No artigo anterior fiz uma pequena resenha da criação e evolução da CEE/UE desde o Plano de Schuman (1950) aos Tratados de Roma (1957) e ao Tratado de Maastricht (1992). Convém sublinhar que as raízes da ideia de uma Europa unida são milenares e têm emergido de tempos a tempos.
A sua concretização só acontece após a Guerra de 1939/45, devido à coragem inspiradora de meia dúzia de homens notáveis, de que cito apenas J. Monnet, R. Schuman, e K. Adenauer. O objectivo número um era que não houvesse mais guerras na Europa, o que foi conseguido nestes mais de 70 anos decorridos.
A Europa não só não se guerreou mais, como está bastante melhor do que nessa data. Se se observar a cronologia da evolução do espaço CEE/EU verificamos que o caminho trilhado tem sido geralmente percorrido em pequenos passos, como propunha J. Monnet, lembrando-se de que “Roma e Pavia não se fizeram num dia”.
Em Dezembro de 1969, na cimeira dos “seis” em Haia é mesmo recomendada (e adoptada) uma tripla regra cautelosa de “acabamento-aprofundamento-alargamento”. Olhando apenas o aspecto do alargamento, verifica-se que só em 1973 os seis passam a nove (os fundadores, mais Reino Unido, Dinamarca e Irlanda).
Em 1981 entra a Grécia e em 1986 entram Portugal e Espanha, passando a 12 Estados-membros (E-m), número que se manterá até à entrada da Áustria, Finlândia e Suécia, perfazendo 15 E-m.
Em 1999, 11 E-m, entre os quais Portugal, adoptavam a moeda única, o euro. Por não quererem ou não reunirem as condições necessárias, não entram o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia. Em resultado da queda do muro de Berlim e da extinção oficial da União Soviética, os países do Leste e Centro da Europa reivindicam o seu direito de regressar à Europa.
A Alemanha Oriental integra-se na Federal e, em 2004, ingressam na UE Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, e República Checa.
Juntamente com estes oito aderem também [LER_MAIS] Chipre e Malta. Só em 2007 entram a Bulgária e a Roménia e, finalmente, em 2013, entra a Croácia, chegando o número de E-m aos actuais 28, em vias de passarem em 2019 a 27 com a saída do Reino Unido.
De fora e (talvez) à espera ainda estão Islândia(?), Macedónia do Norte, Turquia, Sérvia, Bósnia, Montenegro, Kosovo, Albânia e, quiçá, Ucrânia e Bielorrússia, sem contar com o regresso arrependido do Reino Unido. Será que daqui a uma década vamos ter uma UE a 37 ou 38 E-m? Todos estes acontecimentos e previsões obrigaram a uma reforma institucional que, como se sabe, não tem sido fácil.
Como se isso não bastasse, veio a crise financeira, de 2010 aos nossos dias, afectando primeiro a Grécia, depois a Irlanda e a seguir Portugal. Os remédios adoptados foram errados e baseados em decisões que em grande parte ainda agravaram mais as coisas (a austeridade mata!) e acentuaram as clivagens entre os E-m do Norte (ricos e “trabalhadores”) e os do Sul (pobres e “preguiçosos”), mercê de preconceitos que ainda persistem.
Portugal, honra lhe seja feita, inverteu a situação, revertendo a austeridade cega e burra num crescimento cuidadoso e inteligente. Hoje temos um português na presidência do Eurogrupo e Portugal, de algum modo, recupera o seu papel de “bom aluno” com influência acrescida em Bruxelas. (Continua)
*Economista