No entanto, o guião que seguiram para as suas vidas acabou por separá-los à entrada da idade adulta e durante década e meia o contacto foi fugaz. Mas as redes sociais também servem para reatar contactos e foi assim que os dois se reaproximaram.
Luís partilhava imagens das competições em que participava e Ana começou a achar aquilo muito interessante. Curiosamente, tinham tudo que ver com as brincadeiras de miúdos e que por sistema ligavam a actividade física à natureza.
Ele sempre foi “obcecado” por desporto e nasceu com bicho-carpinteiro. Além das corridas de estrada, de montanha, das provas de bicicleta e tudo e mais alguma coisa, desde meados de 2016 que entrou no louco mundo dos… trails de obstáculos.
Está a ver o American Ninja Warriors, aquele programa insano da SIC Radical em que atletas de condição física invejável tentam ultrapassar obstáculos e por norma acabam encharcados? A base é a mesma, só que as provas a que Luís e Ana aderiram são disputadas em formatos mais longos.
Em média, uma prova de dez quilómetros terá cerca de 40 obstáculos, que tanto podem ser subir cordas, como trepar muros, subir por redes, escalar rochas, virar pneus, rastejar por túneis, saltar por cima de fogo e um sem-número de outros desafios intensos. E depois h´s os muito mais longos, denominados ultra-bestas…
[LER_MAIS] Antigo pára-quedista militar, Luís, de 37 anos, é, já, um dos principais competidores deste tipo de evento em Portugal. “A preparação física já a tinha, foi só adaptar-me às especificidades deste tipo de provas”, sublinha. Já foi a um Europeu – foi 33.º – e já está qualificado para o do próximo ano, na Dinamarca.
O mais incrível é que estando na modalidade há meio ano, também Ana Botas, de 38 anos, já garantiu o seu lugar nesse evento. “Ando no ginásio há 14 anos, fiz natação, roller derby e pole dance. Vi muitos vídeos para saber como eram os desafios e uma semana antes da qualificação participei numa prova, que ganhei com 11 minutos de vantagem sobre a segunda. Fiquei surpreendida, mas passei a acreditar. Uma semana depois, na prova de qualificação, consegui o meu objectivo.”
O problema para estes atletas, que são os únicos da região qualificados para o Europeu, é a dificuldade em fazer treino específico. A modalidade exige “agilidade, força, equilíbrio, resistência e muita gestão de esforço”, mas nem na Marinha Grande, nem nos concelhos adjacentes há um local próprio para corridas de obstáculos.
O que fazem? Passam muito tempo no ginásio e tentam encontram locais, como jardins ou parque radicais, onde consigam replicar os desafios que têm em prova.
O resto é uma questão de engenho. Luís Martins já tem um pneu de tractor em casa, já tem uma câmara-de-ar com 25 quilos de areia e só não tenta replicar todo um parque porque implicaria gastar dinheiro que não tem. Mas o ânimo não refreia. Continua a trabalhar com afinco, porque sonha em honrar o nome da Marinha Grande e do País ao Mundial.