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Home Entrevista

“Não é aceitável aplicar castigos a esta população”

Elisabete Cruz por Elisabete Cruz
Setembro 5, 2024
em Entrevista
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“Não é aceitável aplicar castigos a esta população”
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A construção do lar residencial é um sonho tornado realidade?
É verdade e foi um parto difícil. É uma necessidade dos pais, que podem ficar descansados quando morrerem, porque os filhos continuam com os seus pares e não vão para um lar de terceira idade. Portanto, é uma extensão da família. Temos duas unidades residenciais: uma em Leiria e outra em Amor. A de Amor é uma habitação adquirida, onde ainda em fase de construção pudemos fazer adaptações para corresponder às exigências legais. A de Leiria era uma casa antiga e a Segurança Social, nas auditorias, sempre disse que não reunia as exigências legais de agora. Pensámos logo na construção de um lar. A Câmara deu-nos o terreno, candidatámos-nos ao programa Pares, mas todo o processo foi muito moroso. Entretanto, houve a pandemia, os aumentos de preço, mas o valor aprovado inicial de 1,7 milhões de euros manteve-se. Mas neste momento já está em 3,2 milhões de euros. Já fizemos o lançamento da primeira pedra e, mediante todas as dificuldades, aquele dia foi uma lufada de ar fresco, empurrou- nos. É aquela sensação de que vale a pena. A construção está prevista terminar daqui a dois anos e sabemos que vão ser anos apertados, porque a comparticipação não é na totalidade. É cerca de um milhão. A Câmara de Leiria colaborou com 400 mil euros e a de Porto de Mós com 100 mil euros. Temos de fazer um empréstimo ao banco e recorrer à comunidade. Ficam a faltar 1,5 milhões de euros. Mas tenho esperança. A Cercilei tem sido muito acarinhada pela sociedade. Foi uma necessidade e agora é a concretização de um sonho.

Vai dar resposta a quantos utentes?
A 30. O lar de Leiria vai encerrar, pelo que temos 12 utentes que vão ser transferidos para o novo. Portanto, iremos ter 18 vagas.

O lar garante a autonomia dos jovens?
Sim. O lar está muito bem situado [terreno por detrás da Igreja de Marrazes] e inserido na comunidade. Temos jovens autónomos que de certeza vão usufruir da localização, podendo ir a pé até à cidade. Depois têm os cafés e os supermercados, alguns gostam de ir à missa… Aqueles que têm autonomia vão usufruir e aumenta-lhes a responsabilidade. À partida, poderão ir sozinhos, mas têm de telefonar a informar dos seus procedimentos. Eles estão ansiosos por ter a casa feita. Este é um grupo muito especial e tem a possibilidade de estar com os seus pares e com colaboradores preparados para o efeito, o que às vezes é difícil encontrar nos outros lares. Por isso, lutámos tanto por este lar. Tivemos jovens que foram para lares da terceira idade, mas acabam por estar desenquadrados. Apesar de terem deficiência, não são crianças e têm de ser respeitados e tratados como tal. Não é aceitável aplicar castigos a esta população. Não têm idade para ser castigados. Têm de ter a consciência de que os seus actos acarretam consequências, o que é diferente.

Está a terminar o seu mandato, este poderá ser o seu último.
Já estou aposentada e estou em regime de voluntariado. Estão a incentivar-me para cumprir mais um mandato. Se o fizer saio daqui com 72 anos. Mas ao mesmo tempo é muito difícil sair, porque vi a instituição crescer. Estou cá desde o início, há uns 30 e tal anos. Estive 13 anos no ensino regular e fazia, com um grupo de professores, o sarau de actividades corporais, cuja receita revertia para a Cercilei. Depois convidaram-me para concorrer para a Cercilei. Não estava à espera e pensei: é um desafio. Nunca mais saí. Sou uma pessoa um bocado competitiva e lutadora e gosto de respostas. Vou ao fundo das questões. Sou persistente. A instituição estava numa antiga casa de habitação na Estação, que não era digna para uma instituição que estava a crescer. Conseguimos este terreno e o Lions Clube Leiria, através da Fundação Internacional, atribuiu-nos um subsídio de 50 mil dólares. Mantemos uma sala educacional para os casos que são encaminhados pelo ensino regular e que acham que não conseguem dar resposta. São casos muito complicados.

