A UE, ao longo destes seus 61 anos de vida, nunca deixou de ter problemas no seu processo de evolução. No próximo artigo tratarei de alguns destes aspectos que muitos apelidam de conturbados.
Hoje vou tratar do “nós”, mostrando algumas das vantagens que resultam da nossa pertença, à Europa (UEM). Vejamos, em primeiro lugar, e em linhas gerais, o que é ser “cidadão europeu “.
É poder viver e trabalhar em 32 países ao abrigo da livre circulação, poder viajar sem fronteiras entre 26 países do acordo Schengen, usar a mesma moeda em 19 países (a prazo em 27) e usar documentação padronizada para identificação, ir ao médico e conduzir.
É também beneficiar de vantagens e garantias, tais como usar telemóvel à vontade, consumir água limpa e beneficiar de apoio financeiro para projectos de investimento. É ainda usar os seus direitos fora do país para votar e ser eleito, pedir apoio consular, queixar-se à Comissão, à Provedoria da UE e ao Tribunal Europeu de Justiça.
É, por último, beneficiar de uma vasta legislação comum de mais de 17 mil directivas, resoluções, decisões e tratados em vigor na EU.
Quando Portugal entrou na UE, em 1986, o nosso PIB (a preços constantes) era de 99 mil milhões de euros; em 2017, apesar de uma crise mal gerida, esse valor é de 193 mil milhões, isto é, quase duplicou.
Em 1986 o salário médio nacional, a preços de 2016, era de 701 euros, em 2016 era 1108 euros. Em 1990 tínhamos 1,8 milhões de automóveis e em 2015 eram 4,5 milhões. Vivem e trabalham na União mais de 1,5 milhões de [LER_MAIS] portugueses com regalias iguais ou melhores que as que teriam cá.
Portugal importa e exporta de e para a UE, sem pagamento de direitos e sem riscos cambiais, cerca de 75% do seu comércio externo de bens e serviços. Portugal é o 14º Estado membro contribuinte para o orçamento europeu, com 1825 milhões de euros no último ano.
Mas somos um recebedor líquido, recebemos muito mais do que pagamos. Podia também enumerar aqui outros indicadores que mostram que o nosso comportamento nestes 32 anos de integração não foi tão satisfatório como os já indicados.
Põe-se sempre a questão de saber se não seriam ainda piores se não tivéssemos aderido. Estou certo de que sim. Perante estas considerações, os detractores da UE dirão sempre que estaríamos melhor se não tivéssemos entrado e, principalmente, se ainda estivéssemos no escudo.
Seria ocasião para lhes perguntar por que razão ainda estão tantos países e alguns milhões de refugiados a baterem-nos à porta para entrar. E para os mais radicais desta forma de pensar, diria que o fim da UE seria uma tragédia.
Por tudo isto e outros motivos sem espaço para referir, uma confortável maioria da nossa população gosta da UE e acredita que os nossos interesses são por ela tidos em conta. Em Portugal um referendo para sair seria sempre inexpressivo. E percebe-se porquê.
Por tudo o que se disse atrás e pela consciência clara de que um país de economia ainda frágil, periférico e pequeno como Portugal, fora da União não valia nada. Aliás, todos os países comunitários são pequenos fora dela.
Mesmo os grandes, como a França ou a Alemanha que, sendo grandes para a Europa, são pequeninos para o mundo. O Reino Unido, que em breve nos vai deixar, não tardará a reconhecer isso. (continua)
*Economista