Sempre me irritou o argumento do caminho único. Será, certamente, um traço de personalidade que me levou a ser acusado frequentemente de ser do contra – e que me levou a abraçar entusiasticamente esse epíteto.
Provavelmente a primeira confrontação com o argumento do caminho único foi em tenra idade com a questão religiosa. Pertencer porque “tinha que ser ” … E quando perguntava “mas porquê” a resposta era porque aquela era a única alternativa.
Mas nesse processo quase obstinado de questionar, percebi que há sempre alternativa. A tudo.
Em alguns casos, há escolha entre várias boas alternativas, noutros entre uma melhor e outras menos boas, noutros ainda entre uma péssima e várias horríveis. E, naturalmente, a avaliação que cada um faz é francamente subjetiva.
No entanto, houve uma certeza com que fiquei: há sempre vários caminhos. Este argumento vem sendo repetido também a propósito de questões ambientais, com posições extremistas de ambos os lados.
De um lado, os ambientalistas radicais que defendem um regresso à idade do bronze como forma de salvar o planeta: nada de carne, de carros, de palhinhas, só depende de nós – não há alternativa, é isto ou o fim do mundo.
No extremo oposto, os negacionistas (por ignorância ou por interesse) das questões ambientais: eu quero continuar a andar de carro, o nosso carvão até é limpo, as nossas vacas não largam metano – não há alternativa ao sistema instituído, [LER_MAIS] é isto ou vai tudo para o desemprego.
Enquanto forem estes os argumentos, nenhuma conclusão se dará, nem nenhum avanço se conseguirá. Há alternativas, sim.
Do mesmo modo que há interesses fortes em que nada mude.
Por um lado, a chantagem que é feita ao consumidor – dizendo que ele é o responsável por haver excesso de embalagens, por exemplo – quando na verdade não há escolha efetiva: todas as empresas se comportam da mesma forma.
Por outro lado, a impossibilidade de reorganizar o sistema produtivo para – por exemplo – produzir menos carne é falsa: outras culturas podem substituir a produção de carne.
Ou, ainda, a necessidade absoluta de hidrocarbonetos (petróleo) como fonte de matérias e energia: há cada vez mais soluções para produzir químicos de base sem petróleo, recorrendo a novas tecnologias e energia renovável (ver sciencemag.org, 19 de Setembro de 2019).
A TINA (there is no alternative) é, tipicamente, o argumento de mentes tacanhas que não são capazes de mostrar bons motivos para suportar o caminho que defendem.
Por pessoas mais preocupadas em “ganhar” do que em encontrar as melhores soluções para os problemas.
Discutam-se as alternativas, colabore-se na busca das melhores soluções, e a comunidade beneficiará.
Afinal, a espécie humana prosperou graças ao lado gregário e colaborativo.
*Professor e investigador
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográf ico de 1990