As gravações no Palácio dos Ataídes, em Leiria, ocuparam um fim-de-semana no mês de Julho. Antes, o trabalho iniciado há cinco anos inclui mais de 200 horas dedicadas pelo maestro Mário Nascimento, só para arranjos.
O sexto álbum do coro Ninfas do Lis chega ao público no ano em que se comemora meio século da revolução de Abril, e, numa tentativa de fugir ao óbvio, dá a conhecer temas menos conhecidos do repertório de Zeca Afonso – é o caso de “Galinhas do Mato”, inspirada na infância em África, e “Tu Gitana”, com letra em castelhano extraída do Cancioneiro de Elvas, do século XVI.
O novo longa-duração também contém êxitos como “Índios da Meia Praia”, “Venham Mais Cinco”, “Era um Redondo Vocábulo”, “Canção de Embalar”, “No Comboio Descendente” (poema de Fernando Pessoa) e “Fui à Beira do Mar”. Já “As Sete Mulheres do Minho” e “Mulher da Erva” foram escolhidas “por fazerem referência ao universo feminino”.
Com poemas de Luís de Camões, surgem “Verdes São os Campos” e “Endechas a Bárbara Escrava”.
12 arranjos inéditos
“O maior desafio?” Segundo Mário Nascimento, “conseguir uma roupagem nova das músicas de Zeca Afonso sem instrumentos a acompanhar”. E o maestro elege “Era um Redondo Vocábulo” como tema favorito. “O texto até é difícil de compreender, é um texto surrealista, de quando o Zeca Afonso estava na prisão, mas musicalmente é uma música muito rica”.
Em declarações ao JORNAL DE LEIRIA em Julho do ano passado, Mário Nascimento reconhecia que “é impossível fugir à dimensão política e intervencionista” da obra de Zeca Afonso, mas na selecção de 12 temas – “tão bonitos e diversos entre eles” – o maestro respeitou o “gosto pessoal” e procurou canções “de carácter popular” que, também elas, evidenciam a qualidade do autor de “Grândola, Vila Morena” como cantor e compositor: “Sempre achei uma riqueza muito grande na música do Zeca Afonso. O ritmo, as harmonias, os próprios textos, as melodias, são riquíssimas”.
Depois de apresentações integrais no ciclo Ágora (castelo de Leiria) e no festival Folio em Óbidos, ambas em Outubro, o lançamento do disco Ninfas do Lis Cantam José Afonso, baseado em arranjos inéditos da autoria de Mário Nascimento, acontece no próximo sábado, 9 de Novembro, com concerto no Auditório José Vareda do Sport Operário Marinhense, na Marinha Grande, às 21:30 horas. Todas as peças são cantadas a capella e a três ou quatro vozes. Em algumas canções, existe percussão com pau de chuva, shaker ou palmas.
Próximos projectos
Para trás, ficam dois anos de ensaios e uma residência artística. Só a autorização dos detentores dos direitos demorou ano e meio. Pelo meio, o coro Ninfas do Lis, que conta com cerca de 30 elementos, gravou outros dois álbuns: Sing & Swing (2022) e Itinerantur (2023). E, por outro lado, enfrentou as condicionantes impostas pela pandemia de Covid-19.
“Orgulhamo-nos de dizer que temos tido sucesso nesta missão de aproximar a música coral do público em geral, com um repertório eclético e musicalidade que contagia qualquer um”, assinala a presidente do coro Ninfas do Lis, Alexandra Haran Nogueira. No percurso de 21 anos desde a fundação do agrupamento de Leiria composto inteiramente por vozes femininas destacam-se actuações na Casa da Música do Porto e no Palácio Nacional de Queluz.
Entretanto, o coro Ninfas do Lis vai começar a preparar o espectáculo O Coreto, com Rogério Charraz, e, ainda, um projecto de música medieval e uma parceria com a Ars Lusitanae.