O que gostaria de deixar feito?
Além da construção deste lar, há duas coisas que gostava: uma é que houvesse uma resposta na área da doença mental. Acabaram com as instituições, mas devem é mudar a filosofia. Ser uma organização mais inclusiva, mas acompanhada pela saúde, porque as pessoas com deficiência com doença mental, se estiverem controladas em termos de saúde, são produtivas. Deve-se fazer um processo de inclusão, mas acompanhado e libertando as famílias, que estão muitas vezes no limiar. Gostava de poder ter esta valência na Cercilei, num terreno à parte, porque não concordo com instituições muito grandes. Este espaço tem as três vertentes de educação, ocupação e formação profissional e aqui não faria mais nada. Temos um CACI (Centro de Actividades e Capacitação para a Inclusão), em Porto de Mós, e temos a intervenção precoce no contexto. Este centro de reabilitação de oportunidade, chamemos-lhe assim, teria de ser noutro local, como numa espécie de quinta, mas inserido na comunidade. Outra situação que gostava era de proporcionar aos jovens que namoram a possibilidade de viverem juntos. Por que é que queremos que eles sejam normais em tudo e quando chega à parte da sexualidade, aí já é deficiente?

Quais têm sido as vossas maiores dificuldades?
No fundo, a instituição é como uma casa. Temos de definir prioridades e há prioridades que são mesmo prioritárias. Quando temos de avançar para a construção de um lar, por exemplo, temos de cortar em algum lado, porque o dinheiro não estica. Recorremos muito às entidades locais, ao tecido empresarial e às actividades de angariação de fundos. Nem todos os projectos são aprovados. Pode ser mais difícil, mas conseguimos ter mais resultados se fizermos actividades, apelarmos à comunidade e falarmos com as autarquias.

Estas instituições substituem o Estado. Não deveriam ser melhor apoiadas?
Sem dúvida. Quando os governantes dizem isso, não percebo por que é que não vêm mais ao terreno e dar seguimento. É desgastante ver que ao longo de todos estes anos a evolução é muito pouca. Mesmo a nível das entidades parece que estamos a pedir. Então, onde é que está a substituição ao Estado? Os salários que se pagam são baixos, pelo que quando as pessoas encontram algo melhor vão embora e perdemos excelentes colaboradores. Dever-se-ia rever as tabelas salariais para que as pessoas estivessem motivadas. Precisamos de obras nos edifícios, mas não as podemos fazer se temos o lar a decorrer. Acho que há desinteresse. Quando as coisas estão muito degradadas a intervenção sai mais cara.

A integração no ensino regular é opção para todos ou há situações em que seria melhor os jovens estarem em instituições como as cerci?
Não nos devemos sobrepor, nem nos ultrapassarmos uns aos outros ou olhar para o interesse pessoal. Devemos olhar para o jovem. Quando a nossa formação profissional abria as portas aos alunos do ensino regular havia mais sucesso e criação de hábitos de trabalho mais cedo. Chegamos a ter formação de quatro anos para jovens a partir dos 16 anos. Nessas idades eles gostam de ser úteis e aqui são valorizados, porque são o elo mais forte. São vistos, não são mais um. Aquelas pessoas que não se conseguem integrar, são marginalizadas, não conseguem corresponder intelectualmente à média do que se pretende no ensino regular e, portanto, isso vai criando rótulos, reduzindo a auto-estima e provocando comportamentos desajustados. Tendo a Cercilei essa vertente, que é o Cinform, onde as pessoas estão preparadas para os valorizar, têm mais sucesso. Nós trabalhamos pela responsabilidade e pelos afectos e não pela penalização.

Os técnicos aqui estão melhor preparados?
Tem de haver uma capacidade de tolerância. Não é permitir tudo, mas é responsabilizar.

Tem havido denúncia de jovens com autismo com problemas de integração no ensino regular.
Muitos dos casos que vêm para aqui são autistas. Estudando caso a caso, ajustam-se estratégias e é mais fácil tirar partido das suas capacidades. Muitas vezes, o comportamento agressivo do autista é uma resposta à não satisfação, ao desagrado que eles não sabem expressar. Mas isso só estudando com um grupo pequeno e com pessoas dispostas a levar uma bofetada de vez em quando.

