Ontem não foi excepção mas como se ouvia uma música do novo disco de Salvador Sobral ainda estive por breves momentos em dúvida se estava mesmo a sintonizar a frequência certa ou se esta ainda era sobreposta por alguma rádio nacional.
Quando se vez ouvir a voz do apresentador tirei as dúvidas e numa das principais rádios espanholas fazia-se um destaque ao novíssimo Paris, Lisboa.
Vários temas seguidos, sempre intercalados com informações entusiastas sobre o facto do disco ser cantado em várias línguas – português, inglês, francês e espanhol-, e revelar uma voz e aura únicas de um intérprete maior como Salvador, assumindo cumplicidades marinadas entre o jazz, a world music e o formato canção, talhadas por um compositor único como Júlio Resende, sempre com uma produção absolutamente sublime por Joel Silva (curiosamente, um músico que nasceu em Leiria e há muito se tem movimentado a partir da esfera do lisboeta Hot Clube).
Até poderíamos pensar que, numa rádio espanhola, o foco se centraria nas canções em castelhano mas, para nossa surpresa (ou não), os maiores destaque foram três temas em português e o dueto com a sua mulher, em francês.
Ao longo de meia hora não se falou de Festival da Canção e tal não era de todo necessário para mostrar que estamos perante um disco que se assume como um dos grandes lançamentos mundiais do ano.
Salvador já não é o “irmão da Luísa” nem o “vencedor do festival”. Em poucos meses, com a muito pouco fogo de artifício e muito trabalho de toda a sua equipa geriu o mediatismo e montou as bases de uma carreira que tem tudo para seguir de vento em popa a um nível planetário.
Por muito massacrado que tenha sido pelo omnipresente Amar pelos dois, ninguém pode ignorar uma diferença abismal entre Excuse Me e este Paris, Lisboa. O novo de Salvador Sobral é um daqueles discos tão honestos e tão bem construídos que poderia ser uma edição de uma qualquer editora de renome mundial e podia bater-se, de igual para igual, contra qualquer concorrência numa disputa de prémios mundiais.
Apesar do seu título só mencionar duas cidades, este é um disco com mundo e do mundo, com uma elegância e bom gosto absolutamente desarmantes. E o reconhecimento que aí vem promete (e ainda bem) ser inequívoco.
*Fundador da Omnichord Records