O percurso de André Barros volta a cruzar-se com o dos Sigur Rós, desta vez, por causa do novo álbum da banda, ÁTTA, editado na sexta-feira – e, em concreto, a propósito do single “Andrá”. É o único português entrevistado pela realizadora Katya Gimro e aparece em três momentos do videoclipe, que reúne testemunhos e reacções de fãs e também de pessoas que nunca antes tinham contactado com a arte de Jónsi e restantes cúmplices.
Logo à noite, André Barros vai estar no palco do Teatro Miguel Franco, em Leiria, com o projecto 4 Mãos. É mais um capítulo da carreira iniciada, precisamente, através de um estágio, como técnico, no estúdio Sundlaugin, nos arredores de Reykjavík, à época propriedade de Birgir Jón Birgisson (engenheiro de som dos Sigur Rós) e Kjartan Sveinsson (teclista da banda).
Cerca de dez anos volvidos, o compositor da Marinha Grande participa no videoclipe de “Andrá”, não como músico, mas enquanto seguidor que comenta a influência exercida pelo colectivo originário da Islândia.
“A principal qualidade da música [dos Sigur Rós] é o facto de que tem espaço suficiente para estarmos imersos na música e então, de repente, descobrimo-nos rodeados por algo que nos faz confortáveis para nos expressarmos”, sinaliza, durante a entrevista captada em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
A oportunidade teve origem num convite dos Sigur Rós ao público, partilhado nas redes sociais, para gravações a 14 e 15 de Maio. “E era precisamente nesses dias que eu ia para Nova Iorque, a propósito de uma peça de dança, em que fiz a banda sonora”, explica André Barros ao JORNAL DE LEIRIA. Contactou Katya Gimro e nas datas agendadas encontrou-se com a realizadora e com os restantes fãs num estúdio em Brooklyn, no extremo ocidental de Long Island. Além do videoclipe, está previsto o lançamento de um documentário.
Islândia, o eterno retorno
Depois do estágio em 2012, ao longo dos anos André Barros regressou várias vezes ao Sundlaugin para gravar bandas sonoras de que é autor, álbuns, colaborações com a cantora e compositora islandesa Myrra Rós, e mais recentemente, com o pianista Tiago Ferreira, de Leiria, o primeiro disco do projecto 4 Mãos, que nesta quinta-feira, 22 de Junho, se apresenta ao vivo (no contexto do festival Clap Your Hands) pela primeira vez depois das sessões de estúdio.
Na Islândia, também compôs e gravou para o filme Leda e o tema com o mesmo nome viria a ser premiado em 2019 nos Independent Music Awards, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
O estágio no Sundlaugin – a que se candidatou devido ao interesse na obra dos Sigur Rós – acabaria por marcar, até hoje, a carreira (e a música) de André Barros.
Actualmente, o compositor da Marinha Grande está a criar para um anúncio da L’Óreal e tem na indústria da publicidade uma fonte regular de trabalho. No currículo, constam colaborações com a LG, a Volvo e a Renault, entre outras marcas, em campanhas à escala internacional.
Cinema, teatro e dança
Já este ano, correspondeu a uma encomenda para os 100 anos da fábrica de Maceira-Liz da cimenteira Secil, em que assina, com o guitarrista Francisco Sales, a banda sonora do filme Pedras de Portugal, documentário de 1933 realizado por Manuel Luís Vieira. O cinema é uma das áreas em que mantém intensa actividade. Dois exemplos são Brin d’Amour, do leiriense Frederico Custódio, e Our Father, da norte-americana Linda Palmer, com Michael Gross no papel principal, que valeu a André Barros um prémio nos Los Angeles Independent Film Festival Awards, em 2015.
Num percurso sempre preenchido, constam também o teatro – Desumanização, pela companhia Art’Imagem, a partir do texto de Valter Hugo Mãe, é o último caso – e a dança: Conscious Shift, coreografia de Peter Chu, em que participa o bailarino Roger Van der Poel, estreou em Nova Iorque no mês passado.
Na Marinha Grande, André Barros criou a peça “Transparente”, a convite do município, para assinalar o Ano Internacional do Vidro 2022. “No fundo, uma narrativa, uma metáfora para aquilo que eu sinto que o vidro é”, assinala. “Esta banda sonora do centenário da Maceira é bastante diferente daquilo que tenho feito, o Conscious Shift também é completamente diferente, disruptivo, não é normalmente o que eu faço. Vou tentando incluir novos sons, vou explorando cada vez mais a electrónica. Vou tentando não me repetir”.
Entretanto, Vivid, de 2021, editado pela Omnichord, é o álbum mais recente. E, para já, não há planos para outro longa duração em nome próprio.