Ainda existe vergonha e estigma associados às crianças com deficiência?
Quando uma criança nasce com deficiência, todas as expectativas da família caem por terra. Até se fazer o luto, a aceitação e procurar respostas que num mundo diferente os permite evoluir é difícil e talvez exista essa culpabilização e vergonha. A tal intervenção precoce que trabalhamos dos zero aos 6 anos é muito com a família. Talvez ainda se olhe para a pessoa diferente, mas não sei se não será até normal. Há pouco tempo fui a África e as pessoas olhavam para mim, porque eu era diferente. Sou branca. Naturalmente olha-se. É saber lidar com isso e tentar que aconteça cada vez menos. É natural que, quando a deficiência é notória, a pessoa olhe, mas se não houver comentários, também já é uma forma de aceitação.

O mercado de trabalho já está mais aberto para contratar pessoas com deficiência?
Se eles forem bem preparados, tornam- se úteis. Quem faz essas experiências não se arrepende. Agora é preciso divulgar essas experiências. O entretenimento deles não é o café nem a conversa com um amigo, é o estar a trabalhar. É preciso que haja mais gente a acreditar, a dar o passo em frente e a pensar que, mais tarde, quando tiver de pagar o ordenado, não sinta que é uma caridade. Tem de se encontrar a actividade ajustada às capacidades da pessoa e a partir do momento em que ela faz bem, exigir que faça sempre bem.

Há mais de dez anos que a Cercilei realiza o Encontro da Diferença. Que diferença tem feito?
Para já, abordamos temas de interesse por especialistas conceituados e que dedicam muito do seu tempo à investigação. Acho que é uma lufada de ar fresco, onde também aproveitamos para apresentar o nosso trabalho, as boas práticas, desmistificar a deficiência e levar as pessoas a ver o outro no verdadeiro sentido da palavra e um ser completo. Isso já faz a diferença. Os coffee break são preparados e servidos pelos nossos formandos, nos momentos de pausa utilizamos as capacidades artísticas dos nossos jovens, que se sentem valorizados e incluídos. Aproveitamos esses momentos para que todos estejam em contacto com evidências. Isso promove o conhecimento das diferenças e de não tratar por igual o que é diferente. Se tratarmos por igual, estamos a ser desiguais 

Cercilei presta vários serviços à comunidade. Como é que tem sido a aceitação?
Numa fase inicial as pessoas pensavam que era caridade. A empresa de inserção é uma empresa que concorre no mercado de trabalho como qualquer outra. Portanto, temos de ter preços competitivos, mas que permitam a sobrevivência da empresa. O objectivo não é lucro. É suportar as despesas de modo a que as pessoas continuem integradas no mundo laboral e se sintam realizadas. Os serviços são jardinagem e lavandaria.

Estes jovens também têm qualidades?
Há muitas capacidades escondidas, se uma pessoa se debruçar e se lhes der tempo. Se permitirmos que eles errem, no fundo como nós, que também aprendemos muitas vezes por tentativa e erro.

 

De Moçambique para Leiria
 
Com formação de base em Educação Física, Cristina Meireles, 68 anos, é o rosto da Cercilei há mais de três décadas. Nascida na cidade da Beira, em Moçambique, fixou-se em Leiria para dar aulas com o marido, que veio trabalhar para a Direcção-Geral dos Desportos. Docente na Escola Secundária Domingos Sequeira, Cristina Meireles organizava com um grupo de colegas um sarau de actividades corporais. Decidiram cobrar um preço simbólico pelas entradas para ajudar uma instituição. A Cercilei foi a escolhida e a relação com a Cooperativa de Ensino e Reabilitação de Crianças Inadaptadas nunca mais terminou. Foi desafiada a ir dar aulas para a instituição, sem qualquer formação na área da deficiência. Correu tão bem, que nunca mais saiu, acabando por integrar os órgãos sociais. A natação era uma das suas especialidades e foi no antigo ‘tanque’ municipal, que Cristina Meireles ensinou muitos leirienses a nadar. “O meu irmão costuma dizer que metade de Leiria aprendeu a nadar connosco [com ela e com o marido]. A outra metade morreu afogada”, brinca.
Etiquetas: autismoCercileiCristina Meirelesdeficiênciaentrevistasociedade
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