca de um ano: “’bora ver o Conan à festa do Indie Lisboa?” Isto julgando ela que eu fazia parte do #TeamConan. Pois que recusei, até porque tinha andado a ouvir o disco Adoro Bolos e, definitivamente, Borrego, Celulitite, 100 Paciência e os outros temas do álbum não me caíram no goto.
Mas fiz mal, porque agora que vi o Conan Osíris no Festival percebi melhor o artista e todo aquele cenário à volta. Vi a luz. A Eurovisão foi feita para o Conan e o Conan foi feito para a Eurovisão.
Se uns dizem que está ali o Mediterrâneo, os arabescos, o fado, o Andy Warhol, o Duchamp, a Madonna, o Variações, eu acrescento também que está ali o eurodance, o euro trash, o pós- [LER_MAIS] modernismo, a Joana Vasconcelos, a Cristina Ferreira, a Kim Kardashian e, sobretudo, a internet.
Conan é o artista da internet, um troll, um emoji arty, um meme, um display, um like, um hate, um love. Veremos se acontece o mesmo que aconteceu com a Joana Vasconcelos: enquanto tinha as obras no Lux era um must, posou ao lado dos Cavacos lixou-se.
O Conan também começou na Galeria Zé dos Bois, mas isso já foi há séculos neste tempo digital. A minha relação com o Conan tem o problema clássico de muitas relações: “o problema não és tu, sou eu. Preciso de tempo. A minha música agora é outra, mas segue o teu caminho e faz aquilo que te der na real gana, rapaz. Quem sabe um dia ainda nos encontramos por aí?”
*Promotor cultural