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Home Abertura

Natal é pouco amigo do ambiente

Lurdes Trindade por Lurdes Trindade
Dezembro 19, 2019
em Abertura
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“Olá, meu herói do Natal. O meu nome é Miguel e tenho 11 anos. Este ano quero um telemóvel ou um colchão para dormir. Acho que mereço o que lhe pedi porque me portei bem nas aulas e em casa, ajudei a minha mãe, especialmente a cozinhar, porque às vezes não tem tempo e outras porque eu quero (…).”

Miguel pede apenas um de dois presentes ao Pai Natal, desconhecendo que este ano irá receber também um jipe telecomandado, porque os pais entendem que, sendo uma criança, deve viver a magia de Natal. Mas, no total, entre tios e avós, que representam uma família grande, Miguel poderá receber cerca de uma dezena de prendas.

Miguel vai ser surprendido na hora de abrir os presentes. Não espera tanto porque sabe bem o que quer e também tem noção que nem tudo correu bem. “Não posso esquecer quando sujei a casa com uma experiência que fiz”, penitencia-se.

Miguel herdou dos pais uma forte consciência ambiental. Apesar da tenra idade, já percebeu que é possível viver um Natal mágico sem o consumo excessivo associado à época.

Além de pedir poucos presentes, sabe que na noite de Consoada se produz muito lixo, pelo que é dos primeiros a desafiar os adultos para o reduzir e reciclar. Mas, sobretudo, quer evitar o desperdício, como, aliás, contamos pais.

Tal como Miguel, a maioria das pessoas com quem o JORNAL DE LEIRIA falou, ambiciona um Natal mais amigo do ambiente, embora seja reconhecido que não é fácil mudar comportamentos. Mesmo assim, há uma tentativa de resistirem ao consumismo desenfreado típico desta época, conscientes de que quando mais comprarem mais lixo é produzido e mais desperdício é alimentado.

Todos falam do excesso de presentes que as crianças recebem actualmente, por comparação com o passado, mas a maioria reconhece que é um processo difícil de gerir, principalmente quando se tem famílias numerosas.

Pais e avós vão, assim, tentando gerar o equilíbrio entre a vontade, típica da época, de oferecer tantas prendas e a necessidade de serem mais contidos. Para bem do ambiente e da valorização do presente pela própria criança!

Ana Milhazes, socióloga, fundadora do Movimento Lixo Zero Portugal, cortou o mal pela raiz, não oferecendo nem recebendo presentes.

Aliás, confessa que entre os seus amigos e familiares, apesar da consciência ambiental que já existe em todos, continua a oferecer-se presentes de Natal. “Com a minha postura, não quero que as pessoas mais próximas sejam radicais, mas que pensem duas vezes e que em vez de comprarem dez, possam reduzir para cinco.”

A socióloga marca, desta forma, a sua posição “contra o consumo”, alegando que não faz sentido, nesta que é a época de que mais gosta, desde miúda, continuar a haver estes excessos.

“Quando era criança, tinha dois ou três presentes e era muito bom. Hoje cometem-se excessos que dificultam a vida ao planeta. No Natal, para mim, é tempo de rever a família. Todas as prendas à volta desvirtuam o seu espírito.”

Segundo Ana Milhazes, é tempo de se perceber que as próprias crianças não valorizam o excesso. Veja-se as cartas que escrevem ao Pai Natal, cujos pedidos, na sua maioria, não passam de dois ou três presentes.

“Sabem o que querem, mas os adultos passam sempre do limite. As crianças não conseguem brincar com tudo e nem dão valor às coisas. Vi os meus primos a abrir um presente e a colocar de lado, a abrir outro e outro e a não brincarem com nenhum. É horrível”.

Mais grave, diz, “a maioria das pessoas não consegue fazer a ligação entre o excesso de consumismo e as questões ecológicas”, o que considera “uma incongruência”, num momento em que tanto se tem apelado à necessidade de salvar o planeta.

[LER_MAIS]Ana Milhazes admite que acordou para uma maior consciência ambiental há cerca de cinco anos, iniciando aí um processo de limpeza da roupa e de outros bens materiais que inundavam a sua casa.

“Hoje, raramente faço compras e quando o faço procuro lojas em segunda mão ou faço trocas”, revela a socióloga que praticamente vive sem produzir lixo.

As crianças não
conseguem
brincar com tudo e
nem dão valor às
coisas. Vi os meus
primos a abrir um
presente e a
colocar de lado, a
abrir outro e outro
e a não brincarem
com nenhum. É
horrível
Ana Milhazes

Para a maioria das pessoas, “ser ambientalmente saudável ainda é ter um carro eléctrico ou instalar painéis solares, não ligam às coisas pequenas, porque são hábitos enraízados.

