É já esta quinta-feira que arranca, na capital do Paraguai, o Mundial de futebol de praia.
Portugal, que venceu em 2015, só entra em acção na sexta-feira, mas partiu para Assunção com a antecedência necessária para se adaptar às condições meteorológicas e aos efeitos nocivos do jet lag.
Entre os 12 jogadores convocados por Mário Narciso, para poder estar presente em tão distinto evento há um que deixa em suspenso uma vida paralela.
Uns passam os tempos livres a descansar, outros a falar com a família através das redes sociais e alguns distraem-se com as consolas. Depois, há Rúben Brilhante.
O nazareno tem 18 anos – fará 19 um dia após a final – e é o jogador mais novo entre os elementos de todas as 16 selecções presentes naquele país da América do Sul, e está cercado por livros e cadernos.
Durante o ano, todo o santo dia tem de fazer quilómetros atrás de quilómetros numa correria entre a Nazaré, onde reside e joga futebol de praia n’O Sótão, a Marinha Grande, onde é futebolista do Marinhense, e Leiria, cidade onde estuda.
“Tento conciliar a educação e o futebol e, por enquanto, estou a conseguir”, sublinha o estudante do segundo ano do curso de Engenharia Mecânica, no Politécnico de Leiria.
O benjamim assume-se “bom aluno”, mas admite que “não é fácil” harmonizar tanta actividade. Uma tarefa que só pode ser bem sucedida, também, com o apoio e compreensão da família.
“É o meu porto seguro. Estão presentes onde quer que eu vá jogar e sou um felizardo por ter pais como eles. Só lhes posso estar muito agradecido por tudo o que têm feito por mim.”
“Por vezes, torna-se um pouco cansativo, mas como quem corre por gosto não cansa, quero continuar a conciliar, sabendo que chegará o momento em que vou ter de escolher entre o futebol e o futebol de praia. Mas ainda não quero pensar nisso”, garante.
Nesta corrida diária, ainda para mais quando há estágios e competições pela selecção nacional de futebol de praia, há um colega, “o Ricardo”, que tem um papel decisivo para nada ficar para trás.
[LER_MAIS]“Não é fácil continuar a par da matéria que está a ser dada, mas com a ajuda dele tudo se torna mais fácil. Fornece-me sempre as matérias e ajuda-me muito quando não estou.”
Claro que quando chega de uma competição, Rúben Brilhante necessita de fazer um “esforço extra”. “Tenho de me actualizar nas matérias que perdi enquanto estive fora”, sublinha, até porque, admite, “primeiro que tudo está a escola”.
“Como é óbvio, existem certas exceções, quando estou em competição, por exemplo. Aí, tenho de me concentrar um pouco mais no futebol, sem nunca esquecer a escola. O meu objetivo é acabar o curso”, justifica. Por isso, não tem problemas em admitir que na mala para o Paraguai levou livros e cadernos escolares. “Disciplinas? De todas, para não perder o fio à meada.”
Nazaré
Este primeiro ano de Rúben Brilhante ao serviço da selecção nacional tem sido sucessos atrás de sucessos. Venceu os Jogos Europeus, em Minsk, o Mundialito, na Nazaré, e o Europeu, na Figueira da Foz.
Já para não falar da conquista do campeonato da 2.ª Divisão e consequente subida à Elite pel’O Sótão, clube onde começou a jogar aos 11 anos. Sim, é verdade. O miúdo joga no segundo escalão e mesmo assim tem direito a defender a equipa das quinas.
Agora, no Mundial, o objectivo não pode ser outro: “ganhar todos os jogos, qualquer que seja o adversário e sair do Paraguai como campeões do mundo”, atira.
“Acredito que temos qualidade suficiente para sairmos vitoriosos. Existem seis ou sete selecções que podem conquistar o título e o segredo vai estar na nossa união nos bons momentos mas, principalmente, nos maus momentos.”
Pessoalmente, quer “ajudar a equipa” e “aprender com os melhores”. Claro que ter como “ídolo” um conterrâneo e companheiro de equipa do melhor do Mundo só pode servir como “inspiração”.
“O Jordan é alguém por quem tenho uma grande admiração por tudo o que conquistou e, principalmente, pela pessoa que é.”
E apesar de o curso ser a prioridade, Rúben sonha chegar a profissional, como ele, e jogar nos emblemas mais importantes do planeta. “Sei que requer grande dedicação e muito trabalho, mas estou pronto para isso. Seria a realização de um sonho que quero muito atingir.”