Depois de a EDP Renováveis ter anunciado na semana passada a ligação à rede do seu primeiro parque híbrido a nível global e o primeiro da Península Ibérica, no Sabugal, com capacidade para produzir 20 Megawatts (MW), entre energia eólica (11 MW) e solar (9 MW), eis que a Câmara da Nazaré recebe agora um pedido de informação prévia por parte de uma empresa que pretende avançar com um parque híbrido, em Fanhais, com quatro vezes mais capacidade instalada do que aquele que foi construído no distrito da Guarda.
Dada a magnitude do projecto Nazaré Green Hydrogen Valley (NGHV) e porque este visa instalar-se em zona florestal, a autarquia não quer para já pronunciar-se, até ser esclarecida sobre todos os impactos que tal estrutura poderá ter.
A intenção é criar no concelho um parque híbrido composto por 40 MW de produção eléctrica renovável, com recurso a torres eólicas, mais 40 MW de produção eléctrica renovável, através de sistema fotovoltaico, totalizando 80 MW de capacidade instalada. E, segundo [LER_MAIS]a Divisão de Planeamento Urbanístico da autarquia, a produção de energia eléctrica limpa, com origem em fontes renováveis, destina-se a “alimentar uma unidade de produção de hidrogénio a instalar na área do Município da Marinha Grande”.
A Divisão refere que a zona onde a empresa prevê instalar-se é “espaço florestal”. E uma vez que “nas condições actuais o Plano Director Municipal da Nazaré não permite este tipo de instalação”, “caso se considere que o projecto tem interesse relevante quer para a economia local quer para a estratégia de neutralidade carbónica, pode o município promover os procedimentos necessários a que se possa viabilizar o projecto”.
Poderá fazê-lo ou pela “suspensão parcial do PDM e adopção de medidas preventivas” ou da “alteração pontual do PDM, que se poderia circunscrever ao regulamento”.
Entende ainda que se for salvaguardada faixa arborizada ao longo da EN242, o projecto pode ter “enquadramento urbano/paisagístico aceitável”.
Na última reunião do executivo, Maria Teresa Quinto, chefe desta Divisão, acrescentou que o projecto também poderá ter enquadramento no âmbito da revisão do PDM da Nazaré, que está em curso. Informou ainda o executivo de que a empresa Reganazaré também candidatou este projecto ao estatuto de Potencial Interesse Nacional (PIN) junto da Comissão Permanente de Apoio ao Investidor (CPAI) da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), tendo sido o Município da Nazaré convidado a participar na reunião com a CPAI, podendo votar pelo eventual reconhecimento do PIN.
Assim, o município decidiu não dar resposta à empresa sobre o seu pedido de informação prévia, até ser realizada a reunião com a CPAI, onde pretende trocar esclarecimentos com a AICEP e com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo.
Recorde-se que, no ano passado, o consórcio NGHV anunciava investimentos de mais de 100 milhões de euros para produzir hidrogénio verde, prevendo a instalação de electrolisador na zona industrial da Marinha Grande, abastecido por energia produzida em parque solar na Nazaré.
Do entusiasmo à apreensão
Paulo Reis (vereador do PSD, engenheiro electrotécnico, que profissionalmente opera na área dos painéis fotovoltaicos) não escondeu o seu “entusiasmo” do ponto de vista técnico com este projecto, que pode criar na Nazaré um dos parques híbridos mais potentes do País. Mas quer saber qual será a área de implantação da infra-estrutura, que medidas de mitigação da erosão dos solos vão ser tomadas e que compensações vão ser dadas ao município.
Afinal, para alcançar 80 MW, deverão ser necessários “161 mil painéis e oito, nove ou dez eólicas, dependendo da sua potência”, calculou o vereador.
Manuel Sequeira (PS) e Fátima Duarte (PSD) interrogaram-se sobre o facto de a instalação não estar prevista para a Marinha Grande, e João Paulo Delgado (CDU) defendeu que nenhuma decisão deve ser tomada sem auscultação popular.