A sociedade portuguesa tem o consumo muito ligado à necessidade de se mostrar aos outros, de não deixar de dar presentes porque parece mal”, reflecte. Se nos focarmos no desperdício alimentar nesta época, a socióloga fica chocada com o que vê ano após ano. “A maioria das pessoas quer uma mesa farta, “tipo não deve faltar nada nesta casa”, como se isso fosse o mais importante.

“É ridículo haver este desperdício todo, já há o lixo dos presentes, quando se acrescenta o lixo dos alimentos, é do que mais me choca.”, diz, aconselhando à distribuição das sobras pelos convidados. Ana Milhazes sugere ainda o princípio da reutilização nas decorações de Natal. Tal como faz uma amiga, nesta época e nos aniversários, a troca de decorações entre amigos é uma boa solução. “Assim, cada casa tem decorações diferentes todos os anos, é uma forma de reutilizar.”

Tradição: Um Natal muito espartano

Maria Miguel Ferreira, assessora da ministra da Cultura, diz que a sua família “foi sempre muito frugal” no Natal. É um prazer estar à mesa e à lareira, “mas nunca fomos muito de prendas, é tradição não sermos muito materialistas”.

Quando era pequena, Maria Miguel tinha sempre “uma prenda, mas era uma e não aquele exagero de presentes. Foi sempre um Natal muito espartano, mesmo com o meu sobrinho, nunca fomos muito dados a grandes gestos de consumismo. Nem a grandes correrias para as lojas”, explica.

Maria Miguel admite que foi nos últimos anos que ganhou uma maior consciência ecológica. Não foi educada com essas precupações ambientais, embora tenha crescido com “um conjunto de hábitos” proporcionados pelos pais, que a ensinaram a usar pouca água ou a optimizar o consumo de energia. “Mas sou da geração do fast fashion, do IKEA, em que se compra a mobília e ao fim de poucos anos deita-se fora.”

O trabalho que desenvolveu no último ano no CEIIA, um centro de engenharia muito ligado à indústria automóvel, onde se fala muito das questões ambientais, do eléctrico por oposição ao combustível, proporcionou-lhe também “uma consciência muito mais clara sobre boas práticas ambientais”.

Nesse sentido, diz, “o mundo tem de mudar os seus comportamentos”. Ainda assim, Maria Miguel admite que não conseguiu “uma pegada de carbono neutra”, essencialmente por causa do uso excessivo do carro.

A viver em Matosinhos, a trabalhar em Lisboa, e com os pais em Leiria, a assessora da ministra da Cultura diz que vai tentando compensar com várias iniciativas ligadas à protecção ambiental. Por outro lado, raramente compra roupa. Prefere reciclar e comprar em segunda mão e opta ainda pelas embalagens não descartáveis e reutiliza tudo o que pode.

Consumismo: A roupa é do mais poluente que há

Pedro Faria, administrador da Sival, empresa de Leiria que está a celebrar 75 anos de vida, cresceu numa família com fortes tradições ligadas ao Natal. “O meu Natal, no antigamente, era muito similar ao de hoje, só mudaram os intervenientes. Reunimos em casa dos mais velhos, dos avós, na noite da Consoada, onde se juntam os netos, filhos e pais, ou seja, desde os bisavós aos bisnetos.”

Das poucas mudanças ocorridas, Pedro Faria salienta a grande quantidade de brinquedos que as crianças recebem hoje em relação ao passado, o que, na sua opinião, “é negativo pois desvaloriza o interesse de cada prenda”.

Claro que Pedro Faria oferece prendas aos cinco netos, deixando nas mãos das duas filhas a responsabilidade da escolha. “Há na nossa casa prendas úteis e brinquedos. Todas as crianças recebem coisas em exagero, quando eu era criança os meus pais tinham a preocupação de dar prendas, mas limitadas.”

“O Natal não é de todo amigo do ambiente. Envolve uma quantidade brutal de embalagens pouco ecológicas e, embora a sociedade tenha cada vez mais consciência de que tem de reciclar, não tem reduzido o número de embalagens em circulação”. As pessoas “deviam autocriticar-se, fazerem uma verdadeira guerra às embalagens, reduzindo a sua utilização e não continuarem com o disparate da guerra ao plástico, mas usarem embalagens recicláveis e reutilizáveis”.

Por outro lado, Pedro Faria não considera que o aumento do consumo nesta época seja necessariamente uma coisa má. “Sendo o Natal uma festa da família e da paz, é natural que as pessoas queiram demonstrar o seu afecto através de uma prenda”. O problema é se isso é levado ao exagero.

“As compras devem ser feitas em sintonia com a capacidade de cada um e não esquecendo que a prenda é um gesto. O consumo desenfreado e compulsivo é pouco amigo do ambiente. Hoje sabe-se, por exemplo, que a roupa é do mais poluente que há, tem um nível de poluição brutal, associado à poluição das microfibras, que é o que vai parar ao mar, entrando depois nas cadeias alimentares”.

O Natal não é o problema maior, as festas de aniversário sim

Também Inês Faria, filha de Pedro Faria e directora da Sival Tubos e Perfis, tem uma consciência ecológica muito marcada e tenta sensibilizar os dois fillhos mais velhos para essa problemática. Não é fácil. Diz, contudo, que o Natal não é o problema maior, apontando as festas de aniversário como as inimigas do ambiente e das crianças.

“Instituiu-se que se devem convidar turmas inteiras para os anos, se todos derem presentes, são mais de vinte que o aniversariante recebe. Os convidados ainda levam para casa uma prenda oferecida por quem faz anos. É uma overdose de prendas, muitas repetidas, que não são valorizadas pelas crianças e são atiradas para um canto”, explica Inês, que resolveu não embarcar nessa prática, vincando a sua posição de rejeição ao desperdício.

Em pequena, Inês recebia prendas dos tios e dos avós, mas com contenção. “Hoje, é um exagero. Alguém, vem visitar e traz uma prenda. A diferença é que nós só recebíamos no Natal e era muito valorizado. Transtorna-me ir ao supermercado e darem aos meus filhos autocolantes ou cartas para coleccionar. É um crime ambiental, porque é para ir para o lixo, é material não reciclável.”

Inês e os três filhos continuam a receber presentes apenas da família mais próxima, com a vantagem de que as pessoas perguntam o que é preciso. “A minha avó gosta de oferecer os sapatos e faz questão que sejam comprados numa loja de rua. Depois são os presentes dos pais e da família, e o do Pai Natal, que vem no sapatinho no dia de Natal, pedido por eles, um lego ou um brinquedo do género.”

Inês reconhece que não é fácil educar os filhos no que toca aos presentes. “Vou tentando sensibilizá-los, guardando as prendas em excesso e distribuindo ao longo do ano, para aprenderem a valorizar.”

Reutilizar quando o ambiente não era problema

As inquietações ambientais são um fenómeno relativamente recente, mas que muitas famílias tiveram desde sempre boas práticas ecológicas no Natal, mesmo que sem essa intenção. A sua preocupação foi, desde sempre, com o desperdício. É o caso da família de Clara Leão. A professora de dança ainda hoje guarda, num pote de louça, em casa do pai, no Porto, “rolinhos da fitas dos presentes” feitos pela mãe.

Guardam uma história ou uma memória de um Natal diferente, onde Clara revive os momentos em que a mãe, na noite da Consoada, “calmamente retirava os nós das fitas e as dobrava em rolinhos muito direitinhos”. Também os papéis de embrulho eram guardados. “A minha mãe não tinha consciência da emergência climática que se vive hoje, tinha uma consciência natural para evitar o desperdício.”

Nada em casa de Clara Leão é, ainda hoje, desperdiçado. Os embrulhos são feitos com papel pardo fino e fio do Norte, ambos reutilizáveis, e as decorações de Natal são recicladas e raramente se repetem.

“Nunca fomos de grandes gastos. Quando éramos crianças, houve uma época de muitos brinquedos, mas depois os meus pais optaram por não comprar tantos porque os outros ainda estavam bons e davam para brincar.”

A lista de desejos surgiu ainda em criança. Os pais de Clara quiseram que os três filhos soltassem a imaginação, impelindo-os a colocar na lista presentes de todos os tamanhos. A tradição mantêm-se na família. Hoje, contém os presentes que todos desejam e precisam muito, sempre com preços modestos. Se houver um presente mais caro, há a opção de as pessoas se juntarem.

“Nunca se deram prendas só às crianças, isso é deseducá-las e concentrar nelas todas as atenções. Têm de perceber que fazem parte de uma família e não são o centro do mundo.”

Clara Leão passa a noite de Natal na sua casa, em Bucelas e segue, no dia 25, para o Porto. “Estamos ansiosos com o Natal, mais uma festa em família. Hoje, que já ninguém acredita no Pai Natal, cada pessoa tira um presente do saco, e ficamos todos à espera que a prenda seja desembrulhada, saboreada e curtida. Não há aquela confusão de presentes a ser desembrulhados sem que se dê atenção ao momento.”

 

Etiquetas: ambientenatalpresentessociedade
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